O diretor Martin Scorsese levou mais de uma década para
finalmente conseguir filmar a biografia do mafioso Frank “O Irlandês” Sheeran
e, de certa forma, é bom que ele tenha demorado tanto. Em geral, filmes que
passam muito tempo no “limbo do desenvolvimento” tendem a passar por múltiplos
tratamentos de roteiro, roteiristas e diretores ao ponto em que quando
finalmente são lançados, o resultado é uma colcha de retalhos sem
personalidade, vide o recente Projeto Gemini, mas não é o caso neste O Irlandês.
Aqui Scorsese demonstra um olhar bem maduro, talvez fruto do
tempo trabalhando no filme, talvez pelo seu próprio momento como cineasta, agora
já veterano e no pleno domínio de seu ofício. Se em Os Bons Companheiros (1990) Scorsese falava sobre a glamourização
da vida de mafioso, aqui seu olhar é plenamente desglamourizado. Tal qual o
protagonista, o olhar de Scorsese tem uma certa melancolia e distanciamento
analítico. É o olhar de alguém com muita experiência de vida e que consegue
olhar para o passado pelo que ele é e não pelas lentes da nostalgia.