quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Crítica – Entre Facas e Segredos


Análise Crítica – Entre Facas e Segredos


Review – Entre Facas e Segredos
Apesar de ter se tornado conhecido com a ficção-científica Looper: Assassinos do Futuro (2012) e posteriormente por comandar Star Wars: Os Últimos Jedi (2017), o diretor Rian Johnson já mostrava familiaridade com narrativas policiais em seu primeiro longa-metragem: A Ponta de Um Crime (2005), no qual ele construía uma espécie de noir adolescente. Ele volta ao gênero com este Entre Facas e Segredos, mas ao invés do universo cinzento e bruto das correntes do noir ou do hard-boiled, ele faz algo que brinca com as histórias de detetives diletantes como Hercule Poirot ou Sherlock Holmes.

A trama começa como um típico “mistério do quarto fechado”, com o milionário romancista Harlan Thrombey (Christopher Plummer) sendo encontrado morto sozinho em seu quarto fechado no sótão de sua mansão. A polícia acredita ter sido suicídio, mas o consultor Benoit Blanc (Daniel Craig) suspeita de assassinato e reúne todos os membros da família para tentar descobrir o assassino.

É possível perceber o grande repertório de referências do gênero policial que Johnson exibe aqui, sendo possível identificar elementos de contos protagonizados pelo detetive Auguste Dupin, histórias de Sherlock Holmes ou de Hercule Poirot (dizer quais especificamente seria arriscar entregar spoilers). Apesar de ser possível identificar com clareza as bases do que Johnson faz aqui, seu trabalho nunca soa derivativo, exibindo uma personalidade própria e autoconsciência das estruturas manjadas que está evocando, sendo capaz de apontar os anacronismos desses lugares-comuns e fazer piada com eles. Nesse sentido, o filme acaba sendo simultaneamente uma celebração e uma paródia desses antigos clichês.

Daniel Craig, por exemplo, faz um detetive cheio de afetações, com um carregado sotaque do sul dos Estados Unidos e uma pecha por fazer ilações cheias de metáforas complicadas (todo o discurso sobre o mistério ser uma rosquinha é impagável). O personagem também carrega uma certa ambiguidade, deixando em dúvida se ele é de fato um detetive arguto e perspicaz ou apenas um bufão sortudo que não está vendo as pistas ao redor dele. Essa ambiguidade ajuda a ampliar o senso de suspense, já que ficamos em dúvida se ele conseguirá dar conta do mistério, mas ao final fica evidente que o personagem está próximo ao arquétipo de detetives como Columbo.

Craig é acompanhado por um vasto elenco que ajuda a compor a paisagem de membros excêntricos da família Thrombey, cada um com seus próprios motivos para matar o patriarca. O destaque fica com a empresária durona vivida por Jamie Lee Curtis, a nora riponga interpretada por Toni Colette ou o filho que sempre viveu à sombra do pai interpretado por Michael Shannon. Ana de Armas (de Blade Runner 2049), chama atenção como Marta, a enfermeira hispânica do patriarca que sabe mais sobre o caso do que aparenta, enquanto Chris Evans rouba todas as cenas em que aparece como o neto playboy e rebelde. Passamos a última década acostumados a ver Evans como o certinho Capitão América e esquecemos o quanto ele é bom em ser um completo babaca como já tinha demonstrado em Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010) ou Não é Mais Um Besteirol Americano (2001).

O elenco é auxiliado por diálogos carregados de ironia e bom humor, capazes de tornar qualquer conversa em um divertido embate de personalidades no qual cada um sempre tem uma observação esperta a fazer. O texto desdobra o mistério principal em múltiplas reviravoltas sem soar confuso e forçado, sempre conseguindo dar uma explicação plausível e que é justificada por algum elemento citado anteriormente não trama, mesmo que de maneira sutil, evitando também soar desonesto.

Desta maneira, Entre Facas e Segredos entrega uma envolvente investigação habitada por personagens pitorescos e elevada por um texto que nunca perde o controle de suas reviravoltas e consegue amarrar tudo com muita habilidade.

Nota: 8/10


Trailer

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