Judy Garland é um dos nomes mais
reconhecidos da “Era de Ouro” de Hollywood, período que vai dos anos de 1930
aos anos 1960. A vida de Garland não foi fácil e ao longo de sua carreira ela
enfrentou um sem número de problemas e desilusões que desembocaram na sua
eventual morte por overdose acidental
de medicamentos. Este Judy: Muito Além do
Arco-Íris é uma biografia que narra um dos últimos grandes eventos públicos
da vida de Garland (Renée Zellweger), uma turnê de shows que ela fez pela
Inglaterra em 1968, um período em que estava extremamente endividada e tinha
dificuldades em conseguir trabalho por conta de seu gênio volúvel e seus
problemas com álcool e drogas.
A trama não se situa
exclusivamente neste período de tempo, ocasionalmente mostrando alguns flashbacks do passado para mostrar de
onde vieram as inseguranças de Garland com sua aparência ou seus problemas com
drogas. A cena inicial dá o tom do que o filme mostra como a base dos problemas
da atriz. No momento em questão uma Garland adolescente é informada por Louis
B. Mayer (Richard Cordery), executivo-mor da MGM no período, sobre o fato dela
precisar se esforçar mais do que outras mulheres porque apesar de ter talento,
ela não é bonita ou magra.
Ao longo do filme outros flashbacks mostram como a mãe de Garland
seguia a risca as instruções de Mayer, não deixando a filha comer e enchendo-a
de medicamentos para que ela perdesse a fome e, ao mesmo tempo, tivesse energia
para cantar e dançar. A superposição entre as imagens do passado e presente de
Garland mostra como a atriz teve uma existência como a de um animal de circo ou
um cavalo de corrida, criada e cuidada apenas na medida em que dava retorno
financeiro às pessoas ao seu redor e sendo atendida apenas nas necessidades
imprescindíveis para que ela pudesse subir ao palco, enquanto o resto de suas
demandas físicas e psicológicas são completamente ignoradas.
O problema é que depois de
estabelecer o ponto já nos primeiros minutos do filme, o texto faz pouco para
avançar no exame desses temas, preferindo andar em círculos com várias cenas
redundantes que apenas repetem a relação complicada de Garland com a mãe e com
Mayer e como isso produziu as inseguranças presentes dela. Inclusive a atriz
passou por uma série de outros traumas, incluindo violência sexual, seu
casamento de conveniência com o diretor Vincente Minelli, além de episódios
profundos de depressão que malmente são mencionados ao longo da narrativa.
Quando ela menciona a um médico de maneira passageira que já tentou o suicídio
algumas vezes, o momento não tem impacto algum porque não foi dramaturgicamente
construído. Até então sabíamos de suas inseguranças ou problemas com drogas,
mas o texto não chegou a dar a devida dimensão aos problemas dela para que a
menção aos suicídios ressoasse em nós.
Também é curioso que apesar de
cobrir um período temporal relativamente curto, ainda assim muitos eventos soam
apresentados de maneira demasiadamente apressada, como a relação entre Judy e
Mickey Deans (Finn Whittrock). Mal eles se conhecem e já estão casados, mal se
casam e Deans se torna agente de Garland e mal isso acontece eles já estão se
separando. Do mesmo modo, Liza Minelli (Gemma-Leah Devereux), filha mais velha
de Garland, é jogada de qualquer jeito na trama e acaba tendo pouco impacto ou
repercussão, com sua participação podendo ser cortada tranquilamente sem
grandes danos ao andamento da narrativa.
Apesar das muitas lacunas que
deixam sem impacto alguns momentos, o filme funciona por conta do desempenho de
Renée Zellweger, que entende muito bem o paradoxo que guiava Judy naquele
momento de sua vida. Ao mesmo tempo em que queria uma vida sossegada com os
filhos, ela tinha uma necessidade enorme de ser amada e admirada, fruto da
extrema insegurança que foram plantadas em sua mente desde a juventude.
Zellweger nos faz sentir essa insegurança e tristeza de Judy, assim como o
gênio irascível de alguém que é como um animal que cansou de ser domado e
enjaulado. A atriz também funciona nas cenas musicais, nos mostrando a razão
das performances de Garland serem tão celebradas, a exemplo da cena em que
canta The Trolley Song ou na
performance de Over The Rainbow.
É, portanto, a força da
performance de Renée Zellweger que faz Judy:
Muito Além do Arco-Íris valer a pena, mesmo quando o texto anda em círculos
ao redor das questões que aponta sob sua biografada.
Nota: 6/10
Trailer
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