Depois da recepção dividida de Os Últimos Jedi (2017) e da apatia com o
qual Han Solo (2018) foi recebido, a
impressão é que a Disney fez este Star
Wars: A Ascensão Skywalker para dar exatamente o que fãs queriam na
esperança de que isso agradasse e tornasse o filme melhor. O resultado, no
entanto, é praticamente o inverso, um filme com cara de fanfic mal elaborada que desfaz ou ignora muito do que os dois
anteriores fizeram apenas para fazer um fanservice
desesperado por medo do fandom. Medo, como Yoda disse uma vez, é o caminho
para o lado sombrio.
Na trama, o Imperador Palpatine
(Ian McDiarmid) aparentemente retornou e posa uma ameaça para toda galáxia com
uma poderosa frota estelar. Palpatine propõe uma aliança com Kylo Ren (Adam
Driver), mas para isso Ren deve matar Rey (Daisy Ridley) a última remanescente
da Ordem Jedi. Para deter os planos do Imperador a Resistência precisa primeiro
descobrir como chegar ao planeta ancestral dos Sith, com Rey, Poe (Oscar Isaac)
e Finn (John Boyega) empreendendo uma caçada desesperada por pistas que possam
dar indicações do local.
A primeira metade do filme parece
focada em “ajeitar” a trama e os personagens depois dos controversos eventos do
filme anterior. Em muitos casos isso significa contradizer o que foi dito tanto
em termos de personagem, quanto da mensagem que o filme passava. Um exemplo é a
origem de Rey, mudada em relação ao filme anterior. Se antes a escolha
comunicava que o heroísmo poderia vir de qualquer lugar, independente de
linhagens de sangue, algo que se conectava com a imagem das crianças sensitivas
à Força no final daquele filme, aqui é dito que, sim, linhagens de sangue são o
que importam para determinar o poder. A decisão parece feita meramente para agradar
fãs frustrados, já que não faz o menor sentido. A revelação da real origem de
Rey a conecta a pessoas que não só não sabíamos que tinha descendentes como
também não faz sentido que aquele personagem tenha tido descendentes. É
gratuita, forçada, razoavelmente risível e faz pouco para desenvolver a
personagem.
Falando nas crianças sensitivas à
Força citadas em Os Últimos Jedi,
elas são completamente esquecidas aqui e o filme nunca cita se houve uma novo
despertar de usuários da força. Igualmente esquecida é Rose Tico (Kelly Marie
Tran) e o romance entre ela e Finn. Rose não tem praticamente nada a fazer
aqui, o que é estranho considerando que ela foi posicionada como alguém
importante no filme anterior (Finn sobrevive por causa dela) apenas para ser
irrelevante aqui.
Outro problema é uma série de
desenvolvimentos e revelações que não são devidamente construídas e suas
repercussões ou efeitos nunca soam merecidos. A revelação de quem era o espião
dentro da Primeira Ordem, por exemplo, soa jogada de qualquer jeito, já que
nunca tínhamos indicação do comportamento daquele personagem e, com isso, acaba
não tendo impacto algum. O arco de Kylo Ren é outro problema nesse sentido, já
que a transformação pela qual ele passa também é rápida demais. Há também uma tentativa
de inserir um interesse romântico para Poe, mas é algo que nunca envolve como
deveria porque não consegue dar tempo para a relação se desenvolver.
O elenco, no entanto, consegue
manter a credibilidade de seus personagens mesmo quando o texto com o qual
estão trabalhando tem falhas. Adam Driver é competente em apresentar a confusão
emocional de Kylo Ren fazendo com que acreditemos no personagem mesmo quando
seus desenvolvimentos não são devidamente construídos pelo roteiro. Do mesmo
modo Daisy Ridley é eficiente em construir a apreensão e desespero de Rey em
lidar com Palpatine apesar da reviravolta envolvendo a personagem ser capaz de
provocar mais risos do que surpresas. Os personagens veteranos, como Leia
(Carrie Fisher) e Luke (Mark Hamill) tem a seu favor o vínculo que temos com
eles por anos acompanhando suas jornadas e isso faz funcionar os momentos de
emoção.
O filme se beneficia também de
algumas boas cenas de ação, como as lutas entre Rey e Kylo, em especial a cena
em que eles duelam através de uma conexão com a Força, e também em todo o
clímax, que consegue criar a devida tensão de que aqueles personagens estão de
fato enfrentando algo esmagadoramente mais poderoso e numeroso que eles. Como
de costume na franquia, a fita também apresenta uma boa parcela de mundos e
criaturas exóticas que fariam entre o estranho e o fofo, como o pequeno
mecânico de droides que os personagens encontram. Ainda assim, esses lugares e
seres parecem carecer do senso de encantamento e fascínio que o mesmo J.J Abrams
demonstrou em O Despertar da Força
(2015) ou que Rian Johnson demonstrou em Os Últimos Jedi.
Ao final fica a impressão de que
a narrativa sacrificou todos os riscos e proposições dos dois anteriores para
apenas querer satisfazer os fãs e o resultado é um filme medroso e acomodado,
ainda que o elenco e ação consigam fazer a experiência ser minimamente
aproveitável.
Nota: 6/10
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