Eu não sei por onde começar a
falar de 11 de Setembro: O Resgate.
Um projeto tão equivocado e que trata de modo tão aproveitador uma tragédia
real que me surpreendo que parentes das vítimas não tenham protestado contra
esse filme, embora suspeito de que seja porque a maioria das pessoas sequer
saiba que ele exista e talvez seja melhor assim.
A trama se passa durante os
atentados de 11 de setembro de 2001 no qual as torres gêmeas do World Trade
Center em Nova Iorque foram derrubadas por um ataque terrorista. Apesar de se
basear em uma história real, a narrativa segue um grupo de personagens
fictícios que fica preso em um dos elevadores durante o ataque às torres. Jeff
(Charlie Sheen), Eve (Gina Gershon), Eddie (Luis Guzman), Michael (Wood Harris)
e Tina (Olga Fonda). Enquanto estão presos no elevador, eles conversam com a
supervisora de segurança Metzie (Whoopi Goldberg), que tenta encontrar um jeito
de tirá-los de lá.
É impressionante que um filme
sobre pessoas tentando sobreviver a um desastre iminente consiga ser tão chato.
Os personagens são unidimensionais, funcionando como uma coleção de clichês,
tipo o rico empresário que não presta atenção na família, o trabalhador
simplório que só quer voltar para a família, a patricinha materialista, o
sujeito com problemas de vício (em jogos de azar, nesse caso) e daí por diante.
Eles trocam confidências sobre seus problemas, como uma espécie de Clube dos Cinco (1985) adulto, mas o
texto nunca vai além desses dados expositivos. Não há praticamente nenhum
aprendizado ou transformação experimentado por esses personagens e todos eles
são um tédio de acompanhar.
O filme também não apresenta
nenhum esforço de construir uma atmosfera de tensão, já que os eventos
simplesmente acontecem sem qualquer tipo de construção que deixe o espectador
apreensivo pelo que pode acontecer. Em nenhum momento é dito que há fumaça
entrando no elevador, até que, do nada, o elevador está tomado por fumaça.
Durante hora nenhuma a trama nos informa que os cabos dos elevadores estão
cedendo, até que simplesmente o filme nos mostra os cabos partindo. Como isso
não foi sendo apresentado aos poucos e de maneira que o público pudesse criar
expectativas quanto ao que poderia acontecer, é praticamente impossível sentir
tensão. Sentimos alguma surpresa quando esses eventos simplesmente acontecem
“do nada”, mas mesmo isso não faz muito para que nos conectemos com o drama da
situação.
Além de momentos inanes de tensão
a narrativa tenha preencher sua curta duração (menos de 90 minutos) com uma
série de eventos que em nada repercutem ou desenvolvem aquelas pessoas. Um exemplo
é o fato de Eve conseguir falar com a mãe no telefone e pede a ela que ligue
para as famílias de Eddie e Michael. Esses telefonemas, no entanto, não nos
mostram nada além de imagens das famílias desses personagens chorando diante
das televisões que noticiam o atentado e essas cenas poderiam ter
tranquilamente removidas sem que perdêssemos nada de importante.
Do mesmo modo, o filme gasta
minutos consideráveis mostrando imagens de arquivos de reportagens explicando o
que aconteceu, como a coletiva de imprensa do então presidente George W. Bush,
sendo que este é um evento que ainda permanece na memória do país, não
precisando de tanto esforço assim para ser lembrado. Sem mencionar que manter
tudo na perspectiva daqueles personagens, que estão presos no local sem saber
direito o que está acontecendo poderia ser um modo de criar tensão.
A ideia de situar toda a trama
durante o 11 de setembro acaba não fazendo muita diferença e o filme poderia
ter qualquer outra tragédia, real ou fictícia, como pano de fundo. Poderia se
passar durante um terremoto ou um incêndio em qualquer arranha-céu que os
eventos em si não se alterariam em nada. O texto não tem nada a dizer sobre o
atentado, sobre o trauma coletivo causado por ele ou qualquer coisa similar e
mesmo a cartela de texto ao final homenageando as vítimas soa como uma
tentativa inócua de dar a impressão que o filme fez alguma reflexão sobre
aqueles eventos. Na verdade, a impressão é que essa tragédia real serve
meramente como uma tentativa de criar uma muleta afetiva. Como todo o resto do
filme é vazio e sem personalidade, o atentado parece ser usado apenas como uma
forma de angariar simpatia pelos personagens e forçar o público a sentir alguma
coisa. Dessa forma o filme tem uma postura cínica e sensacionalista em relação
aos trágicos eventos reais que retrata.
Essa redução da tragédia do mundo
real a uma mera muleta dramatúrgica piora pelo fato de muitas vezes descambar
para o humor involuntário. As tentativas de chamar a atenção de um personagem
por sua fala racista ou a cena em que Eve, a esposa de um bilionário, tenta
ensinar a um entregador o que significa trabalhar duro certamente foram
pensadas para transmitir mensagens edificantes, mas são tão sem sentido,
contraditórias e sem noção que se tornam ridículas. O mesmo acontece com a cena
no qual vemos o elevador desabar e o filme nos dá uma tomada em câmera lenta
dos personagens flutuando no ar enquanto caem em alta velocidade, tudo
construído com uma computação gráfica pouquíssimo convincente. Deveria ser um
momento dramático, mas é tão tosco e exagerado que não conseguiu provocar outro
efeito senão risos.
Vazio, manipulativo,
sensacionalista e forçado, 11 de
Setembro: O Resgate é praticamente um insulto à memória das milhares de
pessoas impactadas por essa tragédia real. É daqueles filmes que os envolvidos
deveriam ter vergonha de sua participação.
Nota: 1/10
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