O lançamento deste A Batalha das Correntes no cinema é um
daqueles casos que me deixa confuso quanto ao processo de decisão de algumas
distribuidoras brasileiras. Filmes celebrados, sucesso de público e crítica,
vencedores de prêmios muitas vezes chegam diretamente em home video (um dos
casos mais recentes foi Ex Machina),
enquanto grandes fracassos ignorados (merecidamente) por múltiplas instâncias
de recepção ocupam espaço precioso nas telas de cinema do Brasil.
A Batalha das Correntes se encaixa no segundo caso. Pronto para ser
lançado em 2017, o filme entrou num limbo de distribuição (como aconteceu com Amigos Para Sempre) depois que o
escândalo envolvendo o produtor Harvey Weinstein tomou as manchetes. Dois anos
depois, o filme, que tinha sido pensado para concorrer em festivais e
premiações, foi finalmente lançado e a recepção foi de pura apatia. Que um
filme que tenha demorado tanto para sair e tenha tido uma recepção tão morna
(merecidamente) seja lançado nos cinemas ao invés de serviços de streaming ou coisa assim não tem
justificativa. Principalmente quando produtos muito melhores sequer tem chance
de chegar a uma sala de cinema.
A trama é baseada na história
real da disputa entre Thomas Edison (Benedict Cumberbatch) e George
Westinghouse (Michael Shannon) a respeito de qual sistema elétrico iria
prevalecer no fornecimento de energia nos Estados Unidos. A disputa entre os
dois se desenvolveu ao longo de anos e envolveu ainda nomes como Nikola Tesla
(Nicholas Hoult).
Contando a história através de
reuniões envolvendo longas discussões sobre correntes, motores e polaridade, a
narrativa tem dificuldade em transformar a disputa entre esses dois homens em
uma matéria dramática envolvente, falhando em despertar empatia, criar drama,
intriga, tensão ou qualquer outro sentimento. A fita é inundada por uma
quantidade excessiva de diálogos expositivos que explicam não só a ciência com
a qual os personagens lidam (o que seria até compreensível), mas também os
sentimentos e pensamentos deles. Assim, a trama nos diz como eles se sentem,
mas nunca permite que efetivamente vejamos isso.
Provavelmente isso ocorre pelo
grande intervalo de tempo que a trama tenta cobrir, se movendo muito rápido e
deixando que anos transcorram entre uma cena e outra, conferindo a tudo um
caráter episódico e fragmentado. Personagens entram, saem ou morrem sem que
isso cause muito impacto ou repercussão. Outros, que possuem mais destaque,
desaparecem por um bom tempo e quando voltam já estão em um estado bem
diferente do que os vimos pela última vez. Um exemplo é o que acontece com
Tesla. O vemos ser enganado pelo seu sócio e perder tudo, mas minutos depois ele
está apresentando um novo motor elétrico sem que saibamos o percurso dele até
ali ou como saiu da falência.
Cumberbatch faz o mesmo tipo de
gênio antissocial que fez durante boa parte da última década (Sherlock, Doutor Estranho, O Jogo da Imitação, etc) e que a essa altura de sua carreira seria capaz de fazer até
dormindo. Claro, Cumberbatch está longe de ser ruim, mas o fato dele repetir
muito do que já o vimos fazer combinado a um texto que não passa da superfície
do personagem não dá muito com o que conquistar a audiência. O mesmo pode ser
dito do personagem de Michael Shannon.
A fotografia acerta no constante
uso de lens flares constantemente no
quadro, como que para transmitir o senso de uma visão ofuscada, descostumada
pelo brilho das lâmpadas elétricas, demonstrando como a eletricidade inundou de
luz aqueles ambientes que antes eram escuros. Mesmo esse tipo de decisão
estilística mais acertada faz pouco para conseguir a trama envolvente. O final
ainda derrapa em algumas questões de acuidade histórica ao dar a entender que
Thomas Edison foi o grande inventor do cinema quando, na verdade, ele também
perdeu “a batalha do cinema” para os irmãos Lumière, cujo cinematógrafo era mais
versátil, eficiente e móvel. Isso está conectado à ideia de supremacia do povo
estadunidense e os EUA contestam a história internacionalmente aceita em outros
campos também, como a insistência deles que foram os irmãos Wright, e não Santos
Dumont, quem inventou o avião.
A Batalha das Correntes acaba sendo um produto inane, que falha em
tornar uma rivalidade histórica em um drama envolvente, se perdendo em uma
narrativa difusa e superficial.
Nota: 4/10
Trailer
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