terça-feira, 29 de outubro de 2019

Crítica – Meu Nome é Dolemite


Análise Crítica – Meu Nome é Dolemite


Review – Meu Nome é Dolemite
A realidade às vezes pode ser mais estranha que a ficção e as histórias sobre a produção de determinados filmes podem ser tão ou mais interessantes que os filmes em si. Tim Burton mostrou isso em Ed Wood ao biografar o “pior diretor do mundo”, James Franco reforçou isso ao contar a história da realização do infame The Room em O Artista do Desastre e este Meu Nome é Dolemite faz isso por Rudy Ray Moore e seus filmes de blaxploitation.

Rudy (Eddie Murphy) é um homem de meia idade que tentou vencer no ramo do entretenimento, mas não conseguiu encontrar sucesso nem como músico nem como comediante de stand-up. Sua sorte muda quando ele decide gravar as rimas que ouve nas ruas sobre um personagem chamado Dolemite e resolve se apresentar com essa persona cômica que fala através de rimas sobre proezas físicas e sexuais.

O percurso do protagonista toca em temas como o da representatividade, da importância das pessoas em se verem representadas nas telas e não se sentirem invisíveis. Trata também das disputas discursivas entre a cultura popular e a cultura hegemônica, com a cultura popular constantemente sendo rebaixada pela elite por ser considerada vulgar ou pobre por não se adequar a padrões pré-determinados de “bom gosto”.


O filme inclusive mira na hipocrisia de exaltar uma comédia “para a família” numa cena em que a tia de Rudy elogia o comediante Bill Cosby por sua linguagem limpa, sendo que hoje Cosby está preso por ter cometido dezenas de estupros. Cosby, inclusive é um notório desafeto de Eddie Murphy no mundo real, já que Cosby sempre criticou a comédia de Murphy por ser “suja”, então é fácil compreender o que atraiu Murphy a viver Rudy.

O problema é que o filme nunca se compromete com nenhum desses temas ou mesmo com o desenvolvimento do protagonista. Apesar de alguns vislumbres sobre o passado de Rudy e sua relação complicada com o pai, a narrativa, assim como aconteceu em O Artista do Desastre, prefere focar nas histórias alopradas dos bastidores da realização fílmica e no aspecto edificante da história de um homem que conseguiu sucesso apesar das adversidades. É uma ode ao poder da arte e à sua capacidade de envolver e fascinar.

Além da história em si ser bastante curiosa o que faz tudo funcionar é seu elenco de personagens pitorescos. Murphy confere uma grande energia a Rudy e faz dele um sujeito que não tem medo de abraçar o ridículo para fazer sucesso ao mesmo tempo em que dá breves vislumbres de sua insegurança e fragilidade (que o roteiro lamentavelmente não explora). Além de Murphy, Wesley Snipes surpreende como o afetado e egocêntrico D’Urville, um papel bem diferente do que o ator costuma fazer. A eles somam-se nomes como Craig Robinson, Keegan Michael Key e Titus Burgess como membros da entourage de Rudy.

Meu Nome é Dolemite diverte pela sua história insólita e pela energia de Eddie Murphy no papel principal, mas fica a impressão de que o material poderia render algo mais.

Nota: 7/10


Trailer

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