quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Crítica – Star Wars: A Ascensão Skywalker

Análise Crítica – Star Wars: A Ascensão Skywalker


Review – Star Wars: A Ascensão Skywalker
Depois da recepção dividida de Os Últimos Jedi (2017) e da apatia com o qual Han Solo (2018) foi recebido, a impressão é que a Disney fez este Star Wars: A Ascensão Skywalker para dar exatamente o que fãs queriam na esperança de que isso agradasse e tornasse o filme melhor. O resultado, no entanto, é praticamente o inverso, um filme com cara de fanfic mal elaborada que desfaz ou ignora muito do que os dois anteriores fizeram apenas para fazer um fanservice desesperado por medo do fandom. Medo, como Yoda disse uma vez, é o caminho para o lado sombrio.

Na trama, o Imperador Palpatine (Ian McDiarmid) aparentemente retornou e posa uma ameaça para toda galáxia com uma poderosa frota estelar. Palpatine propõe uma aliança com Kylo Ren (Adam Driver), mas para isso Ren deve matar Rey (Daisy Ridley) a última remanescente da Ordem Jedi. Para deter os planos do Imperador a Resistência precisa primeiro descobrir como chegar ao planeta ancestral dos Sith, com Rey, Poe (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega) empreendendo uma caçada desesperada por pistas que possam dar indicações do local.


A primeira metade do filme parece focada em “ajeitar” a trama e os personagens depois dos controversos eventos do filme anterior. Em muitos casos isso significa contradizer o que foi dito tanto em termos de personagem, quanto da mensagem que o filme passava. Um exemplo é a origem de Rey, mudada em relação ao filme anterior. Se antes a escolha comunicava que o heroísmo poderia vir de qualquer lugar, independente de linhagens de sangue, algo que se conectava com a imagem das crianças sensitivas à Força no final daquele filme, aqui é dito que, sim, linhagens de sangue são o que importam para determinar o poder. A decisão parece feita meramente para agradar fãs frustrados, já que não faz o menor sentido. A revelação da real origem de Rey a conecta a pessoas que não só não sabíamos que tinha descendentes como também não faz sentido que aquele personagem tenha tido descendentes. É gratuita, forçada, razoavelmente risível e faz pouco para desenvolver a personagem.

Falando nas crianças sensitivas à Força citadas em Os Últimos Jedi, elas são completamente esquecidas aqui e o filme nunca cita se houve uma novo despertar de usuários da força. Igualmente esquecida é Rose Tico (Kelly Marie Tran) e o romance entre ela e Finn. Rose não tem praticamente nada a fazer aqui, o que é estranho considerando que ela foi posicionada como alguém importante no filme anterior (Finn sobrevive por causa dela) apenas para ser irrelevante aqui.

Outro problema é uma série de desenvolvimentos e revelações que não são devidamente construídas e suas repercussões ou efeitos nunca soam merecidos. A revelação de quem era o espião dentro da Primeira Ordem, por exemplo, soa jogada de qualquer jeito, já que nunca tínhamos indicação do comportamento daquele personagem e, com isso, acaba não tendo impacto algum. O arco de Kylo Ren é outro problema nesse sentido, já que a transformação pela qual ele passa também é rápida demais. Há também uma tentativa de inserir um interesse romântico para Poe, mas é algo que nunca envolve como deveria porque não consegue dar tempo para a relação se desenvolver.

O elenco, no entanto, consegue manter a credibilidade de seus personagens mesmo quando o texto com o qual estão trabalhando tem falhas. Adam Driver é competente em apresentar a confusão emocional de Kylo Ren fazendo com que acreditemos no personagem mesmo quando seus desenvolvimentos não são devidamente construídos pelo roteiro. Do mesmo modo Daisy Ridley é eficiente em construir a apreensão e desespero de Rey em lidar com Palpatine apesar da reviravolta envolvendo a personagem ser capaz de provocar mais risos do que surpresas. Os personagens veteranos, como Leia (Carrie Fisher) e Luke (Mark Hamill) tem a seu favor o vínculo que temos com eles por anos acompanhando suas jornadas e isso faz funcionar os momentos de emoção.

O filme se beneficia também de algumas boas cenas de ação, como as lutas entre Rey e Kylo, em especial a cena em que eles duelam através de uma conexão com a Força, e também em todo o clímax, que consegue criar a devida tensão de que aqueles personagens estão de fato enfrentando algo esmagadoramente mais poderoso e numeroso que eles. Como de costume na franquia, a fita também apresenta uma boa parcela de mundos e criaturas exóticas que fariam entre o estranho e o fofo, como o pequeno mecânico de droides que os personagens encontram. Ainda assim, esses lugares e seres parecem carecer do senso de encantamento e fascínio que o mesmo J.J Abrams demonstrou em O Despertar da Força (2015) ou que Rian Johnson demonstrou em Os Últimos Jedi.

Ao final fica a impressão de que a narrativa sacrificou todos os riscos e proposições dos dois anteriores para apenas querer satisfazer os fãs e o resultado é um filme medroso e acomodado, ainda que o elenco e ação consigam fazer a experiência ser minimamente aproveitável.

Nota: 6/10


Trailer

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