A produção francesa Encontros
é daqueles filmes que não reinventam a roda, nem tem nada a dizer que já não
tenhamos ouvido antes, mas ainda assim é carismático o bastante para render uma
boa sessão. A trama acompanha paralelamente dois personagens: Remy (François
Civil) e Mélanie (Ana Girardot). Remy está prestes a ser demitido porque o
galpão em que trabalha irá se tornar completamente automatizado, seus colegas
já estão ficando sem emprego, mas ele tem uma chance de manter empregado em
outra função e sofre com a ansiedade da mudança e também com a solidão de sua
vida. Mélanie trabalha com pesquisa biomédica e também passa por ansiedade no
trabalho, além da solidão que experimenta em seu apartamento. Os dois não
sabem, mas moram em prédios vizinhos e tem muito em comum um com o outro.
A narrativa trata da solidão experimentada por quem vive em
grandes metrópoles como Paris, assim como o preconceito que muitas pessoas tem
em procurar terapia e os benefícios para a saúde mental que se pode obter a
partir desse tipo de tratamento. Na verdade, em muitos momentos, parece um
grande vídeo educativo para instruir a audiência sobre os benefícios da
terapia. Há também um comentário sobre redes sociais e o paradoxo no qual elas
operam, facilitando nossa conexão com centenas de pessoas, mas ainda assim não
conseguindo aplacar nossa solidão, muitas vezes nos fazendo sentir ainda mais
sozinhos.
Já vimos todos esses temas sendo abordados em muitos outros
filmes e o texto nunca faz nada para oferecer qualquer coisa diferente do que o
cinema já nos disse sobre esses temas: que viver em uma grande cidade pode ser
solitário, que não é fraqueza ou loucura precisar de ajuda com a saúde mental e
que é preciso estar feliz e confortável consigo mesmo antes de conseguirmos ser
felizes ao lado de outra pessoa. Como diz o título original do filme, é preciso
“dois eus”, duas pessoas plenamente cientes de si mesmas, do que querem, de
seus vícios e virtudes, para formar um “nós”.
A trama segue sem grandes arroubos dramáticos construindo os
dilemas dos personagens de maneira bem naturalista e isso ajuda a nos
identificarmos com eles, já que as situações pelas quais os dois passam podiam
ter sido vivenciadas por qualquer um de nós (muitas já foram, inclusive). O
progresso de Remy na terapia é denotado pela mudança em seu figurino em cada
sessão. Se no início ele senta com um casaco fechado, conforme a trama progride
o vemos com menos camadas de roupa a cada sessão, como se o personagem fosse se
abrindo e removendo suas defesas ao longo do processo.
Outro acerto do filme é o equilíbrio que consegue construir
entre drama e comédia, nos fazendo sentir o peso emocional dos traumas de Remy
e Mélanie ao mesmo tempo em que nos faz rir de suas desventuras amorosas com
pessoas bem pitorescas, embora as vezes a trama pareça andar em círculos ao
redor desses desencontros. Aliás, falando em pitoresco, é preciso destacar a
figura do dono da mercearia que os dois frequentam, um sujeito que parece
sempre ter uma opinião ou observação sarcástica para dar sobre a vida dos
clientes que passam pelo seu estabelecimento. O desfecho acaba sendo
previsível, mas funciona por fazer tudo parecer um desenvolvimento natural da
jornada dos dois.
Ainda que repita várias ideias que já vimos antes, Encontros é uma mistura carismática
entre drama e comédia que examina os problemas de relações amorosas e a
necessidade de estarmos bem individualmente antes de podermos embarcar em um
relacionamento.
Nota: 6/10
Trailer
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