As primeiras cenas de História de um Casamento mostram
narrações dos dois protagonistas, Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam
Driver), dizendo o que mais amam um no outro. São falas cheias de afeto e
admiração que nos fazem entender os motivos dos dois personagens estarem
juntos. Essa narração no entanto, é contraposta com as imagens dos dois em uma
sessão de mediação na qual deveriam escrever coisas positivas um sobre o outro,
as exatas palavras que vimos no começo do filme, mas nenhum deles lê para o
outro o que escreveu, escolhendo seguir com a separação.
Esses primeiros quinze minutos
servem como uma síntese de toda trama. Uma história sobre o doloroso processo
do fim de um relacionamento no qual ambos perdem de vista o fato de que ainda
nutrem um sentimento genuíno um pelo outro ainda que tenham optado por não
permanecerem mais juntos. No percurso desses personagens, as palavras de
carinho nunca ditas são substituídas por palavras agressivas ou acusatórias
ditas diretamente um para o outro ou através de advogados. É como se a escolha
de não comunicar para o cônjuge seu afeto tenha desgastado a relação ao ponto
de que a única coisa que tenham a dizer para o outro sejam ofensas.
A batalha judicial é mostrada
exatamente dessa forma, como uma disputa. Se antes do processo o casal tentava
conversar e pensar o que seria melhor para cada um deles ou para o filho de
ambos, conforme o processo começa e a acusações virulentas começam a ser
trocadas as prioridades dos dois protagonistas parecem mudar. Ao ter seus egos
feridos pelas acusações do outro, cada um deles parece mais disposto a “vencer”
o processo, o que quer se seja isso, do que agir racionalmente.
O texto também evidencia como o
fim de relacionamento não envolve apenas o casal ou mesmo seus filhos, mas
também as famílias e amigos que acabam tendo que “escolher um lado” em todo
processo e como isso pode ser difícil. O melhor exemplo é a mãe de Nicole,
Sandra (Julia Hagerty), que tem uma relação muito próxima com Charlie e lamenta
ter que se afastar dele, ainda que secretamente o ajude a conseguir um advogado
durante o processo do divórcio porque, apesar de tudo, ela ainda se importa com
o ex-genro.
O diretor Noah Baumbach filma
tudo sem grandes floreios estilísticos, preferindo planos em close e com poucos
cortes, deixando que os atores façam as emoções emergirem da cena. É um retrato
cru e agridoce da dinâmica de uma relação adulta na qual mesmo havendo amor, o
casal muitas vezes escolhe caminhos diferentes e a separação é inevitável. Acho
que desde Closer: Perto Demais (2004)
o cinema hollywoodiano não fazia um retrato tão cru, sincero e complexo sobre
términos de relacionamentos.
Tudo isso não seria capaz de se
sustentar, porém, se não fosse o trabalho dos dois protagonistas, mas tanto
Driver quanto Johansson entregam suas melhores performances em anos. Os dois
funcionam tanto individualmente quanto em conjunto. Um exemplo é a cena da
primeira conversa entre Nicole e a advogada Nora (Laura Dern). Em um único
plano fechado em seu rosto e sem cortes, Nicole conta toda a história de sua
relação com Charlie, do momento em que se apaixonaram ao instante em que Nicole
decidiu se separar e Johansson transita com naturalidade entre a gama complexa
de emoções de Nicole, indo da paixão à frustração, passando também pela raiva e
tristeza. É o tipo de cena que faz uma atriz ser indicada a prêmios.
Do mesmo modo essa complexidade
também é percebida quando os dois personagens estão juntos e percebemos o
quanto conhecem um ao outro mesmo que não precisam dizer nada. Na cena em que
Charlie e Nicole estão na primeira negociação com os advogados e um assistente
chega com cardápios para que peçam o almoço, Nicole instintivamente estende a
mão para pegar o cardápio de Charlie quando ele tem dificuldade de decidir.
Charlie se mostra satisfeito com a escolha de refeição da ex-esposa para ele,
denotando o quanto eles se conhecem bem e se preocupam um com o outro apesar de
tudo.
Na cena em que os dois discutem no apartamento de Charlie, trocando acusações e ofensas, percebemos que o choro dos personagens não é apenas porque se sentem magoados pelas palavras duras do outro, mas também porque verbalizar aquela virulência contra o antigo cônjuge é doloroso para quem está falando, tanto que eles se abraçam ao final.
Na cena em que os dois discutem no apartamento de Charlie, trocando acusações e ofensas, percebemos que o choro dos personagens não é apenas porque se sentem magoados pelas palavras duras do outro, mas também porque verbalizar aquela virulência contra o antigo cônjuge é doloroso para quem está falando, tanto que eles se abraçam ao final.
História de um Casamento faz um retrato cuidadoso e complexo sobre
uma relação que chega ao fim, reconhecendo que um término acontece por
múltiplos fatores e que o fim não significa que aquelas pessoas deixaram de
nutrir alguma medida de afeito ou cuidado uma pela outra.
Nota: 9/10
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