quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Crítica – Esquadrão 6




Nos primeiros dez minutos de Esquadrão 6, novo filme da Netflix dirigido por Michael Bay, seriamente pensei em parar de assistir. Iniciando com uma sequência de ação filmada como uma câmera chacoalhante, uma montagem que corta a cada dois segundos e lens flares (reflexos de luz na lente da câmera) pipocando por todos os cantos do quadro, a produção mais parecia um desconfortável exame de epilepsia do que um filme propriamente dito. Tendo perseverado e assistido até o fim, devo dizer que me arrependi bastante de não desistido nos primeiros dez minutos.

A trama segue um esquadrão secreto criado por Um (Ryan Reynolds), um bilionário que resolveu criar um grupo de operações ilegais para derrubar os “vilões do mundo”. A missão que acompanhamos envolve derrubar Rovach (Lior Raz), ditador de um país do Oriente Médio, e impedi-lo de por as mãos em toneladas de armas químicas.

Os personagens são tão genéricos quanto os números que os nomeiam, seguindo clichês tipo o soldado traumatizado, a espiã fria, o criminoso arrependido e outros elementos que já cansamos de ver. Nesse sentido de nada adianta um elenco de atores carismáticos como Ryan Reynolds, Melanie Laurent ou Corey Hawkins se os personagens e mesmo o desenvolvimento da camaradagem entre eles soa forçado e não merecido.

As tentativas de humor na maioria dos casos soam constrangedoras ao invés de engraçadas embora Reynolds consiga fazer uma ou outra piada funcionar ocasionalmente. Na verdade, o texto é tão preguiçoso que sequer consegue cunhar suas próprias frases de efeito, sempre colocando os personagens para usarem frases de outros filmes tentando fazer tudo parecer um esforço de humor autorreferencial, mas como ele nunca consegue criar nada próprio fica evidente que essas referências são só preguiça criativa.

O vilão é também um ditador genérico, sem personalidade, com algum plano vago de manter o poder através do medo, sendo cruel apenas por ser cruel e nunca soando como uma ameaça interessante ao grupo. A narrativa ainda tenta contar sua trama de modo não linear, inserindo constantes flashbacks que tentam mostrar como Um recrutou cada membro do grupo. A questão é que essas cenas não tem nada a dizer sobre esses personagens, não os desenvolvem de nenhum modo consistente e parecem inseridas apenas para inchar a duração.

Tudo isso seria até perdoável se a fita conseguisse criar algumas cenas de ação bacanas, mas isso não acontece. O que temos é o brutal ataque à cognição do espectador que Michael Bay se acostumou a fazer nas duas últimas décadas. Tudo é filmado com uma câmera que não para quieta, múltiplos cortes por segundo e luzes infestando o quadro. O resultado, além do risco de provocar um ataque epilético, são cenas de ação desprovidas de qualquer senso de coesão espacial, que nunca temos um entendimento claro dos espaços e das posições dos personagens em relação um ao outro, fazendo tudo parecer desconjuntado e fragmentado.

Diferente de muitos de seus filmes, aqui Bay investe em uma violência mais gráfica. Isso poderia ajudar a criar uma ação mais brutal ou impactante, mas, novamente, praticamente nada de interessante é feito a partir desta opção estética. Tem algumas mortes bem filmadas no segmento em que eles executam os quatro generais do vilão ou quando Um usa ímãs no embate final, de resto a violência nunca impacta o quanto deveria.

Esquadrão 6 é mais um filme inchado, histérico e cheio de excessos cuja trama genérica nunca consegue envolver e a ação bagunçada, repleta dos cacoetes estilísticos de Michael Bay, não consegue empolgar.

Nota: 3/10


Trailer

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