Kursk: A Última Missão é um daqueles filmes sobre tragédias reais
feito para levar o público às lágrimas que sempre chega aos cinemas ao menos
uma vez por ano. É tão quadrado e preso aos lugares-comuns desse tipo de
produção que chega ser uma surpresa ver o nome de alguém como Thomas Vinterberg
na cadeira de diretor.
A trama é centrada em Mikhail
(Matthias Schoenarts), um dos oficiais a bordo do submarino nuclear Kursk.
Quando um exercício de treinamento dá errado e um torpedo explode dentro do
submarino, cabe a Mikhail liderar os sobreviventes enquanto esperam o resgate.
Enquanto isso, Tanya (Lea Seydux), esposa de Mikhail, tenta conseguir
informações com as autoridades russas, que teimam em não admitir que não estão
devidamente equipados para o resgate.
A narrativa segue a estrutura
padrão desse tipo de filme, com um começo que mostra esses personagens como
maridos e pais de família (um deles é recém-casado, inclusive) na esperança que
isso seja suficiente para angariar simpatia do público, já que o texto nunca se
esforça para dar personalidades discerníveis a cada um deles ou mesmo ao
próprio Mikhail, figura central da trama, mostrado apenas como um pai de família,
como se isso bastasse em termos de construção de personagem.
A partir do momento em que a
catástrofe acontece, o filme demonstra que não tem muito fôlego para sustentar
suas duas horas de duração. Vemos imagens dos marinheiros sofrendo com frio e pouco
oxigênio, imagens das esposas chorando e imagens das tentativas de resgate
frustradas por conta do equipamento defasado do governo russo. Esse ciclo se
repete sem parar até o final da projeção sem que se consiga criar qualquer
momento eficiente de drama. Ocasionalmente oferece alguns momentos tensos, como
quando Mikhail mergulha em uma seção alagada para recuperar os cartuchos do
gerador de oxigênio, mas é muito pouco para quebrar a monotonia e natureza
esquemática da fita.
Em seu terço final a narrativa
tenta oferecer alguns momentos de conexão e emoção entre os marinheiros, mas as
cenas não funcionam porque esses personagens não foram devidamente construídos.
Não sabemos nada sobre eles e até então o texto não fez muito esforço para que
eu criasse vínculos com eles, então essas cenas solicitam do espectador um
engajamento que não foi devidamente construído.
Na verdade, o que acontece fora
do submarino, os esforços de resgate e a recusa do governo russo em aceitar
ajuda internacional, tem mais drama e intriga do que a situação dentro do
Kursk. Assim como a recente série Chernobyl,
vemos a falta de infraestrutura dos russos combinada com a recusa em se abrir
ao mundo como parte do que fez a situação se transformar em uma tragédia.
A questão é que Chernobyl evitava maniqueísmos fáceis de
demonizar os russos e colocar Europa ou Estados Unidos como heróis focando sua
crítica menos num governo específico e mais na postura de obscurantismo,
negação da verdade, da ciência e na insistência em divulgar mentiras,
ponderando as consequências severas dessa negação dos fatos. Aqui, no entanto,
ao contrapor a postura rígida e mentirosa do alto comando russo com a natureza
compassiva do almirante britânico vivido por Colin Firth, o filme reduz uma
questão geopolítica bastante complexa a um dualismo simplório.
Com tantos problemas, Kursk: A Última Missão é um filme
esquemático, repetitivo e superficial com muito pouco a dizer sobre a tragédia
real que retrata.
Nota: 4/10
Trailer
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