terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Crítica – Fred Rogers: O Padrinho da Criançada


Análise Crítica – Fred Rogers: O Padrinho da Criançada


Review – Fred Rogers: O Padrinho da Criançada
Filmes, documentários ou ficção, sobre pessoas que são lembradas pela sua bondade, gentileza ou caridade muitas vezes caem na armadilha de retratar seus biografados como pessoas puras e perfeitas, construindo-os mais como santos do que seres humanos e acabam falhando em compreender exatamente quem era aquela pessoa ou as razões dela em ser daquele jeito. Temi que este Fred Rogers: O Padrinho da Criançada que narra a trajetória do apresentador infantil Fred Rogers, caísse nesse erro, mas felizmente há um esforço genuíno em compreender o famoso Mr. Rogers.

Famoso pela maneira como conseguia se comunicar com crianças e falar com elas de maneira aberta e sincera até mesmo sobre temas difíceis como luto ou o divórcio dos pais, Fred Rogers é referência nos Estados Unidos em como construir um programa infantil. Sua atração, intitulada Mr. Rogers Neighborhood (“a vizinhança do Sr. Rogers” em português), se manteve no ar por décadas em uma emissora pública de cunho educativo.

Recorrendo a entrevistas e imagens de arquivo, com o próprio Fred (falecido em 2003), seus familiares e colegas de trabalho, o documentário tenta entender o processo criativo envolvendo a atração. Vemos o pensamento de Fred sobre como a televisão voltada para crianças deveria ser e suas críticas à programação que meramente pensa em estimular o consumo infantil. Fred também era um defensor do potencial formador da televisão e da necessidade de emissoras públicas voltadas para esse ideal. O filme inclusive nos mostra a defesa dele da televisão pública perante o senado estadunidense e como seu conhecimento e doçura conseguem convencer os senadores a manterem o financiamento da PBS, emissora educativa pública do país.


Através de imagens de arquivo vemos como os programas usavam uma linguagem acessível para falar com crianças sobre temas complicados e a preocupação de Rogers com uma educação sentimental dos pequenos. As entrevistas mostram o impacto positivo que o apresentador teve nas vidas das crianças com quem teve contato e o mesmo pode ser dito de seus colegas de trabalho.

Ao invés de tratar Rogers como um santo naturalmente bom e perfeito, há um esforço genuíno do documentário em tentar entender as motivações do comunicador. A narrativa examina a infância solitária e reprimida de Rogers, recorrendo a animações para ilustrar as memórias e a imaginação de seu biografado, mostrando como essas experiências fizeram dele uma pessoa preocupada em ajudar as crianças a lidar com seus sentimentos.

Por todo o impacto positivo de Rogers, o filme não deixa de mostrar os erros do biografado, como a decisão dele de manter no armário e estimular um casamento de fachada a um colega de trabalho gay. Há também um esforço de responder as principais críticas feitas à pedagogia defendida por Rogers sobre falar de como todos são especiais e dignos de afeto. Desta maneira, a narrativa mostra os anseios e inseguranças de Rogers, mostrando a humanidade do apresentador ao invés de sacralizá-lo, o que, talvez, tenha sido a decisão mais coerente com a trajetória de Rogers tomada pelo filme. Elevá-lo à santidade seria remover de Rogers o humanismo que ele defendeu durante toda sua vida.

Fred Rogers: O Padrinho da Criançada faz um retrato conciso, mas bastante amplo da figura de seu biografado, lembrando como o cuidado e doçura de Fred Rogers o fez ser adorado por gerações.

Nota: 8/10

Trailer

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