segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Lixo Extraordinário – A Invasão das Rãs


Crítica – A Invasão das Rãs


Resenha Crítica – A Invasão das RãsLançado em 1972, A Invasão das Rãs é um dos maiores casos de propaganda enganosa do cinema. É um filme de terror cujo título menciona rãs (e o título em inglês é apenas Frogs, ou seja, sapos) e o pôster traz a imagem de um sapo com o que parece ser um braço humano saindo de sua boca. Isso dá a entender que veremos algo com sapos gigantes devorando pessoas, algo similar a A Noite dos Coelhos (1972), mas com sapos. Essa assunção, no entanto, se mostra completamente equivocada quando assistimos ao filme. Não só não existem gigantes na trama, todos são do tamanho normal de um sapo, como eles não matam ninguém.


A trama começa com o fotógrafo Pickett Smith (Sam Eliott) navegando de barco a remo por um pântano enquanto captura imagens das espécies que ali vivem e da poluição que chega ao ambiente. Pickett é derrubado de seu pequeno barco quando um casal de ricaços em uma lancha motorizada passam por ele em alta velocidade. Para se desculpar, os dois chamam Pickett para a ilha da família, próxima dali, na qual estão comemorando o aniversário de um de seus parentes.

Durante a primeira metade do filme praticamente nada acontece. Deveria ser o momento de conhecermos os personagens, os membros da tal família rica que irão eventualmente ser mortos, mas não há qualquer esforço de dar personalidade a esses sujeitos. O que vemos são mais de quarenta minutos de conversas avulsas sem qualquer resquício de intenção ou direcionamento da trama. A montagem alterna essas conversas com imagens de rãs se amontoando no pântano, como se fossem uma ameaça à espreita.

A questão, como já mencionei, é que essas rãs pequenas não matam ninguém durante o filme. As pessoas são mortas por aranhas, lagartos, jacarés e até tartarugas, mas ninguém é morto por um sapo. Mesmo em uma produção tão vagabunda, esperava que pelo menos as mortes tentassem trazer algumas imagens bem construídas de gore conforme as vítimas iam morrendo, mas nem isso o filme consegue oferecer. As mortes são filmadas alternando entre closes dos personagens gritando e planos fechados dos animais que deveriam estar atacando esses personagens. Falo deveriam porque as imagens simplesmente mostram os bichos parados, sem fazer muita coisa, ou andando por uma superfície qualquer. Enfim, fazendo qualquer coisa menos efetivamente algo que pareça que eles estão matando alguém.

Incomoda também que a trama nunca consegue efetivamente comunicar o público sobre o que está acontecendo. Claro, compreendemos que a premissa básica é sobre a natureza se revoltar com a depredação causada pelo ser humano, dezenas de filmes de terror, tanto ruins quanto bons, já foram feitos com essa premissa. Não me refiro aos temas centrais, mas o que efetivamente acontece. Em uma cena, por exemplo, Pickett percebe que os telefones não estão funcionando e um dos ricos que mora na mansão sai de carro para verificar o que está acontecendo. Há uma tomada do personagem olhando para um poste com fios, mas nada nos diz se o poste foi danificado (a imagem inclusive não mostra fios caídos) nem quem teria danificado, então fica tudo solto e pessimamente explicado.

Em outros momentos os personagens agem de maneira completamente imbecil, como se efetivamente quisessem morrer. Há uma cena em que um dos ricaços entra na estufa da propriedade e lagartos começam a derrubar frascos de produtos químicos perigosos. Ao invés de correr para fora da estufa ao ver a nuvem de gás, o personagem corre em direção a ela para verificar o que estava acontecendo e obviamente morre sufocado. O desfecho faz ainda menos sentido. Depois de muitas mortes, Pickett e os membros sobreviventes da família decidem deixar a ilha, mas o patriarca, Jason (Ray Milland), um senhor em uma cadeira de rodas, opta por permanecer na mansão. A decisão do personagem em negar que exista perigo não faz o menor sentido, afinal ele viu um punhado de seus familiares morrerem, tudo comunicava a ele que o local era de fato perigoso e mortal, mas sem qualquer lógica o sujeito escolhe ficar. Ao fim, a mansão é tomada por pequenas rãs e Jason tem um enfarto ao ver os animais em sua sala de estar.

Sem qualquer senso de ritmo e com mortes desprovidas de qualquer impacto, A Invasão das Rãs não consegue atender nem a menor das expectativas que é capaz de suscitar em seu espectador.

Trailer