Pássaro do Oriente não
gasta tempo para estabelecer seu mistério principal. Depois de uma breve cena
da protagonista Lucy (Alicia Vikander) chegando ao trabalho, a polícia
prontamente entra no local procurando por ela. Um corpo foi achado na costa e
as autoridades acham que pertence a Lily Bridges (Riley Keough), desaparecida
há alguns dias e Lucy pode ter sido a última pessoa que a viu.
A pergunta “o que aconteceu como Lily?” é o fio condutor da
história, que se passa no Japão da década de oitenta e adapta o elogiado livro Earthquake Bird escrito por Susanna
Jones. A trama é contada do ponto de vista de Lucy enquanto testemunha para a
polícia sobre como conheceu Lily e como a amizade entre as duas foi erodindo.
A narrativa mistura uma história sobre investigação com um
suspense erótico e psicológico conforme mergulhamos na mente de Lucy para
entender como uma jovem sueca foi morar sozinha no Japão e o triângulo amoroso
que motivou o conflito entre Lucy e Lily.
Alicia Vikander é competente em tornar Lucy uma figura
ambígua. Ela é retraída e introspectiva, como se guardasse um grande trauma em
si. Ao mesmo tempo, é tão racional e metódica que por vezes soa como uma pessoa
fria. Nesse sentido, Vikander nos consegue nos deixar em dúvida se Lucy é
apenas uma jovem com dificuldades de sociabilidade ou uma psicopata fria capaz
de matar a melhor amiga por conta de um relacionamento amoroso.
Há uma clara oposição entre a retraída e controlada Lucy e a
personalidade festeira, expansiva e por vezes irresponsável de Lily. Como tudo
é narrado sob a ótica de Lucy, durante boa parte do filme ficamos em dúvida se
a proximidade que vai se desenvolvendo entre Lily e o namorado de Lucy, Teiji
(Naoki Kobayashi), é de fato um indicativo de traição ou se nada verdade são
apenas interações inocentes que Lucy considera como ameaça por Lily ser mais despojada
que a protagonista.
Tudo cria uma competente atmosfera de dúvida e suspense, mas
na hora de entregar as resoluções é que o filme desmorona. Todo o trauma
passado de Lucy é contado apenas através de diálogos, mas nunca visto, o que
nos impede de sentir peso desses eventos. Do mesmo modo, as respostas do que
aconteceu com Lily são dadas apenas de maneira superficial e nunca
compreendemos os elementos que motivaram o crime, principalmente porque o
culpado não tinha dado, até aquele ponto da trama, nenhum indicativo de que
seria capaz de cometer um ato como aquele, embora seu passado tenha sido
mostrado como algo misterioso.
Por mais que eu entenda que a trama é mais sobre o trauma de
Lucy do que sobre o desaparecimento de Lily, ainda assim esperamos que uma
narrativa que tenha um assassinato misterioso como espinha dorsal ao menos
explique as variáveis (quem, como e porquê) que envolvem o crime que o texto
usou para tentar prender nossa atenção. Como o filme sequer faz isso, toda a
revelação final sobre o destino de Lily fica sem impacto e mesmo as ponderações
sobre culpa e trauma não são suficientes para encerrar todo o filme de uma
maneira satisfatória.
Pássaro do Oriente
até consegue criar uma atmosfera de suspense, mas peca ao não conseguir amarrar
suas tramas e temas em um desfecho que consiga causar impacto.
Nota: 5/10
Trailer
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