terça-feira, 1 de outubro de 2019

Crítica – Encontros


Análise Crítica – Encontros


Review – Encontros
A produção francesa Encontros é daqueles filmes que não reinventam a roda, nem tem nada a dizer que já não tenhamos ouvido antes, mas ainda assim é carismático o bastante para render uma boa sessão. A trama acompanha paralelamente dois personagens: Remy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot). Remy está prestes a ser demitido porque o galpão em que trabalha irá se tornar completamente automatizado, seus colegas já estão ficando sem emprego, mas ele tem uma chance de manter empregado em outra função e sofre com a ansiedade da mudança e também com a solidão de sua vida. Mélanie trabalha com pesquisa biomédica e também passa por ansiedade no trabalho, além da solidão que experimenta em seu apartamento. Os dois não sabem, mas moram em prédios vizinhos e tem muito em comum um com o outro.

A narrativa trata da solidão experimentada por quem vive em grandes metrópoles como Paris, assim como o preconceito que muitas pessoas tem em procurar terapia e os benefícios para a saúde mental que se pode obter a partir desse tipo de tratamento. Na verdade, em muitos momentos, parece um grande vídeo educativo para instruir a audiência sobre os benefícios da terapia. Há também um comentário sobre redes sociais e o paradoxo no qual elas operam, facilitando nossa conexão com centenas de pessoas, mas ainda assim não conseguindo aplacar nossa solidão, muitas vezes nos fazendo sentir ainda mais sozinhos.

Já vimos todos esses temas sendo abordados em muitos outros filmes e o texto nunca faz nada para oferecer qualquer coisa diferente do que o cinema já nos disse sobre esses temas: que viver em uma grande cidade pode ser solitário, que não é fraqueza ou loucura precisar de ajuda com a saúde mental e que é preciso estar feliz e confortável consigo mesmo antes de conseguirmos ser felizes ao lado de outra pessoa. Como diz o título original do filme, é preciso “dois eus”, duas pessoas plenamente cientes de si mesmas, do que querem, de seus vícios e virtudes, para formar um “nós”.

A trama segue sem grandes arroubos dramáticos construindo os dilemas dos personagens de maneira bem naturalista e isso ajuda a nos identificarmos com eles, já que as situações pelas quais os dois passam podiam ter sido vivenciadas por qualquer um de nós (muitas já foram, inclusive). O progresso de Remy na terapia é denotado pela mudança em seu figurino em cada sessão. Se no início ele senta com um casaco fechado, conforme a trama progride o vemos com menos camadas de roupa a cada sessão, como se o personagem fosse se abrindo e removendo suas defesas ao longo do processo.

Outro acerto do filme é o equilíbrio que consegue construir entre drama e comédia, nos fazendo sentir o peso emocional dos traumas de Remy e Mélanie ao mesmo tempo em que nos faz rir de suas desventuras amorosas com pessoas bem pitorescas, embora as vezes a trama pareça andar em círculos ao redor desses desencontros. Aliás, falando em pitoresco, é preciso destacar a figura do dono da mercearia que os dois frequentam, um sujeito que parece sempre ter uma opinião ou observação sarcástica para dar sobre a vida dos clientes que passam pelo seu estabelecimento. O desfecho acaba sendo previsível, mas funciona por fazer tudo parecer um desenvolvimento natural da jornada dos dois.

Ainda que repita várias ideias que já vimos antes, Encontros é uma mistura carismática entre drama e comédia que examina os problemas de relações amorosas e a necessidade de estarmos bem individualmente antes de podermos embarcar em um relacionamento.

Nota: 6/10


Trailer

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