terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Crítica – Mulan

Análise Crítica – Mulan

Review – Mulan
De toda a onda de remakes live action que a Disney vem empreendido de suas clássicas animações, Mulan era o que eu estava mais empolgado. Não porque tenho particular afeto pelo filme original de 1999, mas porque era o único que parecia efetivamente fazer um esforço de reimaginar o original. Enquanto Aladdin (2019), O Rei Leão (2019) e A Bela e a Fera (2017) eram recriações preguiçosamente fidedignas do original com muito pouco que justificasse um remake além da vontade da Disney fazer dinheiro, Mulan parecia se justificar por tentar ser algo diferente. Ao invés do musical da animação, esta nova versão estaria mais próxima de um wuxia, gênero chinês que mistura artes marciais e fantasia (pensem em O Tigre e o Dragão ou Herói).

Na trama, Mulan (Yifei Liu) é uma garota que se recusa a se resignar ao papel que a sociedade chinesa obriga as mulheres a se colocarem. Quando invasores estrangeiros liderados por Bori Khan (Jason Scott Lee) colocam a China em risco, o imperador obriga que cada família ceda um homem para o exército. Querendo evitar que seu idoso pai, Zhou (Tzi Ma), sirva no exército, Mulan rouba as armas e armaduras da família e vai se alistar fingindo ser homem, temendo que caso o segredo seja revelado sua família seja desonrada e ela seja executada.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Crítica – Os Segredos do Castelo

 

Análise Crítica – Os Segredos do Castelo

Review Crítica – Os Segredos do Castelo
Adaptando um romance de Shirley Jackson, este Os Segredos do Castelo parecia, pela divulgação, um suspense ao redor dos segredos de uma estranha família que mora em uma ampla mansão no interior dos Estados Unidos. O produto final, no entanto, é mais um estudo de personagem que trata de alienação e relações entre irmãs do que algo repleto de tensão e mistério, então é possível que muitos não se agradem com o ritmo mais lento da narrativa.

A trama gira em torno das irmãs Marricat (Taissa Farmiga) e Constance (Alexandra Daddario) que vivem isoladas em uma grande mansão depois que o pai delas morreu de maneira extremamente suspeita e as pessoas da cidade acham que elas foram responsáveis por isso. Elas tem uma existência reclusa, com apenas Marricat saindo uma vez por semana para fazer compras, somente com a companhia do estranho tio Julian (Crispin Glover). O cotidiano das irmãs muda com a chegada do primo Charles (Sebastian Stan), que diz estar interessado em cuidar das irmãs, mas na verdade deseja colocar as mãos na fortuna da família.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Crítica – A Voz Suprema do Blues

 

Análise Crítica – A Voz Suprema do Blues

Review – A Voz Suprema do Blues
Baseada em uma peça de teatro escrita por August Wilson, A Voz Suprema do Blues usa a figura real da cantoria Ma Rainey para falar do racismo e das vivências da comunidade negra dos Estados Unidos no início do século XX. Tal como Um Limite Entre Nós (2016), também uma adaptação de uma peça de Wilson, a trama demora um pouco a engrenar e a dizer a que veio, mas assim que isso acontece é difícil não se envolver.

A trama acompanha um dia na vida da cantora Ma Rainey (Viola Davis) enquanto ela tenta iniciar a gravação de um disco. Ao mesmo tempo, a banda de Ma, presa na claustrofóbica sala de ensaio do estúdio, começa a discutir entre si e os ânimos começam a se exaltar quanto Levee (Chadwick Boseman), um dos músicos da banda, começa a querer mais destaque.

A trama demora a tocar nos seus temas principais, inicialmente acompanhando o cotidiano dos personagens e as conversas sobre banalidades. O elenco convence da naturalidade dessas interações, mas em seu terço inicial fica a impressão de que testemunhamos verborragia apenas pela verborragia. As coisas começam a melhorar a partir do momento em que começamos a entender melhor aqueles personagens e como eles têm experiências similares de racismo e exclusão.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Duro de Matar

 

Die Hard christmas movie

Análise crítica - Duro de Matar
Lançado em 1988, Duro de Matar é constantemente lembrado como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Recentemente ele também entrou em outras discussões sobre gêneros e subgêneros narrativos, mais especificamente: seria Duro de Matar um filme de Natal? A narrativa certamente se passa no período natalino, mas seria isso o bastante para considerá-lo um filme de Natal?

Para quem não conhece, na trama o policial nova-iorquino John McClane (Bruce Willis) viaja até Los Angeles para reencontrar a esposa Holly (Bonnie Bedelia) para tentar recuperar o casamento dos dois. Holly trabalha em um luxuoso e tecnologicamente avançado arranha-céu na cidade e John chega para encontrá-la durante uma festa da empresa, mas a festa é invadida pelo grupo de ladrões liderados por Hans Gruber (Alan Rickman) que toma todos de reféns. McClane consegue escapar e agora ele tentará lidar com os criminosos por conta própria.

Na época de seu lançamento, o filme chamou atenção pelo modo como reconfigurava os padrões de um filme de ação hollywoodiano. Durante a década de oitenta, o gênero era tomado por astros com corpos hiperbólicos e personagens virtualmente indestrutíveis que despachavam hordas de bandidos sem se ferir como acontecia em Comando para Matar (1985) ou Stallone Cobra (1986). O John McClane de Bruce Willis era o oposto disso. Ele tinha um físico relativamente normal, estava em uma clara situação de desvantagem em relação aos seus inimigos e era vulnerável, física e emocionalmente.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Crítica – Tenet

 

Análise Crítica – Tenet

Review – Tenet
Confesso que os primeiros trailers de Tenet não me atraíram em nada. Tudo parecia uma reciclagem de coisas que o diretor Christopher Nolan tinha feito antes em seus outros filmes. A impressão era de se tratava de um A Origem (2010) que trocava a manipulação de realidades e sonhos por manipulação temporal. Ainda assim fui assistir aberto ao que filme me traria e devo dizer que o resultado final é relativamente decepcionante.

Na trama, um agente (John David Washington) é recrutado por uma força-tarefa secreta para combater a mais nova ameaça ao mundo: a manipulação temporal. O protagonista descobre que forças do futuro estão enviando para o presente itens com “entropia invertida” que se movem temporalmente ao contrário. Para descobrir quem está por trás disso, o protagonista recorre a ajuda do misterioso Neil (Robert Pattinson) para localizar o elusivo traficante de armas russo Sator (Kenneth Branagh) que parece ser o responsável por trazer ou receber esses objetos do futuro.

É um conceito complexo, tal como outros filmes do diretor, mas se antes havia um mínimo de clareza em estabelecer esses elementos complicados de maneira que fosse possível entender o que está em jogo, isso não acontece aqui. Nos primeiros minutos o protagonista ouve a explicação de uma cientista de que esses objetos invertidos seriam extremamente perigosos, o motivo disso, no entanto, não fica claro e o texto demora em evidenciar as razões disso. Se em outros filmes Nolan conseguia apresentar seu universo ficcional no primeiro ato, aqui o filme é inteiro permeado por longos diálogos expositivos que tentam explicar o tempo todo as regras de funcionamento desse universo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Crítica – Ava

Análise Crítica – Ava

Review – Ava
Uma assassina de aluguel tem uma crise de consciência e começa a questionar a vida de violência que leva, por causa disso é considerada inapta para o serviço e seus superiores tentam eliminá-la. É uma premissa pra lá de batida, mas considerando o elenco formado por nomes como Jessica Chastain, John Malkovich, Geena Davis e outros, poderia até render um exame envolvente do que move uma pessoa que leva essa vida. Os primeiros minutos também dão a impressão de que este Ava vai conseguir ir além dos clichês narrativos ao inserir também elementos de drama familiar ao explorar a relação complicada que a protagonista tem com a mãe e as irmãs. O problema é que o filme acaba apenas passando superficialmente por todas essas ideias.

Na trama, Ava (Jessica Chastain) é uma ex-militar que virou assassina de aluguel. Seu contato é Duke (John Malkovich), antigo mentor de Ava no exército e que nutre um afeto paternal por ela. Quando Ava começa a questionar a natureza do trabalho, Duke tenta convencer o líder da organização, Simon (Colin Ferrel), de que Ava não é um risco para as operações, mas Simon acha melhor descartá-la. Ao mesmo tempo, Ava tenta se reaproximar da família depois que a mãe, Bobbi (Geena Davis), tem um infarto.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Crítica – O Mandaloriano: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – O Mandaloriano: 2ª Temporada

Review – O Mandaloriano: 2ª Temporada
Confesso que fiquei surpreso com a primeira temporada de O Mandaloriano. De cara chamava atenção como ela, assim como o primeiro filme de Star Wars, evocava antigos seriados de aventura. Com episódios de tramas quase que inteiramente autocontidas enquanto acompanhávamos um mercenário errante, remetendo a histórias de faroeste e filmes de samurai, vagando por uma galáxia devastada pela guerra em busca de respostas envolvendo seu próprio povo e o que fazer com uma pequena criatura que encontrara em sua missão. O segundo ponto era a inesperada conexão emocional que aos poucos se desenvolvia entre o estoico mercenário e a pequena criatura, que foi apelidada de Baby Yoda, conforme a trama progredia.

A segunda temporada segue no ponto em que o ano de estreia parou. Em fuga de Moff Gideon (Giancarlo Esposito), o mandaloriano Din Djarin (Pedro Pascal) parte em busca de informação sobre algum Jedi que pudesse lhe ajudar com a pequena criatura que protege. Tal como no primeiro ano há o mesmo espírito de aventura despretensiosa, com o protagonista chegando a um planeta diferente a cada semana e alguém ou alguma crise específica para resolver nesse local que ao final dá alguma contribuição para mover a trama principal para frente. A partir desse ponto, aviso que o texto pode conter SPOILERS da temporada.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Crítica – Hyrule Warriors: Age of Calamity

Análise Crítica – Hyrule Warriors: Age of Calamity


Review – Hyrule Warriors: Age of Calamity
Quando escrevi sobre a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity mencionei o quanto fiquei surpreso do jogo conseguir transpor tantas mecânicas de Zelda: Breath of the Wild para a estrutura de um game de ação estilo Musou do spin-off Hyrule Warriors. O primeiro dessa série de derivados contava uma história própria que misturava diferentes temporalidades do universo Zelda, misturando heróis e vilões de games como Ocarina of Time, Twilight Princess ou Skyward Sword, mas este é todo centrado no universo apresentado em Breath of the Wild.

A trama se passa 100 anos antes de Breath of the Wild e conta a história do ataque de Calamity Ganon que levou à queda de Hyrule, a morte dos quatro pilotos das feras divinas e a Link ser colocado em estase durante um século. Ajuda não só a dar mais contexto a Breath of the Wild como também amplia nosso entendimento sobre esse universo ao ver como a Hyrule do jogo era antes da devastação de Ganon. A narrativa também nos mostra versões muito mais jovens dos personagens de BoW, como Impa, que lá era já uma senhorinha idosa e aqui, em sua juventude, é uma ágil guerreira, lutando com espadas, selos mágicos e símbolos místicos. 

Há um elemento de viagem no tempo aqui, no entanto, que pode desagradar os fãs mais puristas de BoW. Outro problema é que a trama é, em muitos momentos, excessivamente expositiva, focando mais em explicar como as coisas aconteceram do que desenvolver os personagens e as relações entre eles. Uma pena, já que os campeões Daruk, Mipha, Revali e Urbosa são tão carismáticos. A única que recebe um pouco mais de desenvolvimento é Zelda, com a trama focando no senso de inadequação da princesa conforme ela parece não conseguir despertar o poder profetizado para ela.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Crítica – Spider-Man: Miles Morales


Análise Crítica – Spider-Man: Miles Morales


Review - Spider-Man: Miles Morales
Exclusivo para Playstation 4, Marvel’s Spider-Man fez pelo amigão da vizinhança nos games o que Batman: Arkham Asylum fez pelo Homem-Morcego. Era um game que realmente nos fazia sentir como o Homem-Aranha, seja na física do movimento com as teias, seja na narrativa que mostra os conflitos de Peter Parker em manter sua vida pessoal no lugar enquanto salva a cidade como Homem-Aranha. Uma sequência é inevitável, inclusive por conta das cenas pós-créditos que deixam alguns ganchos. Antes de acompanharmos uma segunda aventura de Parker, no entanto, a Sony nos dá Spider-Man: Miles Morales, que foca no personagem titular que ganhou poderes no final do primeiro game do Aranha.

A trama se passa durante as festas de fim de ano. Peter sai de Nova Iorque em uma viagem de trabalho com Mary Jane e deixa a cidade a cargo de Miles Morales, que começou a treinar com Peter para desenvolver seus poderes. Sozinho e sem o auxílio de Peter, Miles precisa lidar com a ameaça da corporação Roxxon, cujo novo reator de energia parece mais perigoso do que parece, e do vilão Tinkerer, que parece ter contas a acertar com a Roxxon. Além disso, Miles precisa lidar com a campanha de sua mãe, Rio, que concorre a vereadora, a reaproximação com o tio Aaron e o retorno de uma antiga amiga de infância, Phin.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Drops – DBZ Kakarot: Um Novo Poder Desperta Parte 2

 Análise Crítica - DBZ Kakarot: Um Novo Poder Desperta Parte 2

Apesar de ter gostado de Dragon Ball Z Kakarot e o modo como o jogo nos fazia viver no universo de Dragon Ball revivendo os principais arcos, fiquei um pouco decepcionado com o primeiro DLC, Um Novo Poder Desperta Parte 1. A primeira expansão levava o jogador a uma área vazia, o planeta de Bills, sem muito o que fazer fora uma série de batalhas similares entre si contra Whis e Bills, além de quebrar a progressão de níveis com itens de aumento de XP que tornavam fácil demais subir de nível. Esse segundo DLC, Um Novo Poder Desperta Parte 2, se sai melhor em oferecer mais conteúdo e uma experiência mais significativa.

Se a primeira expansão era basicamente uma série de batalhas contra chefes, essa segunda reconta a trama de A Ressurreição de Freeza, com direito a cutscenes que tem a mesma intensidade e dramaticidade daquelas contidas na campanha principal. Não é uma história longa, podendo ser completada em pouco mais de uma hora, mas o jogo ainda oferece mais algumas missões secundárias após a trama principal que injetam um pouco de humor ao desenvolver mais alguns personagens do exército de Freeza e também alguns dos guerreiros Z.

Falando neles, essa expansão também consegue dar evidência a outros personagens para além de Goku e Vegeta. Como os dois estão treinando com Whis quando Freeza ataca, cabe a Gohan, Piccolo e os demais proteger o planeta, o que dá motivo para continuar usando e evoluindo muitos personagens que tinham sido deixados de lado após o fim da campanha principal.

A expansão adiciona novas transformações para Goku e Vegeta no Super Saiyajin Azul, além de novos combos e golpes especiais para eles, o que ajuda a dar um frescor à jogabilidade. Assim como algumas transformações do jogo base, a nova transformação consome ki muito rápido (diferente de Super Saiyajin Deus, que não consumia ki) o que mais uma vez traz um componente estratégico às batalhas já que exige que o jogador fique atento para gerenciar sua energia.

Além disso, há uma nova mecânica na forma das batalhas de hordas, feitas para simular as lutas contra centenas de soldados de Freeza ao mesmo tempo. A mecânica acaba sendo um pouco decepcionante porque você não tem realmente uma centena de inimigos ao seu redor de uma vez só, mas apenas uma dezena deles e o resto vai aparecendo conforme você vai derrotando inimigos. Ao usar um ataque combinado de todo o grupo é possível eliminar dezenas de inimigos de uma vez, gerando algumas cutscenes com os ataques grandiloquentes típicos da franquia. Apesar de trazer alguma novidade, a mecânica não explora plenamente o potencial que poderia ter.

Ainda assim Um Novo Poder Desperta Parte 2 consegue entregar algo mais consistente do que a primeira parte, lembrando os elementos que o jogo base tinha de melhor de dando boas razões para que retornemos a ele.

 

Nota: 7/10


Trailer

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Rapsódias Revisitadas - 007 Contra Goldeneye

Análise Crítica - 007 Contra Goldeneye

Review - 007 Contra Goldeneye
Lançado em 1995, 007 Contra Goldeneye tinha a missão de mostrar que o famoso agente britânico com licença para matar ainda poderia ser relevante em um contexto pós-Guerra Fria. No final da década de oitenta as duas tentativas protagonizadas por Timothy Dalton, 007 Marcado Para Morte (1987) e 007 Permissão Para Matar (1989), não agradaram muito por conta da persona mais violenta do Bond de Dalton e pela natureza mais banal de seus inimigos, como contrabandistas, oficiais governamentais corruptos ou crimes de evasão de divisas.

Com um novo Bond em Pierce Brosnan, 007 Contra Goldeneye tentava trazer de volta a glória dos tempos áureos de James Bond, afastando-o do tom excessivamente sisudo de Dalton ou do camp e da galhofa de Roger Moore. A abordagem parecia remeter à fase de Sean Connery, mas fazendo o personagem e as ameaças enfrentadas por ele soarem contemporâneas (para a época em que foi feito, claro). Nesse sentido, a trama do filme é sobre as marcas indeléveis da guerra, sobre como o fim de um conflito não significa que as feridas abertas por ele deixam de sangrar e as consequências disso reverberam por anos a fio.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Os Pássaros

Crítica – Os Pássaros

Review – Os Pássaros
Não sei se serei capaz de dizer algo sobre Os Pássaros, filme seminal de Alfred Hitchcock, que já não tenha sido dito antes. É um suspense de condução segura que trabalha para nos deixar à beira da poltrona em tensão mesmo que em um primeiro momento a ideia da ameaça principal soe um pouco risível. Afinal, ninguém pensaria que pássaros comuns poderiam ser tão aterrorizantes, no entanto é a condução segura do diretor e as situações inventivas que consegue criar ao redor da premissa.

Na trama a socialite Melanie (Tippi Hedren) viaja até uma cidadezinha no norte da Califórnia para encontrar Mitch (Rod Taylor), por quem talvez esteja interessada romanticamente. Chegando no local, no entanto, fenômenos estranhos começam a acontecer quando pássaros parecem atacar a população e os ataques vão se tornando cada vez mais frequentes.

O texto é inteligente o bastante para não explicar demais o que está acontecendo, se recusando a entregar uma motivação explícita para os ataques dos animais. Essa recusa é eficiente em termos de suspense porque o fato de não sabermos exatamente com o que esses personagens estão lidando ou como combater a ameaça torna tudo ainda mais incerto. Além disso, seria difícil dar uma explicação convincente que funcionasse para todo mundo, então deixar isso em aberto à imaginação do espectador serve para que o público projete seus medos e inquietações diante do estranho fenômeno. Sei que pode parecer óbvio falar disso hoje, mas essa é uma lição que muitos seguidores de Hitchcock ainda não pareceram captar, vide M. Night Shyamalan em Fim dos Tempos (2008) e as explicações risíveis que o filme dá.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Crítica – O Alienista: Anjo das Trevas

Análise Crítica – O Alienista: Anjo das Trevas

Review – O Alienista: Anjo das Trevas
Quando escrevi sobre a primeira temporada de O Alienista falei que era uma narrativa policial competente, ainda que bastante presa às convenções do gênero. Essa segunda temporada, O Alienista: Anjo das Trevas, segue um pouco os resultados do ano de estreia, com um mistério envolvente, ainda que bastante aderente aos lugares comuns desse tipo de narrativa.

A trama se passa na Nova Iorque no final do século XIX durante o auge da guerra hispano-americana. Laszlo (Daniel Bruhl), John (Luke Evans) e Sara (Dakota Fanning) voltam a trabalhar juntos para impedir a execução de uma mulher que julgam ter sido condenada injustamente de ter matado o próprio bebê, sendo que o corpo nunca foi encontrado. O trio não consegue deter a execução, mas pouco tempo depois o corpo da criança é encontrado e Laszlo encontra provas suficientes para demonstrar que a real culpada ainda está à solta. As coisas se agravam quando o bebê de um dignitário espanhol é sequestrado e as autoridades nada fazem. A senhora Linares (Bruna Cusí), esposa do diplomata, acaba contratando Sara para resolver o caso. Logicamente a investigadora recorre também a John e Laszlo.

Assim como na primeira temporada, a ambientação no passado é usada também para falar do presente. O arco de Sara continua a ser usado para falar do machismo daquela sociedade, com a investigadora não sendo levada a sério pela polícia local ou outros com quem interage. A investigação sobre o sequestro dos bebês também mostra toda uma rede de abuso de mulheres perpetradas por homens poderosos e médicos sem escrúpulos. Esses homens em posições de poder pagavam médicos para fazerem os partos de suas amantes e depois dizer a elas que as crianças morreram no parto, esterilizando as mulheres contra a vontade delas. Toda a trama revela como as mulheres eram tratadas como objetos, sendo descartadas pelos homens no momento em que se tornavam inconvenientes e internadas como loucas se causassem problemas.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Crítica – Pokémon: The Crown Tundra

 

Análise Crítica – Pokémon: The Crown Tundra

Resenha – Pokémon: The Crown Tundra
A primeira expansão de PokémonSword/Shield, Isle of Armor, trazia novos monstrinhos e o retorno de velhos conhecidos, mas não acrescentava muito em termos de novas mecânicas ou narrativa. Este The Crown Tundra, por sua vez, além de novos pokémons a capturar também tem um pouco mais de trama e alguns novos eventos para mexer na jogabilidade.

Na trama, o jogador chega à titular tundra e se envolve em uma expedição liderada pelo ex-líder de ginásio Peony e sua filha Peonia para encontrarem os vários pokémons lendários que habitam a região. O principal deles é Calyrex, considerado uma divindade capaz de fazer as colheitas crescerem, mas que foi esquecido pela população local. Além deles o jogador também encontrará as formas Galar das três aves lendárias de Kanto: Articuno, Zapdos e Moltres.

A trama tem um pouco mais de substância que a da primeira expansão, ainda que relativamente curta. A narrativa nunca explora como deveria a relação entre Peony e a filha, reduzindo-os a momentos de humor. Sim, Peony é um personagem divertido, mas considerando o passado dele (explicado em sua carta de treinador) é uma pena que trama não o desenvolva a ponto de repercutir nele as ações do presidente Rose, irmão do personagem, e o mais próximo de um vilão na campanha principal.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Jogamos a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity

Jogamos a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity

Não joguei o primeiro Hyrule Warriors quando ele saiu para WiiU, só me aproximando do jogo na Definitive Edition que foi lançada para Nintendo Switch e confesso que fiquei bastante surpreso. De todos os spin-offs da franquia Dynasty Warriors em outros universos (como Dragon Quest ou One Piece), Hyrule Warriors me pareceu o que melhor combinava os elementos das duas propriedades convergentes. Nunca imaginei que ver Link, Zelda e outros massacrando exércitos inteiros em ataques especiais que despachavam centenas de inimigos por vez pudesse ser tão divertido.

O anúncio de um novo jogo na forma deste Hyrule Warriors: Age of Calamity me deixou bastante empolgado não só pela possibilidade de refinar o primeiro jogo, mas também por contar uma história que serviria de prelúdio para Zelda: Breath of the Wild, mostrando como Calamity Ganon derrotou os guardiões e Link precisou ser colocado em hibernação por 100 anos.

O demo do jogo disponibilizado pela Nintendo dá acesso ao primeiro capítulo da campanha principal, algumas breves missões secundárias e três personagens jogáveis em Link, Zelda e Impa. Se o primeiro Hyrule Warriors misturava personagens de diferentes temporalidades ou universos da franquia Zelda (além de alguns originais), aqui todos (ao menos por enquanto) se baseiam nas versões de BoW.

A estrutura básica da jogabilidade é similar a de qualquer game em estilo Musou, com o jogador correndo por um grande campo de batalha cumprindo objetivos como capturar bases inimigas, derrotar líderes adversários ou escoltar algum aliado. Tudo serve como desculpa para massacrar centenas de inimigos por missão, deixando o jogador imerso na fantasia de poder de ser um guerreiro apelativamente habilidoso.

Cada personagem tem uma habilidade própria ligada ao botão ZR, com Link usando seu arco ou Impa colocando símbolos mágicos que atacam os inimigos e podem ser absorvidos por ela para deixá-la ainda mais poderosa. Além disso todos os personagens tem acesso ao uso de runas como bombas, magnesis ou stasis, mas o modo como cada um as usa é diferente. Ao usar bombas, Link arremessa uma série de explosivos nos inimigos, enquanto Zelda invoca uma espécie de Guardião (que pode ser controlado pelo jogador) que caminha pelo cenário disparando bombas. Isso ajuda a diferenciar ainda mais cada personagem, já que no primeiro Hyrule Warriors equipamentos como bombas, gancho ou arco eram iguais para todos os personagens.

O jogo ainda utiliza várias mecânicas presentes em Breath of Wild, ainda que aplicando-as ao seu modo. Cozinhar alimentos, por exemplo, é algo que pode ser feito no início de cada missão e cada prato oferece uma bonificação diferente. Vasculhar o mapa por sementes Korok também está presente, embora pelo demo ainda não seja possível dizer a função delas. Diferente de BoW, no entanto, aqui as receitas precisam primeiro ser aprendidas antes de serem utilizadas e isso pode ser feito completando algumas missões ou atendendo aos pedidos de recursos de NPCs.

Entre uma missão e outra o jogador tem uma visão do mapa de Hyrule, no qual pode visualizar as próximas missões além de entrepostos comerciais e NPCs pedindo recursos. Atender aos pedidos dos NPCs ajuda a desenvolver cada região de Hyrule, além de recompensar o jogador com receitas, equipamentos, golpes ou mesmo novos mercadores de onde comprar. O mapa tem o mesmo visual de Breath of the Wild ainda que as localidades estejam obviamente diferente já que tudo se passa 100 anos antes da destruição provocada por Ganon. Todo o jogo, na verdade, é visualmente bem fiel a BoW, reforçando a impressão de que é tudo no mesmo universo.

Com um combate ágil, personagens bacanas e uma narrativa com o potencial de ampliar nossa compreensão do universo de Breath of the Wild, a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity nos deixou muito empolgados pelo produto final, que será lançado para Switch em 20 de novembro.


Trailer

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Nome da Rosa

 

Análise Crítica – O Nome da Rosa

Escrito por Umberto Eco, o romance O Nome da Rosa promoveu a quebra de uma série de paradigmas quando foi lançado em 1980. Era uma narrativa policial passada no período medieval protagonizada por um detetive arguto, extremamente racional, nos moldes de Sherlock Holmes, que, ainda assim, falhava em desvendar o crime e encontrava o culpado apenas por acidente. Isso colocava em questão a exaltação à racionalidade feita pelo gênero, ponderando sobre a complexidade e a não linearidade do conhecimento.

Com o sucesso feito pelo romance era inevitável que houvesse uma adaptação para os cinemas. Em 1986 foi lançada a adaptação para cinemas dirigida por Jean-Jacques Annoud e estrelada por Sean Connery. O filme era um pouco mais convencional do que o romance, já que nele o protagonista de fato resolvia o crime, inclusive já explicando a resolução na metade da narrativa enquanto os líderes da abadia na qual os assassinatos aconteciam se recusavam a acreditar nas deduções do protagonista. Deduções essas que vinham se confirmar ao final. Desta maneira, a versão para os cinemas de O Nome da Rosa não tem o questionamento de paradigmas das narrativas investigativas trazida pelo livro e com isso boa parte do impacto do texto de Eco, mas isso não o faz ser necessariamente um produto ruim.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Torre das Donzelas

Análise Crítica – Torre das Donzelas

O Brasil nunca passou plenamente à limpo o período da ditadura militar. Nunca confrontamos diretamente o que aconteceu naquele momento da nossa história tampouco conseguimos resgatar ou trazer à tona os eventos que foram ocultados e enterrados. Essas lacunas na memória do período e ausência reverberam ainda hoje e são parte das razões de nos últimos anos termos visto a ascensão de negacionistas históricos a altos cargos de poder.

Este Torre das Donzelas toma para si a tarefa de reconstruir parte dessas memórias do período da ditadura e violações cometidas pelo regime ao contar a história de mulheres que foram presas e torturadas nesta época. O filme conta a história de detentas do Presídio Tiradentes, apelidado de Torre das Donzelas justamente por ser um presídio feminino.

O documentário ouve diferentes ex-detentas do local, inclusive a ex-presidente Dilma Roussef, transformando o testemunho dessas mulheres no principal meio de reconstrução desse passado ausente do qual não há registro formal. Durante os testemunhos vemos como a memória não se apresenta apenas na fala das entrevistadas, mas também em seus corpos, no modo como elas reagem quando entram no espaço vazio de ficavam suas antigas celas. As vozes embargadas, as inflexões tremidas presentes em momentos que mencionam algumas das experiências mais traumáticas mostram como elas ainda carregam consigo as marcas do passado.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Crítica – Borat: Fita de Cinema Seguinte

 

Análise Crítica – Borat: Fita de Cinema Seguinte

Review – Borat: Fita de Cinema Seguinte
O primeiro Borat (2006) chamava atenção por suas imagens de cunho semi-documental na qual o fictício repórter do Cazaquistão interagia com pessoas reais dos Estados Unidos e expunha o preconceito, a intolerância e a xenofobia do país. Repetir esse tipo de personagem hoje, mais de uma década depois, e com o fato dos EUA terem um presidente que costumeiramente dá declarações abertamente racista, além de literais nazistas fazendo marchas pelas ruas, provavelmente não traria o mesmo impacto. O comediante Sacha Baron Cohen parece saber disso e neste Borat: Fita de Cinema Seguinte investe mais em uma trama melhor construída e menos nesses esquetes soltos em que ele interage com anônimos.

Na trama, descobrimos que depois dos eventos do primeiro filme Borat (Sacha Baron Cohen) ficou preso em uma gulag sendo submetido a trabalhos forçados. Ele é retirado da gulag a pedido do primeiro ministro do Cazaquistão, que lhe dá a missão de ir aos Estados Unidos para entregar um presente ao vice-presidente Mike Pence e assim recuperar o prestígio do Cazaquistão. Na viagem Borat é acompanhado por Tutar (Maria Bakalova), a filha caçula que ele nem sabia que tinha. Assim, a narrativa é mais sobre essa relação entre Borat e Tutar do que os momentos semi-documentais, ainda que eles continuem presentes.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Crítica – Noturno

Análise Crítica – Noturno

Review – Noturno
Produzido pela Blumhouse, o terror Noturno parte da familiar premissa do conflito entre duas irmãs. Juliet (Sydney Sweeney) e Vivian (Madison Iseman) são gêmeas que estudam em um colégio interno voltado para o ensino de artes e ambas estudam piano. Vivian é popular, tem o melhor professor de piano da escola e conseguiu ser aceita na prestigiosa Julliard. Juliet, por outro lado, não tem nada disso. Farta de viver à sombra da irmã, Juliet vê uma oportunidade ao encontrar o caderno de uma colega que cometeu suicídio. No caderno ele encontra desenhos macabros que talvez tenham um significado oculto que a ajude a ter sucesso.

O primeiro acerto do filme é manter ambíguos seus elementos sobrenaturais. Afinal, Juliet de fato vendeu a alma ao diabo para conseguir superar a irmã? Ou na verdade ela está surtando por conta da pressão e ansiedade que sente ao não corresponder ao que os pais e ela mesma espera de si? Essa incerteza contribui para boa parte do suspense e da tensão, já que não sabemos com certeza qual a causa dos problemas da protagonista. Nesse sentido, a trama consegue criar imagens bem sinistras quando Juliet parece ver os desenhos do caderno ganhando vida diante de seus olhos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Crítica – Vigiados

 

Análise  Crítica – Vigiados

Review – Vigiados
Dirigido por Dave Franco este Vigiados começa como um suspense no qual as tensões emergem das relações problemáticas entre os protagonistas. O que começa promissor, logo se torna desinteressante quando chega o momento de fazer as tensões de fato explodirem.

Na trama, dois casais alugam uma luxuosa casa à beira mar para passar um final de semana. Charlie (Dan Stevens) e Michelle (Alison Brie) vão para a propriedade acompanhados de Josh (Jeremy Allen White), irmão de Charlie, e Mina (Sheila Vand), namorada de Josh e sócia de Charlie. A chegada à casa traz algumas tensões envolvendo o preconceituoso gestor da propriedade e, aos poucos, percebemos também que a relação entre os quatro não é o que parece, com muitas tensões latentes.

A primeira metade da narrativa trabalha com certa habilidade as tensões subjacentes entre esses protagonistas. De maneira muito sutil vemos como Charlie e Josh guardam certas mágoas em relação ao outro, como Michelle parece deslocada em seu relacionamento com Charlie ou a impressão de que Mina e Charlie talvez tenham algo mais entre eles além de serem apenas parceiros de negócios.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 3)

 

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 3)

Review – Lovecraft Country (Parte 3)
Nas duas partes anteriores da análise de Lovecraft Country falei como a série trabalhava com vários elementos típicos do terror e da fantasia para falar de elementos da experiência negra nos EUA. Avisamos que o texto abaixo contem SPOILERS.

A questão da brutalidade policial, por exemplo, aparece no oitavo episódio, que lida com o trauma coletivo da morte de Emmett Till, um brutal crime real que chocou (e choca ainda hoje) tanto pela violência do crime quanto pela sua motivação banal (ele supostamente teria assoviado para uma mulher branca) e pelo fato dos assassinos terem ficado impune.

A ideia de que as autoridades detêm um controle e poder sobre as vidas da população negra é ilustrada pelo arco de Dee (Jada Harris) ao longo do episódio. Amaldiçoada por um policial que faz parte do culto em busca do sangue de Tic, Dee começa a ser perseguida por duas entidades que se parecem como duas garotas gêmeas em blackface, maquiadas para reproduzirem traços da população negra de maneira caricatural e deturpada. A lógica da maldição se assemelha a da criatura de Corrente do Mal (2014), que não para de seguir o alvo até matá-lo, enquanto da ideia de alguém ser perseguido por um duplo deturpado remete a Nós (2018), do Jordan Peele, um dos produtores da série.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 2)

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 2)


Review – Lovecraft Country (Parte 2)
Na primeira parte do texto sobre Lovecraft Country, falei sobre como a série usava o terror e a fantasia para abordar os elementos das vivências negras nos EUA, usando monstros, assombrações, cultos e outros elementos como metáforas para processos de racismo, exploração e desigualdade social. Nessa segunda parte vou tentar observar como a série lida com questões de identidade e a construção de papeis sociais aferidos a negros ou a mulheres. Avisamos que o texto contem SPOILERS.

O quarto episódio continua a expandir o jogo que a série faz com certos elementos da ficção de horror, fantasia ou aventura ao inserir os personagens em uma trama que poderia tranquilamente ter saído de filmes como Indiana Jones ou A Lenda do Tesouro Perdido (2004). Ao procurar um cofre secreto do culto liderado pela família Braithwhite, eles começam a explorar as catacumbas de um museu que, logicamente, está repleta de armadilhas.

Os diálogos entre Tic, Leti e Montrose explicitam a natureza autoconsciente do episódio, com o trio usando o conhecimento de narrativas de aventura para pautar como devem prosseguir pelos testes e tribulações impostos pelo labirinto. Até mesmo a música de fundo do episódio, com um uso constante de instrumentos metálicos, remete às composições de John Williams para os filmes do Indiana Jones.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Crítica – Os 7 de Chicago

 

Análise Crítica – Os 7 de Chicago

Review – Os 7 de Chicago
Em 1962 John F. Kennedy disse em um discurso algo que em português poderia ser traduzido como “aqueles que fazem revoluções pacíficas serem impossíveis, tornam revoluções violentas inevitáveis”. Essa frase não está ligada aos eventos reais retratados neste Os 7 de Chicago, produção da Netflix escrita e dirigida por Aaron Sorkin, mas veio à minha mente em alguns momentos durante o filme.

A trama narra os eventos reais do julgamento de sete líderes de movimentos contra a Guerra do Vietnã, presos sob a acusação de terem incitado a multidão contra a polícia de Chicago durante um protesto que terminou de maneira violenta. Chamados de “os 7 de Chicago”, o julgamento do grupo teve alta cobertura da imprensa e chamou a atenção pelo modo como muito do devido processo legal era jogado pela janela apenas para condená-los.

O estilo de Sorkin já se manifesta na montagem inicial que traz imagens de arquivo sobre os protestos contra o Vietnã que já aconteciam anos antes dos eventos em Chicago. Imagens de Martin Luther King e Robert Kennedy discursando contra a guerra são abruptamente interrompidas por uma tela preta acompanhada pelo som de tiros para nos lembrar que eles foram assassinados e denotar o silenciamento das vozes que se manifestavam contra o Vietnã. A ideia parece associar como esse sistemático esforço de suprimir vozes e ações contra a guerra desembocaram nos protestos de Chicago.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Crítica – Genshin Impact

 

Análise Crítica – Genshin Impact

Review – Genshin Impact
Os primeiros trailers de Genshin Impact chamavam atenção pelo tanto que os gráficos e jogabilidade pareciam similares a The Legend of Zelda: Breath of the Wild ao ponto que indagações a respeito se isso configuraria plágio ou não começavam a ser ventiladas. As preocupações sobre o jogo aumentaram quando foi anunciado que seria um RPG gratuito com mecânicas de microtransações para obter mais personagens e equipamentos, o que levantava a questão se ele seria mais um daqueles jogos gratuitos impossíveis de progredir sem gastar. Lançado recentemente para Playstation 4, PC e celulares, Genshin Impact de fato tem muito de similar a Breath of the Wild e de fato possui microtransações, mas também tem alguns méritos próprios que fazem a experiência valer a pena.

A história se passa no mundo de Teyvat no qual algumas pessoas escolhidas por deuses recebem uma Visão, pedras mágicas que conferem poderes especiais aos portadores. O jogador começa como um viajante vindo de outro mundo tentando encontrar a irmã (ou irmão, depende de qual personagem você escolher no início) de quem se perdeu. A partir daí se inicia uma longa jornada por este mundo para desvendar seus segredos e as verdades ocultas sobre os deuses.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 1)

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 1)


Review – Lovecraft Country (Parte 1)
Adaptando o livro Território Lovecraft de Matt Ruff, a série Lovecraft Country traz uma releitura da mitologia criada pelo autor H.P Lovecraft, bem como de vários outros elementos típicos do terror e da fantasia, a partir das experiências da população negra dos Estados Unidos. É um movimento importante não apenas por questões de representatividade, mas por tentar responder a questão do que fazemos com as obras de autores que sabemos terem sido péssimas pessoas?

Lovecraft era racista. Quando digo isso não quero dizer que ele apenas aderia ao racismo estrutural de sua época como a maioria das pessoas brancas que lhe eram contemporâneas. Lovecraft era ativamente racista, adepto a um discurso de supremacia branca que ia muito além do racismo estrutural. Nesse sentido, reapropriar a obra dele a partir da cultura e da vivência negras é um modo de revelar como a obra pode ir além do autor, pode sobreviver às limitações e falhas dele, pode até ser usada para tentar reparar a visão de mundo excludente e preconceituosa que esse autor ajudou a disseminar.

A trama da série se passa nos Estados Unidos da década de 50 e é focada em Atticus (Jonathan Majors), também chamado de Tic. Quando o pai de Tic, Montrose (Michael K. Williams), desaparece misteriosamente ele, a amiga Leti (Jurnee Smolett) e o tio George (Courtney B. Vance) embarcam em uma viagem pelo interior dos EUA. A viagem os colocará em rota de colisão com um antigo e poderoso culto, além de revelar segredos a respeito da família de Tic.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Crítica – Sob Pressão: Plantão Covid

Análise Crítica – Sob Pressão: Plantão Covid

Review – Sob Pressão: Plantão Covid
Baseada no filme homônimo dirigido por Andrucha Waddington, Sob Pressão é provavelmente a melhor série brasileira em exibição hoje. A pandemia paralisou muito das atividades dos setores audiovisuais no Brasil, mas a série conseguiu realizar dois  episódios especiais com os médicos lidando com o combate à pandemia basicamente porque as situações em que esses personagens estariam exigiria um equipamento de proteção, o que tornaria possível as gravações sem sacrificar a segurança do elenco e equipe.

Na trama, Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) são chamados para trabalhar em um hospital de campanha depois de um tempo prestando serviço em uma ONG atendendo pessoas carentes em localidades remotas. No hospital de campanha, encontram um cotidiano tenso ao lidarem com uma doença que ainda não entendem completamente, superlotação, falta de equipamento e riscos de contaminação. Ocasionalmente o texto derrapa em alguns diálogos um pouco didáticos e expositivos demais sobre as situações em que os personagens se encontram, mas são momentos pequenos diante da força que o especial consegue construir.