Crítica – Between Two Ferns: O Filme

A graça da websérie Between Two Ferns (algo como Entre Duas Samambaias em português, uma referência ao cenário do programa, gravado entre duas samambaias) é o modo como ela brinca com clichês de talk shows de celebridades. No programa, o ator Zach Galifianakis conduz entrevistas da pior maneira possível, sendo propositalmente rude e inconveniente com seus convidados, que estão cientes da brincadeira, diga-se passagem. Toda a bizarrice do programa é feita para mostrar a artificialidade dessas conversas aparentemente espontâneas de talk shows. Assim, ao transformar a série em um longa com Between Two Ferns: O Filme parecia lógica a opção por fazer tudo como se fosse um falso documentário de bastidores para mostrar também a artificialidade do cinema.

Na trama, depois que um vazamento destrói o estúdio no qual Zach (interpretando a si mesmo) gravava o programa, ele é obrigado a pegar a estrada para gravar seu programa diretamente na casa das celebridades para conseguir cumprir o número de programas estabelecido por contrato com o produtor Will Ferrell (também interpretando a si mesmo).

A estrutura de road movie é muitas vezes usada para disfarçar a falta de uma trama ou arcos dramáticos consistentes e é exatamente isso que acontece aqui. A sensação é que alguém pegou vários episódios da websérie, filmou alguns segmentos de trama para encaixar ao redor dos episódios, montou tudo junto e pronto, entregou o filme. A sensação é de algo desconjuntado, episódico, no qual os segmentos nunca se somam para formar um todo coeso.

Zach e a equipe que o acompanha durante as filmagens não tem muito objetivo ou motivação além de finalizar os episódios. Os personagens são vagamente definidos e muitas vezes reduzidos a uma única piada, como a operadora de áudio que é sempre alvo de flerte das celebridades convidadas, que rapidamente se tornam repetitivas.

Galifianakis interpreta uma versão exagerada de si mesmo, algo similar ao personagem que fez na trilogia Se Beber, Não Case, mas é uma persona que já ficou manjada para o ator e o filme não lhe dá muito que ele já não tenha feito antes. Sem falar que a falta de uma direção e uma narrativa melhor amarrada falham em explorar o lado mais absurdo e pitoresco do personagem.

O faz o filme minimamente render algumas risadas é justamente a presença das celebridades, elas também interpretando versões surtadas, egocêntricas e caricaturais de si mesmas, muitas vezes se mostrando irritadas ou entediadas com as perguntas sem sentido de Zach. Além de Will Ferrell, é possível destacar as participações de Peter Dinklage, Jon Hamm, Hailee Steinfeld. Brie Larson ou Matthew McConaughey como “vítimas” do programa de Zach.

A questão é que essas falsas entrevistas estão distribuídas espaçadamente ao longo da projeção e o que há para preencher o tempo entre elas não é o suficiente para prender a atenção ou gerar risos. Teria sido melhor ter pego essas entrevistas e transformado em episódios da websérie para serem consumidas em vídeos de poucos minutos ao invés de costurar tudo em um longa de mais de uma hora e meia. Do jeito que está, os poucos risos oferecidos por Between Two Ferns: O Filme não são suficientes para justificar sua existência.

Nota: 4/10

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