A animação Dora a
Exploradora é famosa por seu caráter lúdico e educativo voltado a crianças
pequenas. Por conta disso, foi recebida com estranhamento a notícia de que a
animação seria adaptada para o cinema em live
action, com uma versão mais velha da protagonista e uma trama mais
aventuresca e próxima de algo como Indiana Jones. Afinal, uma personagem
voltada para um público ainda na infância conseguiria atrair um público
adolescente? Tendo assistido Dora e a
Cidade Perdida, a impressão é que o filme não sabe o que quer ser nem com
que público quer se comunicar.
A trama mostra Dora (Isabela Moner) já adolescente e tendo
que finalmente ir para a escola enquanto seus pais embarcam numa expedição para
encontrar uma antiga cidade inca que, segundo lendas, estaria repleta de ouro. Depois
de algum tempo, Dora perde o contato com os pais e acaba sendo sequestrada da
por um grupo de mercenários que estavam rastreando os pais de Dora e queriam
roubar o tesouro da cidade. Agora na selva, Dora e seus amigos precisam
encontrar os pais da protagonista e alcançar a cidade perdida antes dos vilões.
O filme tem dificuldade em decidir se vai se manter fiel a
elementos do desenho ou se vai abandonar tudo em prol de algo mais próximo do
mundo real. Os primeiros minutos, que mostram a infância da protagonista, falam
para o público que elementos do desenho, como animais e mochilas falantes,
estavam apenas na imaginação de Dora, dando a impressão de que o filme iria
retirar esses elementos e fazer algo mais próximo do nosso mundo e distanciado
dos elementos mais fantasiosos do desenho.
No entanto, quando Dora é capturada pelos vilões, vemos que
eles trabalham com a raposa falante Swiper (voz de Benicio del Toro), um
personagem que é visto e interage com todos os outros ao invés de Dora. Ou
seja, a raposa de fato existe e não é algo da imaginação da personagem apesar
do começo da narrativa ter explicitamente dito que esse tipo de coisa não
existia na história. A raposa soa deslocada do restante do filme e a presença
dela nunca é justificada, parecendo jogada de qualquer jeito só para
referenciar a animação original.
Aliás, a fita nunca decide se vai fazer graça e parodiar os
elementos do desenho ou vai aderir a eles. O início do filme, com Dora chegando
à escola, é dedicado a transformar em piada a conduta da personagem ao
contrastá-la com adolescentes normais, algo que lembra Meninas Malvadas (2004), também sobre uma garota criada por pais
exploradores precisando aprender traquejo social. O hábito de Dora em
transformar tudo em canções de cunho educativo também é constante alvo de
piadas, como na cena em que ela canta para uma colega sobre fazer cocô no mato.
Por outro lado, quando ela vai para a selva, elementos do desenho, como Swiper,
são inseridos sem um pingo de ironia e tratados como se a existência deles
fosse natural naquele universo.
A tentativa de fazer da trama uma aventura estilo Tomb Raider adolescente falha ao não
conseguir criar nenhuma sensação de perigo para os protagonistas ou estabelecer
os vilões como uma ameaça crível, fazendo eles serem facilmente superados ou
agindo como completos idiotas. Isso mais uma vez cria dúvida se o filme quer
ser algo mais infantil e pueril para crianças pequenas ou uma aventura mais
ágil para adolescentes de doze ou treze anos.
Quem consegue manter alguma consistência é o trabalho de
Isabela Moner como Dora, que consegue tornar crível a combinação de ingenuidade
infantil e extrema engenhosidade da personagem. Ela acredita em cada ação de
Dora, por mais absurda que seja e isso ajuda a nos conectarmos com a
personagem, que soa como alguém que poderia mesmo existir e que nas mãos de
alguém que não conseguisse passar a mesma credibilidade poderia fazer a
personagem cair facilmente em uma caricatura intragável. É por causa do
trabalho de Moner que toda a bagunça tonal do filme consegue ficar minimamente
coesa, ainda que ela sozinha não consiga suplantar todas as falhas do produto.
A despeito do trabalho carismático da atriz principal, Dora e a Cidade Perdida é prejudicado
pela falta de uma visão clara do que quer ser e do público com o qual quer se
comunicar. Se perdendo em um tom inconsistente e diferentes abordagens
narrativas.
Nota: 5/10
Trailer
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