segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Crítica – 11 de Setembro: O Resgate


Análise Crítica – 11 de Setembro: O Resgate


Review – 11 de Setembro: O Resgate
Eu não sei por onde começar a falar de 11 de Setembro: O Resgate. Um projeto tão equivocado e que trata de modo tão aproveitador uma tragédia real que me surpreendo que parentes das vítimas não tenham protestado contra esse filme, embora suspeito de que seja porque a maioria das pessoas sequer saiba que ele exista e talvez seja melhor assim.

A trama se passa durante os atentados de 11 de setembro de 2001 no qual as torres gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque foram derrubadas por um ataque terrorista. Apesar de se basear em uma história real, a narrativa segue um grupo de personagens fictícios que fica preso em um dos elevadores durante o ataque às torres. Jeff (Charlie Sheen), Eve (Gina Gershon), Eddie (Luis Guzman), Michael (Wood Harris) e Tina (Olga Fonda). Enquanto estão presos no elevador, eles conversam com a supervisora de segurança Metzie (Whoopi Goldberg), que tenta encontrar um jeito de tirá-los de lá.

É impressionante que um filme sobre pessoas tentando sobreviver a um desastre iminente consiga ser tão chato. Os personagens são unidimensionais, funcionando como uma coleção de clichês, tipo o rico empresário que não presta atenção na família, o trabalhador simplório que só quer voltar para a família, a patricinha materialista, o sujeito com problemas de vício (em jogos de azar, nesse caso) e daí por diante. Eles trocam confidências sobre seus problemas, como uma espécie de Clube dos Cinco (1985) adulto, mas o texto nunca vai além desses dados expositivos. Não há praticamente nenhum aprendizado ou transformação experimentado por esses personagens e todos eles são um tédio de acompanhar.


O filme também não apresenta nenhum esforço de construir uma atmosfera de tensão, já que os eventos simplesmente acontecem sem qualquer tipo de construção que deixe o espectador apreensivo pelo que pode acontecer. Em nenhum momento é dito que há fumaça entrando no elevador, até que, do nada, o elevador está tomado por fumaça. Durante hora nenhuma a trama nos informa que os cabos dos elevadores estão cedendo, até que simplesmente o filme nos mostra os cabos partindo. Como isso não foi sendo apresentado aos poucos e de maneira que o público pudesse criar expectativas quanto ao que poderia acontecer, é praticamente impossível sentir tensão. Sentimos alguma surpresa quando esses eventos simplesmente acontecem “do nada”, mas mesmo isso não faz muito para que nos conectemos com o drama da situação.

Além de momentos inanes de tensão a narrativa tenha preencher sua curta duração (menos de 90 minutos) com uma série de eventos que em nada repercutem ou desenvolvem aquelas pessoas. Um exemplo é o fato de Eve conseguir falar com a mãe no telefone e pede a ela que ligue para as famílias de Eddie e Michael. Esses telefonemas, no entanto, não nos mostram nada além de imagens das famílias desses personagens chorando diante das televisões que noticiam o atentado e essas cenas poderiam ter tranquilamente removidas sem que perdêssemos nada de importante.

Do mesmo modo, o filme gasta minutos consideráveis mostrando imagens de arquivos de reportagens explicando o que aconteceu, como a coletiva de imprensa do então presidente George W. Bush, sendo que este é um evento que ainda permanece na memória do país, não precisando de tanto esforço assim para ser lembrado. Sem mencionar que manter tudo na perspectiva daqueles personagens, que estão presos no local sem saber direito o que está acontecendo poderia ser um modo de criar tensão.

A ideia de situar toda a trama durante o 11 de setembro acaba não fazendo muita diferença e o filme poderia ter qualquer outra tragédia, real ou fictícia, como pano de fundo. Poderia se passar durante um terremoto ou um incêndio em qualquer arranha-céu que os eventos em si não se alterariam em nada. O texto não tem nada a dizer sobre o atentado, sobre o trauma coletivo causado por ele ou qualquer coisa similar e mesmo a cartela de texto ao final homenageando as vítimas soa como uma tentativa inócua de dar a impressão que o filme fez alguma reflexão sobre aqueles eventos. Na verdade, a impressão é que essa tragédia real serve meramente como uma tentativa de criar uma muleta afetiva. Como todo o resto do filme é vazio e sem personalidade, o atentado parece ser usado apenas como uma forma de angariar simpatia pelos personagens e forçar o público a sentir alguma coisa. Dessa forma o filme tem uma postura cínica e sensacionalista em relação aos trágicos eventos reais que retrata.

Essa redução da tragédia do mundo real a uma mera muleta dramatúrgica piora pelo fato de muitas vezes descambar para o humor involuntário. As tentativas de chamar a atenção de um personagem por sua fala racista ou a cena em que Eve, a esposa de um bilionário, tenta ensinar a um entregador o que significa trabalhar duro certamente foram pensadas para transmitir mensagens edificantes, mas são tão sem sentido, contraditórias e sem noção que se tornam ridículas. O mesmo acontece com a cena no qual vemos o elevador desabar e o filme nos dá uma tomada em câmera lenta dos personagens flutuando no ar enquanto caem em alta velocidade, tudo construído com uma computação gráfica pouquíssimo convincente. Deveria ser um momento dramático, mas é tão tosco e exagerado que não conseguiu provocar outro efeito senão risos.

Vazio, manipulativo, sensacionalista e forçado, 11 de Setembro: O Resgate é praticamente um insulto à memória das milhares de pessoas impactadas por essa tragédia real. É daqueles filmes que os envolvidos deveriam ter vergonha de sua participação.

Nota: 1/10


Trailer

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