Na mesma semana que estreia Kursk: A Última Missão também chega aos
cinemas outro filme sobre pessoas presas em uma instalação submarina neste Ameaça Profunda. Não que eles vão
competir diretamente por público, já que o primeiro é um drama baseado em uma
história real e o segundo é uma ficção de terror, mas não deixa de ser curioso
que dois filmes com ambientação parecida estreiem no mesmo dia.
A trama é centrada em Norah
(Kristen Stewart), uma engenheira mecânica que fica presa em uma instalação
submarina de perfuração em um dos pontos mais profundos do oceano. Depois que
um aparente terremoto destrói parte do complexo, ela e mais alguns
sobreviventes precisam achar alguma maneira de escapar.
O início tenta criar algum
suspense acerca do que está acontecendo, mas como alguns letreiros durante os
créditos iniciais já falam que criaturas estranhas estavam sendo avistadas ao
redor da instalação, então fica óbvio desde o início que eles não estão diante
de um desastre natural, mas de algum horror abissal saído das profundezas. A
falta de qualquer construção de atmosfera e tensão é um problema que acompanha
o filme em sua integralidade, já que ao invés de ir trabalhando o suspense o
filme opta pelo choque fácil de jogar a esmo sustos surpresa na tela.
Esses jumpscares nunca funcionam porque são bastante previsíveis. Basta a
câmera se deter por mais tempo que o normal em algum canto escuro que já sei
que algum bicho ou cadáver vai pular na tela. Como é fácil prever a vinda dos
sustos, eles nunca conseguem surtir o efeito desejado. Não ajuda que as mortes
também falhem em chocar ou impressionar como deveriam. O mesmo pode ser dito
das criaturas, cujo visual muitas vezes remete a monstros de outros filmes de
terror, como Alien: O Oitavo Passageiro (1979),
com a gigantesca criatura que aparece no final sendo a única exceção em termos
de inventividade visual.
Falando em Alien, fica relativamente a ambição da fita em ser uma espécie de
versão submarina do filme de Ridley Scott, mas Ameaça Profunda carece de substância para tal tanto em termos da
criação de um sentimento de temor, quanto de desenvolvimento de personagem ou
de universo. Ainda assim o filme insiste em reproduzir imagens chave da obra de
Scott, como a cena em que Norah e os demais examinam uma criatura em cima de
uma mesa, remetendo a cena da mesa em Alien,
ou as cenas de Nora caminhando pela instalação apenas de calcinha e sutiã de
maneira muito similar à Ripley vivida por Sigourney Weaver.
Os diálogos são predominantemente
expositivos, com os personagens explicando não só o que está acontecendo, como
o que sentem e o que pensam. Tudo é dito, mas nada é efetivamente sentido. Se
dois personagens não falassem explicitamente que estão em um relacionamento,
seria impossível deduzir tal informação, já que eles nunca demonstram isso. Do
mesmo modo, se Norah não falasse do seu pesar pela morte do noivo, nunca
teríamos como saber como a personagem está se sentindo.
Aliás, todo esse arco do trauma
afetivo da personagem é porcamente desenvolvido, sendo esquecido durante boa
parte do filme e só retornando nos últimos minutos para justificar uma decisão
da personagem que não careceria desses elementos para ser justificada. No
final, toda a questão afetiva dela faz pouca diferença. O comediante T.J Miller completa o elenco e faz o mesmo tipo engraçadinho que faz em toda produção da
qual participa, no entanto o problema é menos a repetição e mais o modo como o
texto faz dele um sujeito tão inconveniente que eu efetivamente torci para que
ele morresse logo.
Apesar de toda a exposição
contida nos diálogos, o texto é incapaz de nos fazer entender a lógica espacial
daquelas instalações submarinas, como funciona ou qual a especialidade de cada
personagem. O que faz todo esse universo soar vago, frouxamente desenvolvido e
carecendo de personalidade própria. A própria corporação para a qual os
personagens trabalham que parece fazer questão de ocultar os incidentes soa
como uma reprodução da Weyland-Yutani de Alien.
Ameaça Profunda é, portanto, um terror vazio, genérico e incapaz de
causar medo ou tensão.
Nota: 3/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário