Eu constantemente falo aqui como um dos problemas de se
fazer cinema de gênero no Brasil é que muitas vezes os realizadores
simplesmente tentam aplicar as formas e estruturas hollywoodianas típicas
desses gêneros sem tentar entender como esses formatos se adequam ou não à
realidade brasileira. O Caseiro (2016)
tentava reproduzir a fórmula de um terror de “casa mal assombrada” sem muito
que pudesse diferenciar do que é comumente feito nos EUA. Nesse sentido, este O Juízo era bem promissor ao pegar essa
premissa e tentar contar uma história mais calcada em elementos da realidade
história brasileiras.
Na trama, Augusto (Felipe Camargo) se muda com a esposa,
Teresa (Carol Castro), e o filho adolescente, Marinho (Joaquim Torres
Waddington), para a dilapidada propriedade rural da família no interior.
Augusto está endividado e propriedade é a única coisa que lhe resta e sua única
oportunidade de se reerguer. Chegando lá, Augusto e seu filho começam a receber
a visita de um homem estranho (Criolo) que chega oferecendo a oportunidade de
encontrar diamantes nas terras do local.
A narrativa tenta criar um mistério em relação a quem é esse
estranho e o que ele quer ali. O problema é que esse mistério ou tensão não se
sustentam porque já na primeira cena o filme nos explica que o visitante é o
fantasma de um escravo fugido que foi entregue às autoridades por um ancestral
de Augusto. Com isso, ao invés de nos envolver na incerteza de quem (ou o quê)
seria aquela figura que aparece na propriedade e quais as intenções dela, a primeira
hora do filme se torna um exercício de paciência conforme sentamos e esperamos
os protagonistas aprenderem algo que já sabemos desde o primeiro minuto.
O pano de fundo da escravidão e a ideia de ter uma
fracassada família de latifundiários sendo assombrada pelo fantasma (literal e
metafórico) da escravidão poderia render um ótimo terror que refletisse sobre o
brutal processo de construção do nosso país e como a riqueza das elites brancas
(sobretudo as elites agrárias) se fez em cima do sangue e do trabalho escravo,
havendo ainda uma dívida (social, política, kármica) a ser paga em relação a
isso. O problema é que o texto nunca investe de fato nesses temas nem tem nada
consistente a falar sobre isso.
Ao invés de explorar essas ideias, o material prefere se
transformar em uma espécie de O Iluminado
(1980) genérico em seu terço final. O filme é ainda prejudicado por nunca
dar muito o que fazer ao seu elenco coadjuvante, a despeito de sua qualidade.
Fernanda Montenegro é desperdiçada com uma personagem cuja função é meramente
expositiva e sua presença acaba tendo pouco impacto na trama ou no destino dos
personagens.
A fotografia, por outro lado, acerta no modo como constrói o
clima de isolamento experimento pela família protagonista. Como eles estão em uma
pequena propriedade rural sem energia, a produção opta por filmar tudo com luz
natural, deixando esses personagens imersos da escuridão de sua existência
solitária no meio do mato. O cantor Criolo, por sua vez, é eficiente em dar ao
visitante uma aura de ameaça e mistério, mesmo quando já sabemos desde o início
as intenções de seu personagem.
O Juízo soa,
portanto, como uma oportunidade desperdiçada, sua premissa tinha tudo para
render um terror que servisse de metáfora social, mas o resultado acaba sendo
moroso e superficial.
Nota: 5/10
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