terça-feira, 26 de novembro de 2019

Crítica – Uma Segunda Chance Para Amar

Análise Crítica – Uma Segunda Chance Para Amar


Review – Uma Segunda Chance Para Amar
Pelo material de divulgação Uma Segunda Chance Para Amar parecia ser aquele tipo de comédia romântica feita para pegar carona no espírito natalino e passar mensagens positivas sobre família e relacionamentos. O resultado final é basicamente isso, embora suas tentativas de mexer com a fórmula não cheguem a funcionar exatamente.

A trama é centrada em Kate (Emilia Clarke), uma jovem aspirante a cantora cuja vida está um caos desde que ela teve um grave problema de saúde. Sua carreira como cantora não decola e ela está presa em um emprego sem futuro, trabalhando como vendedora em uma loja de produtos natalinos gerenciada pela dura Noel (Michelle Yeoh). A vida de Kate começa a mudar quando ela conhece Tom (Henry Golding) e a vida dela começa a mudar.

Tal como em Como Eu Era Antes de Você (2016), Emilia Clarke é adorável como uma jovem que não consegue dar um jeito na própria vida. Considerando a natureza caótica de Kate, seria uma personagem fácil de se tornar detestável nas mãos de uma atriz menos carismática, mas Clarke da a ela charme suficiente para que ela não seja só uma desastrada abestalhada. A atriz também consegue dar conta das facetas mais sérias da personagem, em especial a relação complicada que ela tem com a família ou no trauma por conta do problema de saúde pelo qual passou.

Clarke é auxiliada por um elenco coadjuvante igualmente carismático, em especial Michelle Yeoh como Noel, a chefe de Kate, e Emma Thompson como Petra, a rígida e excêntrica mãe da protagonista. As interações de Kate com as duas rendem alguns dos momentos mais engraçados do filme. A Noel ainda tem uma divertida subtrama romântica na qual ela se envolve com um cliente escandinavo de sua loja e o flerte entre os dois é um dos mais desajeitados da ficção desde Dona Florinda e Professor Girafales no Chaves.

Se em Podres de Ricos (2018) Henry Golding mostrou que era perfeitamente capaz de viver um “príncipe encantado” moderno, aqui o mesmo arquétipo não funciona tão bem para o ator. É menos culpa dele e mais do texto que transforma Tom em uma espécie de coach que precisa ficar o tempo todo dando lições de moral sobre como viver a vida, falando através de platitudes e frases de efeito forçadas.

Claro, há uma reviravolta que explica a conduta de Tom, mas essa revelação também tem sua parcela de problemas. O primeiro é o modo como o filme tenta explicar a lógica da reviravolta. O filme poderia simplesmente se colocar no domínio do realismo fantástico, mas ao invés disso escolhe mostrar flashbacks de cena do começo do filme que mostram uma determinada personagem sozinha. Significa que ela imaginou tudo? Como ela poderia imaginar alguém que não conhece? O transplante de órgãos é suficiente como explicação?

O segundo problema é que essa revelação dá uma guinada brusca no tom do filme. Se no começo tudo soava como uma típica comédia romântica, quando a revelação chega, a história se transforma em um drama que trata de questões muito específicas de doação de órgãos. Sim, a reviravolta é bem construída e as pistas são dadas desde o início, tanto que pude antever a revelação chegando lá pela metade do filme (o que não é um demérito para a trama, nesse caso eu é que fui atento), mas toda a divulgação do filme é feita para vender a ideia de um romance fofo e imagino que muitos podem se sentir traídos pela guinada que o filme dá.

Falando em divulgação, a publicidade faz questão de salientar que a trilha musical do filme é toda composta por canções de George Michael, porém essa decisão soa quase que inconsequente para a trama. A personagem diz em mais de uma ocasião que gosta do cantor, mas o filme nunca constrói uma conexão de fato entre Kate e a música de Michael como Guardiões da Galáxia (2014) constrói entre Peter Quill (Chris Pratt) e o rock da década de setenta, por exemplo. Por mais que a canção Last Christmas dê o título original ao filme e tenha alguma ressonância temática, isso não justifica a escolha de uma trilha musical só composta de canções do cantor.  Do jeito que está parece mais uma decisão de executivos de estúdio e gravadora para dar visibilidade e aumentar o faturamento das canções do finado músico, do que um elemento natural da trama.

A guinada também continua a maneira mastigada e pouco orgânica com a qual o filme passa suas mensagens sobre família, compaixão e caridade. São mensagens importantes e nos últimos tempos sinto que muitos filmes natalinos deixaram essas ideias de lado em prol de tratar apenas do cumprimento de metas e desejos pessoais, no entanto, fica a impressão em muitos momentos que o filme está pregando ao invés de dialogando conosco. Não fosse a capacidade do diretor Paul Feig em dosar essas lições com humor e o calor humano do elenco, o filme podia facilmente descambar para uma baboseira pseudointelectual e autoindulgente como Beleza Oculta (2016).

Assim, é por conta do carisma do elenco liderado por Emilia Clarke que Uma Segunda Chance Para Amar consegue divertir e emocionar, ainda que o filme pese a mão no modo como apresenta sua mensagem.

Nota: 6/10


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