segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Crítica – Kursk: A Última Missão


Análise Crítica – Kursk: A Última Missão


Review – Kursk: A Última Missão
Kursk: A Última Missão é um daqueles filmes sobre tragédias reais feito para levar o público às lágrimas que sempre chega aos cinemas ao menos uma vez por ano. É tão quadrado e preso aos lugares-comuns desse tipo de produção que chega ser uma surpresa ver o nome de alguém como Thomas Vinterberg na cadeira de diretor.

A trama é centrada em Mikhail (Matthias Schoenarts), um dos oficiais a bordo do submarino nuclear Kursk. Quando um exercício de treinamento dá errado e um torpedo explode dentro do submarino, cabe a Mikhail liderar os sobreviventes enquanto esperam o resgate. Enquanto isso, Tanya (Lea Seydux), esposa de Mikhail, tenta conseguir informações com as autoridades russas, que teimam em não admitir que não estão devidamente equipados para o resgate.

A narrativa segue a estrutura padrão desse tipo de filme, com um começo que mostra esses personagens como maridos e pais de família (um deles é recém-casado, inclusive) na esperança que isso seja suficiente para angariar simpatia do público, já que o texto nunca se esforça para dar personalidades discerníveis a cada um deles ou mesmo ao próprio Mikhail, figura central da trama, mostrado apenas como um pai de família, como se isso bastasse em termos de construção de personagem.

A partir do momento em que a catástrofe acontece, o filme demonstra que não tem muito fôlego para sustentar suas duas horas de duração. Vemos imagens dos marinheiros sofrendo com frio e pouco oxigênio, imagens das esposas chorando e imagens das tentativas de resgate frustradas por conta do equipamento defasado do governo russo. Esse ciclo se repete sem parar até o final da projeção sem que se consiga criar qualquer momento eficiente de drama. Ocasionalmente oferece alguns momentos tensos, como quando Mikhail mergulha em uma seção alagada para recuperar os cartuchos do gerador de oxigênio, mas é muito pouco para quebrar a monotonia e natureza esquemática da fita.

Em seu terço final a narrativa tenta oferecer alguns momentos de conexão e emoção entre os marinheiros, mas as cenas não funcionam porque esses personagens não foram devidamente construídos. Não sabemos nada sobre eles e até então o texto não fez muito esforço para que eu criasse vínculos com eles, então essas cenas solicitam do espectador um engajamento que não foi devidamente construído.

Na verdade, o que acontece fora do submarino, os esforços de resgate e a recusa do governo russo em aceitar ajuda internacional, tem mais drama e intriga do que a situação dentro do Kursk. Assim como a recente série Chernobyl, vemos a falta de infraestrutura dos russos combinada com a recusa em se abrir ao mundo como parte do que fez a situação se transformar em uma tragédia.

A questão é que Chernobyl evitava maniqueísmos fáceis de demonizar os russos e colocar Europa ou Estados Unidos como heróis focando sua crítica menos num governo específico e mais na postura de obscurantismo, negação da verdade, da ciência e na insistência em divulgar mentiras, ponderando as consequências severas dessa negação dos fatos. Aqui, no entanto, ao contrapor a postura rígida e mentirosa do alto comando russo com a natureza compassiva do almirante britânico vivido por Colin Firth, o filme reduz uma questão geopolítica bastante complexa a um dualismo simplório.

Com tantos problemas, Kursk: A Última Missão é um filme esquemático, repetitivo e superficial com muito pouco a dizer sobre a tragédia real que retrata.

Nota: 4/10


Trailer

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