Lançado em 1972, A
Invasão das Rãs é um dos maiores casos de propaganda enganosa do cinema. É
um filme de terror cujo título menciona rãs (e o título em inglês é apenas Frogs, ou seja, sapos) e o pôster traz a
imagem de um sapo com o que parece ser um braço humano saindo de sua boca. Isso
dá a entender que veremos algo com sapos gigantes devorando pessoas, algo
similar a A Noite dos Coelhos (1972),
mas com sapos. Essa assunção, no entanto, se mostra completamente equivocada
quando assistimos ao filme. Não só não existem gigantes na trama, todos são do
tamanho normal de um sapo, como eles não matam ninguém.
A trama começa com o fotógrafo Pickett Smith (Sam Eliott)
navegando de barco a remo por um pântano enquanto captura imagens das espécies
que ali vivem e da poluição que chega ao ambiente. Pickett é derrubado de seu
pequeno barco quando um casal de ricaços em uma lancha motorizada passam por
ele em alta velocidade. Para se desculpar, os dois chamam Pickett para a ilha
da família, próxima dali, na qual estão comemorando o aniversário de um de seus
parentes.
Durante a primeira metade do filme praticamente nada
acontece. Deveria ser o momento de conhecermos os personagens, os membros da
tal família rica que irão eventualmente ser mortos, mas não há qualquer esforço
de dar personalidade a esses sujeitos. O que vemos são mais de quarenta minutos
de conversas avulsas sem qualquer resquício de intenção ou direcionamento da
trama. A montagem alterna essas conversas com imagens de rãs se amontoando no
pântano, como se fossem uma ameaça à espreita.
A questão, como já mencionei, é que essas rãs pequenas não
matam ninguém durante o filme. As pessoas são mortas por aranhas, lagartos,
jacarés e até tartarugas, mas ninguém é morto por um sapo. Mesmo em uma
produção tão vagabunda, esperava que pelo menos as mortes tentassem trazer
algumas imagens bem construídas de gore
conforme as vítimas iam morrendo, mas nem isso o filme consegue oferecer. As
mortes são filmadas alternando entre closes
dos personagens gritando e planos fechados dos animais que deveriam estar
atacando esses personagens. Falo deveriam porque as imagens simplesmente
mostram os bichos parados, sem fazer muita coisa, ou andando por uma superfície
qualquer. Enfim, fazendo qualquer coisa menos efetivamente algo que pareça que
eles estão matando alguém.
Incomoda também que a trama nunca consegue efetivamente
comunicar o público sobre o que está acontecendo. Claro, compreendemos que a
premissa básica é sobre a natureza se revoltar com a depredação causada pelo
ser humano, dezenas de filmes de terror, tanto ruins quanto bons, já foram feitos
com essa premissa. Não me refiro aos temas centrais, mas o que efetivamente
acontece. Em uma cena, por exemplo, Pickett percebe que os telefones não estão
funcionando e um dos ricos que mora na mansão sai de carro para verificar o que
está acontecendo. Há uma tomada do personagem olhando para um poste com fios,
mas nada nos diz se o poste foi danificado (a imagem inclusive não mostra fios
caídos) nem quem teria danificado, então fica tudo solto e pessimamente
explicado.
Em outros momentos os personagens agem de maneira
completamente imbecil, como se efetivamente quisessem morrer. Há uma cena em
que um dos ricaços entra na estufa da propriedade e lagartos começam a derrubar
frascos de produtos químicos perigosos. Ao invés de correr para fora da estufa
ao ver a nuvem de gás, o personagem corre em direção a ela para verificar o que
estava acontecendo e obviamente morre sufocado. O desfecho faz ainda menos
sentido. Depois de muitas mortes, Pickett e os membros sobreviventes da família
decidem deixar a ilha, mas o patriarca, Jason (Ray Milland), um senhor em uma
cadeira de rodas, opta por permanecer na mansão. A decisão do personagem em
negar que exista perigo não faz o menor sentido, afinal ele viu um punhado de
seus familiares morrerem, tudo comunicava a ele que o local era de fato
perigoso e mortal, mas sem qualquer lógica o sujeito escolhe ficar. Ao fim, a
mansão é tomada por pequenas rãs e Jason tem um enfarto ao ver os animais em
sua sala de estar.
Sem qualquer senso de ritmo e com mortes desprovidas de
qualquer impacto, A Invasão das Rãs não
consegue atender nem a menor das expectativas que é capaz de suscitar em seu espectador.
Trailer
Clássico
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