A história do Conde Drácula,
criado na literatura pelo irlandês Bram Stoker, já foi contada tantas vezes
que uma nova versão dificilmente despertaria a atenção de alguém a essa altura.
Esta minissérie Drácula, no entanto,
capturou meu interesse quando soube que Mark Gatiss e Stephen Moffat, os
responsáveis por trazerem Sherlock Holmes para a contemporaneidade com Sherlock, estavam à frente dessa
releitura sobre o vampiro da Transilvânia.
A trama segue o Conde Drácula
(Claes Bang) através das eras. O conhecemos primeiro através do relato de
Jonathan Harker (John Heffernan), um advogado britânico que vai ao castelo de
Drácula para finalizar alguns negócios e se torna presa do vampiro. É
interessante que como a minissérie consegue pegar os principais pontos-chave da
trama, como a ida de Harker ao castelo, a viagem de navio de Drácula para a
Inglaterra ou o ataque a Lucy Westenra (Lydia West) e os apresenta sob um
prisma totalmente novo. Assim, mesmo tratando de uma história que já conhecemos
e com personagens familiares, a narrativa consegue apresentar frescor
suficiente para nos manter engajados.
Claes Bang é o melhor Drácula da
ficção em muito tempo, conseguindo ser simultaneamente sedutor e assustador.
Seu vampiro é um nobre erudito com séculos de sabedoria acumulada, cheio de
engenhosidade, ironia e um profundo entendimento da natureza humana que o faz
manipular com facilidade suas vítimas. Ao mesmo tempo, é também uma besta voraz
que mal consegue se controlar ao ver sangue, um predador selvagem capaz de atos
de extrema crueldade.
A trama é menos interessada em
Drácula meramente como um monstro assustador e mais em entender o que move tal
criatura, em entender o que motiva ele a escolher suas presas ou mesmo quais as
razões específicas de suas fraquezas, como a cruz ou a luz do sol. Esses traços
do personagem, que em outras versões parecia arbitrário ou simplesmente seguia
as antigas lendas, são tratados aqui de uma maneira mais psicológica, tentando
explicar porque certas coisas teriam efeito em uma entidade imortal maldita
como Drácula.
O Conde encontra uma adversária a
altura na freira Agatha (Dolly Wells), uma mulher tão astuta e focada quanto o
próprio vampiro, iniciando uma rivalidade que irá perdurar por gerações. Wells
faz de Agatha uma pessoa direta, de maneirismos secos e mente inquisitiva e
dedicada a entender seu oponente. O conhecimento dela em relação às fraquezas
do Conde é responsável por alguns dos embates mais tensos da série, como o
confronto na porta do convento, no qual ela aproveita o fato de que ele não
pode entrar em um local sem ser convidado, ou no navio quando Agatha tenta
repelir o vampiro com símbolos religiosos. Ainda assim, algumas conveniências e
coincidências postas pelo roteiro incomodam um pouco pela facilidade com a qual
resolvem certas situações, como a revelação de que uma determinada personagem
tem câncer, tornando-a imune ao apetite de Drácula.
Além de um competente estudo de
personagem, tanto de Drácula quanto Agatha, a série também é eficiente em criar
imagens verdadeiramente sinistras, a exemplo do corpo queimado de Lucy que nos
permite ver até os ossos sob a pela ou a cena em que Drácula retorna à forma
humana depois de ser transformado em cachorro. Os diálogos têm a mesma
agilidade e sarcasmo que tornaram Sherlockmarcante, como na cena em que Harker pergunta a Agatha porque ela é freira
apesar de não acreditar em Deus e a freira se compara a uma mulher em um
infeliz casamento de conveniência.
Assim, Drácula consegue ser uma inteligente reimaginação da clássica
história de vampiro, trazendo um senso de novidade e contemporaneidade a uma
trama que já tinha ficado excessivamente previsível.
Nota: 8/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário