segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Crítica – Judy: Muito Além do Arco-Íris


Análise Crítica – Judy: Muito Além do Arco-Íris


Review – Judy: Muito Além do Arco-Íris
Judy Garland é um dos nomes mais reconhecidos da “Era de Ouro” de Hollywood, período que vai dos anos de 1930 aos anos 1960. A vida de Garland não foi fácil e ao longo de sua carreira ela enfrentou um sem número de problemas e desilusões que desembocaram na sua eventual morte por overdose acidental de medicamentos. Este Judy: Muito Além do Arco-Íris é uma biografia que narra um dos últimos grandes eventos públicos da vida de Garland (Renée Zellweger), uma turnê de shows que ela fez pela Inglaterra em 1968, um período em que estava extremamente endividada e tinha dificuldades em conseguir trabalho por conta de seu gênio volúvel e seus problemas com álcool e drogas.

A trama não se situa exclusivamente neste período de tempo, ocasionalmente mostrando alguns flashbacks do passado para mostrar de onde vieram as inseguranças de Garland com sua aparência ou seus problemas com drogas. A cena inicial dá o tom do que o filme mostra como a base dos problemas da atriz. No momento em questão uma Garland adolescente é informada por Louis B. Mayer (Richard Cordery), executivo-mor da MGM no período, sobre o fato dela precisar se esforçar mais do que outras mulheres porque apesar de ter talento, ela não é bonita ou magra.

Ao longo do filme outros flashbacks mostram como a mãe de Garland seguia a risca as instruções de Mayer, não deixando a filha comer e enchendo-a de medicamentos para que ela perdesse a fome e, ao mesmo tempo, tivesse energia para cantar e dançar. A superposição entre as imagens do passado e presente de Garland mostra como a atriz teve uma existência como a de um animal de circo ou um cavalo de corrida, criada e cuidada apenas na medida em que dava retorno financeiro às pessoas ao seu redor e sendo atendida apenas nas necessidades imprescindíveis para que ela pudesse subir ao palco, enquanto o resto de suas demandas físicas e psicológicas são completamente ignoradas.

O problema é que depois de estabelecer o ponto já nos primeiros minutos do filme, o texto faz pouco para avançar no exame desses temas, preferindo andar em círculos com várias cenas redundantes que apenas repetem a relação complicada de Garland com a mãe e com Mayer e como isso produziu as inseguranças presentes dela. Inclusive a atriz passou por uma série de outros traumas, incluindo violência sexual, seu casamento de conveniência com o diretor Vincente Minelli, além de episódios profundos de depressão que malmente são mencionados ao longo da narrativa. Quando ela menciona a um médico de maneira passageira que já tentou o suicídio algumas vezes, o momento não tem impacto algum porque não foi dramaturgicamente construído. Até então sabíamos de suas inseguranças ou problemas com drogas, mas o texto não chegou a dar a devida dimensão aos problemas dela para que a menção aos suicídios ressoasse em nós.

Também é curioso que apesar de cobrir um período temporal relativamente curto, ainda assim muitos eventos soam apresentados de maneira demasiadamente apressada, como a relação entre Judy e Mickey Deans (Finn Whittrock). Mal eles se conhecem e já estão casados, mal se casam e Deans se torna agente de Garland e mal isso acontece eles já estão se separando. Do mesmo modo, Liza Minelli (Gemma-Leah Devereux), filha mais velha de Garland, é jogada de qualquer jeito na trama e acaba tendo pouco impacto ou repercussão, com sua participação podendo ser cortada tranquilamente sem grandes danos ao andamento da narrativa.

Apesar das muitas lacunas que deixam sem impacto alguns momentos, o filme funciona por conta do desempenho de Renée Zellweger, que entende muito bem o paradoxo que guiava Judy naquele momento de sua vida. Ao mesmo tempo em que queria uma vida sossegada com os filhos, ela tinha uma necessidade enorme de ser amada e admirada, fruto da extrema insegurança que foram plantadas em sua mente desde a juventude. Zellweger nos faz sentir essa insegurança e tristeza de Judy, assim como o gênio irascível de alguém que é como um animal que cansou de ser domado e enjaulado. A atriz também funciona nas cenas musicais, nos mostrando a razão das performances de Garland serem tão celebradas, a exemplo da cena em que canta The Trolley Song ou na performance de Over The Rainbow.

É, portanto, a força da performance de Renée Zellweger que faz Judy: Muito Além do Arco-Íris valer a pena, mesmo quando o texto anda em círculos ao redor das questões que aponta sob sua biografada.

Nota: 6/10


Trailer

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