Eu não estava lá muito empolgado
por essa nova versão de Adoráveis
Mulheres. A versão de 1994 protagonizada por Winona Ryder continua a se
sustentar muito bem hoje e a única coisa que dava a impressão de que não seria
um produto caça-níqueis era a presença de Greta Gerwig, responsável pelo ótimo Lady Bird (2018), como diretora e roteirista
do longa.
A trama acompanha a saga da
família March durante a Guerra de Secessão dos Estados Unidos. A filha mais
velha, Jo (Saiorse Ronan), serve como a narradora da história contando os
percalços dela, de suas irmãs e da mãe depois que o pai vai servir na guerra.
Nesta versão Gerwig opta por desenvolver a trama de maneira não linear, o que
inicialmente parece um mero floreio feito para diferenciar esta versão das
demais, mas conforme o filme avança consegue justificar o seu uso.
Considerando que é uma adaptação
de uma obra literária que já recebeu várias adaptações em filme e série,
logicamente há pouco a ser dito aqui que outras versões já não tenham dito
sobre esta história, mas é tudo tão bem conduzido que é difícil não se deixar
envolver mais uma vez pelas March.
O elenco consegue tornar crível a
ligação fraternal entre as irmãs Jo, Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e
Beth (Eliza Scanlan), nos convencendo de que essas pessoas se conhecem desde
sempre e são capazes de dizer muito uma para outra apenas com um olhar ou um
gesto, como na cena em que Jo deduz que foi Amy quem roubou o manuscrito de seu
livro. Além das quatro irmãs, o resto do elenco coadjuvante é igualmente
competente, de Meryl Streep como uma tia sem papas na língua passando por Laura
Dern como a matriarca March em um papel mais discreto do que as personagens que
ela tem feito nos últimos anos, mas que traz em si a natureza resignada,
empática e cheia de afeto.
Afeto, aliás, é a força motriz da
trama, na qual são esses laços de afeto e sororidade que fazem as personagens
aguentarem os desafios que se impõem a elas constantemente. Desafios que
nascem, em grande medida, apenas pelo fato de serem mulheres em uma sociedade que
lhes relega apenas ao papel de esposas e lhes tira a possibilidade de escolher
por conta própria o que fazer da própria vida. A vida dessas personagens não é
só sofrimento, no entanto, e o texto injeta uma boa dose de humor e sentimento
nas trajetórias das protagonistas.
Nesse sentido, a trama se torna
até mais atual, já que esses temas de igualdade e da necessidade de olharmos o
mundo sob uma perspectiva feminina estão ainda mais em voga hoje do que na
década de noventa quanto a versão anterior foi lançada e a maneira com a qual
Gerwig conta sua história nos faz ver o quanto avançamos pouco da época em que
a trama se passa aos dias de hoje.
Falando em estrutura narrativa, a
escolha por narrar a trama de maneira não linear consegue construir através da
montagem paralelismos ou contraposições impactantes entre o passado e o
presente das personagens. Um exemplo é a cena que mostra Jo acordando depois de
passar a noite cuidando de Beth. No passado a cena é tomada por tons
alaranjados e saturados, cores quentes que ajudam a transmitir o afeto e calor
humano daquela família em uma manhã de Natal, enquanto que no presente a cena é
cheia de tons azuis em baixa saturação, cores frias que ajudam a construir o
sentimento de tristeza pelo falecimento da irmã (e não, isso não é spoiler,
afinal trata-se da adaptação de uma obra literária de mais de 100 anos).
Deste modo, mesmo não sendo nada
radicalmente diferente de outras versões Adoráveis
Mulheres ainda é uma trama deliciosa e envolvente, cheio de afeto, emoção e
personagens carismáticas.
Nota: 8/10
Trailer
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2 comentários:
Vai ter critica de CATS? vulgo melhor filme dos últimos 50 anos
Como Cats não foi exibido para a imprensa em Salvador e eu não estou disposto a pagar ingresso pra assistir, ainda deve demorar um pouco para sair, mas eventualmente farei.
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