terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Crítica – As Golpistas


Análise Crítica – As Golpistas


Review – As Golpistas
Baseado em uma insólita história real, As Golpistas parece, na superfície, um daqueles filmes disposto a reduzir todo o acontecimento a puro entretenimento, mas felizmente não é isso o que acontece. A trama consegue encontrar uma boa dose de humanidade em suas personagens e entende a complexidade da situação em que elas estão.

A narrativa é centrada em Destiny (Constance Wu) uma jovem que se torna stripper quando precisa sustentar a avó. O dinheiro que ela ganha dançando mal dá para pagar as contas, já que, de tudo que ela recebe, várias pessoas da boate acabam levando uma parte. As coisas começam a mudar quando ela conhece a veterana Ramona (Jennifer Lopez) que a ensina a pegar clientes mais ricos. Anos depois, Destiny casa e tem uma filha, mas quando é deixada pelo marido, acaba tendo que voltar a ser stripper. Ramona, no entanto, propõe um novo esquema, de pegar clientes ricos, drogá-los e depois fazer cobranças de valores altos em seus cartões na boate, fazendo tudo parecer uma noitada de farra.

O filme vai aos poucos construindo o cotidiano de Destiny, mostrando como ela é explorada tanto pelos clientes, que sempre tentam passar dos limites, como pelos donos da boate que constantemente inventam novos meios para descontar o cachê que ela recebe. Isso ajuda a enquadrar as decisões de Destiny e Ramona como um ato de rebelião e subversão contra um sistema que as explora, virando a mesa ao explorarem os exploradores. O golpe também mostra como essas personagens viram o machismo contra os próprios homens, já que elas facilmente convencem as vítimas de que não houve nada de errado, que eles apenas beberam demais e gastaram demais na companhia de belas mulheres e deixando que os egos masculinos de seus alvos os façam pensar em si mesmos como grandes garanhões que apenas festejaram mais do que deveriam.

Apesar de exibir razões críveis para o comportamento das personagens, a trama não deixa de evidenciar que elas são também motivadas por pura ganância e consumismo nesse desejo de alcançar o “sonho americano”. A narrativa demonstra também como esse comportamento ganancioso e sem escrúpulo é o responsável pela derrubada do esquema. O texto lembra também de mostrar como, para algumas vítimas, o dinheiro roubado faz muita diferença e os problemas que as vítimas tem em decorrência do golpe. Desta maneira, o filme evita maniqueísmos fáceis, se recusando a fixar suas protagonistas como vilãs ou como anti-heroínas.

Esse reconhecimento da complexidade da situação também se reflete no modo como a narrativa trata a relação entre Destiny e Ramona. Seria fácil transformar Ramona em um obstáculo, já que a trama é praticamente toda contada sob o olhar de Destiny, mas o texto é inteligente ao evitar isso. Quando vemos Ramona agir de maneira cada vez mais irresponsável e ouvimos da repórter (Julia Stiles) que entrevista Destiny que as duas não se falam mais imaginamos que foi algo que Ramona fez, mas o filme vira nossas expectativas ao avesso ao mostrar o que realmente aconteceu. Apesar de Ramona ser construída como um risco, visto que ela fica cada vez mais gananciosa, a trama não perde de vista que a personagem tem um cuidado genuíno por Destiny e o quanto as duas se reconhecem uma na outra, ambas abandonadas, machucadas pela vida, fazendo o que é preciso para sobreviver. Por outro lado, o filme não deixa de ser uma típica história de ascensão e queda no mundo do crime.

Por ser a novata, Destiny serve como os olhos do público para o universo das boates de strip-tease, é sob o olhar dela que a história é enquadrada, mas quem mais se destaca acaba sendo Ramona. Jennifer Lopez rouba todas as cenas em que está com seu magnetismo pessoal e força, tornando compreensível que Ramona seja tão hábil em trapacear seus clientes. Além das duas, há um divertido elenco de coadjuvantes formado por nomes como a cantora Cardi B, Lili Reinhart (a Betty de Riverdale) e Madeleine Brewer (de The Handmaid’s Tale). O humor vem tanto das situações absurdas nas quais as personagens se colocam quanto de momentos mais sutis, como a breve hesitação da personagem de Julia Stiles em tomar uma bebida oferecida por Destiny.

As Golpistas tem uma estrutura de filme roubo bem típica, mas é elevado pelo elenco carismático e texto cuidadoso

Nota: 7/10

Trailer

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