terça-feira, 19 de novembro de 2019

Crítica – Pássaro do Oriente


Análise Crítica – Pássaro do Oriente


Review – Pássaro do Oriente
Pássaro do Oriente não gasta tempo para estabelecer seu mistério principal. Depois de uma breve cena da protagonista Lucy (Alicia Vikander) chegando ao trabalho, a polícia prontamente entra no local procurando por ela. Um corpo foi achado na costa e as autoridades acham que pertence a Lily Bridges (Riley Keough), desaparecida há alguns dias e Lucy pode ter sido a última pessoa que a viu.

A pergunta “o que aconteceu como Lily?” é o fio condutor da história, que se passa no Japão da década de oitenta e adapta o elogiado livro Earthquake Bird escrito por Susanna Jones. A trama é contada do ponto de vista de Lucy enquanto testemunha para a polícia sobre como conheceu Lily e como a amizade entre as duas foi erodindo.

A narrativa mistura uma história sobre investigação com um suspense erótico e psicológico conforme mergulhamos na mente de Lucy para entender como uma jovem sueca foi morar sozinha no Japão e o triângulo amoroso que motivou o conflito entre Lucy e Lily.

Alicia Vikander é competente em tornar Lucy uma figura ambígua. Ela é retraída e introspectiva, como se guardasse um grande trauma em si. Ao mesmo tempo, é tão racional e metódica que por vezes soa como uma pessoa fria. Nesse sentido, Vikander nos consegue nos deixar em dúvida se Lucy é apenas uma jovem com dificuldades de sociabilidade ou uma psicopata fria capaz de matar a melhor amiga por conta de um relacionamento amoroso.

Há uma clara oposição entre a retraída e controlada Lucy e a personalidade festeira, expansiva e por vezes irresponsável de Lily. Como tudo é narrado sob a ótica de Lucy, durante boa parte do filme ficamos em dúvida se a proximidade que vai se desenvolvendo entre Lily e o namorado de Lucy, Teiji (Naoki Kobayashi), é de fato um indicativo de traição ou se nada verdade são apenas interações inocentes que Lucy considera como ameaça por Lily ser mais despojada que a protagonista.

Tudo cria uma competente atmosfera de dúvida e suspense, mas na hora de entregar as resoluções é que o filme desmorona. Todo o trauma passado de Lucy é contado apenas através de diálogos, mas nunca visto, o que nos impede de sentir peso desses eventos. Do mesmo modo, as respostas do que aconteceu com Lily são dadas apenas de maneira superficial e nunca compreendemos os elementos que motivaram o crime, principalmente porque o culpado não tinha dado, até aquele ponto da trama, nenhum indicativo de que seria capaz de cometer um ato como aquele, embora seu passado tenha sido mostrado como algo misterioso.

Por mais que eu entenda que a trama é mais sobre o trauma de Lucy do que sobre o desaparecimento de Lily, ainda assim esperamos que uma narrativa que tenha um assassinato misterioso como espinha dorsal ao menos explique as variáveis (quem, como e porquê) que envolvem o crime que o texto usou para tentar prender nossa atenção. Como o filme sequer faz isso, toda a revelação final sobre o destino de Lily fica sem impacto e mesmo as ponderações sobre culpa e trauma não são suficientes para encerrar todo o filme de uma maneira satisfatória.

Pássaro do Oriente até consegue criar uma atmosfera de suspense, mas peca ao não conseguir amarrar suas tramas e temas em um desfecho que consiga causar impacto.

Nota: 5/10

Trailer

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