sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Crítica – Drácula


Análise Crítica – Drácula


Review – Drácula
A história do Conde Drácula, criado na literatura pelo irlandês Bram Stoker, já foi contada tantas vezes que uma nova versão dificilmente despertaria a atenção de alguém a essa altura. Esta minissérie Drácula, no entanto, capturou meu interesse quando soube que Mark Gatiss e Stephen Moffat, os responsáveis por trazerem Sherlock Holmes para a contemporaneidade com Sherlock, estavam à frente dessa releitura sobre o vampiro da Transilvânia.

A trama segue o Conde Drácula (Claes Bang) através das eras. O conhecemos primeiro através do relato de Jonathan Harker (John Heffernan), um advogado britânico que vai ao castelo de Drácula para finalizar alguns negócios e se torna presa do vampiro. É interessante que como a minissérie consegue pegar os principais pontos-chave da trama, como a ida de Harker ao castelo, a viagem de navio de Drácula para a Inglaterra ou o ataque a Lucy Westenra (Lydia West) e os apresenta sob um prisma totalmente novo. Assim, mesmo tratando de uma história que já conhecemos e com personagens familiares, a narrativa consegue apresentar frescor suficiente para nos manter engajados.

Claes Bang é o melhor Drácula da ficção em muito tempo, conseguindo ser simultaneamente sedutor e assustador. Seu vampiro é um nobre erudito com séculos de sabedoria acumulada, cheio de engenhosidade, ironia e um profundo entendimento da natureza humana que o faz manipular com facilidade suas vítimas. Ao mesmo tempo, é também uma besta voraz que mal consegue se controlar ao ver sangue, um predador selvagem capaz de atos de extrema crueldade.

A trama é menos interessada em Drácula meramente como um monstro assustador e mais em entender o que move tal criatura, em entender o que motiva ele a escolher suas presas ou mesmo quais as razões específicas de suas fraquezas, como a cruz ou a luz do sol. Esses traços do personagem, que em outras versões parecia arbitrário ou simplesmente seguia as antigas lendas, são tratados aqui de uma maneira mais psicológica, tentando explicar porque certas coisas teriam efeito em uma entidade imortal maldita como Drácula.

O Conde encontra uma adversária a altura na freira Agatha (Dolly Wells), uma mulher tão astuta e focada quanto o próprio vampiro, iniciando uma rivalidade que irá perdurar por gerações. Wells faz de Agatha uma pessoa direta, de maneirismos secos e mente inquisitiva e dedicada a entender seu oponente. O conhecimento dela em relação às fraquezas do Conde é responsável por alguns dos embates mais tensos da série, como o confronto na porta do convento, no qual ela aproveita o fato de que ele não pode entrar em um local sem ser convidado, ou no navio quando Agatha tenta repelir o vampiro com símbolos religiosos. Ainda assim, algumas conveniências e coincidências postas pelo roteiro incomodam um pouco pela facilidade com a qual resolvem certas situações, como a revelação de que uma determinada personagem tem câncer, tornando-a imune ao apetite de Drácula.

Além de um competente estudo de personagem, tanto de Drácula quanto Agatha, a série também é eficiente em criar imagens verdadeiramente sinistras, a exemplo do corpo queimado de Lucy que nos permite ver até os ossos sob a pela ou a cena em que Drácula retorna à forma humana depois de ser transformado em cachorro. Os diálogos têm a mesma agilidade e sarcasmo que tornaram Sherlockmarcante, como na cena em que Harker pergunta a Agatha porque ela é freira apesar de não acreditar em Deus e a freira se compara a uma mulher em um infeliz casamento de conveniência.

Assim, Drácula consegue ser uma inteligente reimaginação da clássica história de vampiro, trazendo um senso de novidade e contemporaneidade a uma trama que já tinha ficado excessivamente previsível.

Nota: 8/10


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