domingo, 10 de novembro de 2019

Crítica – Doutor Sono


Análise Crítica – Doutor Sono


Review – Doutor Sono
Eu não fiquei muito empolgado quando este Doutor Sono, adaptação do romance de Stephen King que continua a história de Danny Torrance de O Iluminado, foi anunciado. Os trailers focavam mais em fazer referência a adaptação para cinema de O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, do que tentar delinear uma identidade própria e parecia mais um produto hollywoodiano planejado e formatado para explorar a nostalgia do espectador. O resultado final, porém, acaba sendo menos tributário ao filme de Kubrick do que eu esperava.

A trama se passa décadas depois dos eventos de O Iluminado. Danny Torrance (Ewan McGregor) agora é um alcoólatra em recuperação e trabalha como enfermeiro em uma clínica que atende pacientes terminais. Ele usa suas habilidades de “iluminado” para trazer conforto aos pacientes em seus últimos momentos e acaba sendo apelidado de “doutor sono”. Ao mesmo tempo, Danny começa a ter contato com outra garota iluminada, Abra Stone (Kyliegh Curran), e os poderes crescentes da garota chamam a atenção de um grupo de pessoas que vive de devorar as almas de iluminados. O grupo é liderado pela poderosa Rose (Rebecca Ferguson) e Danny precisa correr para manter Abra segura.

A narrativa se desenvolve sem pressa delineando com clareza os conflitos e problemas de Danny e Abra, bem como a estrutura de relações que ele constrói ao redor de si e, desta maneira, quando o conflito efetivamente irrompe e as pessoas começam a morrer, sentimos o peso de cada morte porque a narrativa nos deu tempo de conhecer aquelas pessoas e entender a importância delas para os personagens principais. Do meio para frente a história foca mais no jogo de gato e rato entre Abra e o culto liderado por Rose e o filme acerta no desenvolvimento do suspense e das tensões entre os dois lados.

Seria fácil fazer de Rose uma perseguidora irrefreável e Abra uma vítima em constante fuga, mas o filme consegue inverter a todo momento os papeis de caça e caçadora de modo a conferir um maior senso de imprevisibilidade quanto ao que pode acontecer. Os “duelos mentais” entre os personagens são retratados com enquadramentos angulosos e movimentos de câmera vertiginosos de modo a dar uma qualidade sobrenatural e fora do comum a essas imagens, dando também a dimensão da extensão dos poderes daquelas pessoas e o que elas sentem quando usam suas habilidades.

Se durante boa parte de sua duração o filme consegue trilhar um caminho próprio sem precisar se apoiar nas imagens e cenas chave do original, o final, no entanto, acaba se estendendo em referências que, em muitos casos, são meros fanservices. Claro, a ida ao Overlook Hotel faz sentido para a história, mas não era necessário inserir sustos súbitos (ou jump scares) com recriações de cenas importantes do filme de Stanley Kubrick, inclusive porque o elenco de sósias não consegue ter o mesmo impacto que o trabalho de Jack Nicholson, por exemplo.

Por conta desse excesso de referências, a vilã acaba sendo despachada rápido demais para dar lugar às mesmas assombrações do original. O que acaba sendo uma pena, já que Rebecca Ferguson consegue fazer de Rose uma presença simultaneamente magnética e assustadora. Os diálogos até dão pistas que a personagem tenha uma complexidade maior do que é mostrada (não li o livro, então não tenho como saber o que ficou de fora na adaptação) como quando ela menciona o sentimento de solidão na juventude, que ajudaria a dar mais nuance a Rose e tirá-la de ser uma mera feiticeira sombria.

Ainda assim Doutor Sono consegue ser um eficiente suspense e uma continuação digna para a história de Danny Torrance.

Nota: 7/10


Trailer

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