quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Crítica – Sex Education: 2ª Temporada



Análise Crítica – Sex Education: 2ª Temporada

Review – Sex Education: 2ª Temporada
Quando escrevi sobre a primeira temporada de Sex Education falei sobre o modo como a série construía um relato sobre adolescência, despertar sexual e descobertas afetivas evitando muitos dos clichês de tramas adolescentes e tratando seus personagens com relativa complexidade. Essas qualidades permanecem em seu segundo ano, que deixa de focar só nas questões sexuais e embarca na vida de vários dos garotos da escola de Otis.

Na trama, Otis (Asa Butterfield) finalmente descobriu a masturbação e também começou a namorar com Ola (Patricia Allison). A relação, no entanto, se complica quando Jean (Gillian Anderson), a mãe de Otis, começa a namorar Jakob (Mikael Persbrandt), o pai de Ola. Se complica também quando Maeve (Emma Mackey), retorna à escola, reacendendo os antigos sentimentos de Otis. Jean também começa a passar tempo na escola do filho depois que um aparente surto de DST obriga a escola a rever o currículo de educação sexual e Jean é chamada para ouvir os estudantes.


Essa segunda temporada se divide entre os dramas pessoais de diferentes e, assim como antes, é eficiente em equilibrar o drama e o humor das situações. A relação com Ola e a entrada de Jakob em sua casa faz Otis ser confrontado com a própria imaturidade afetiva e sexual. Se antes ele estava na posição confortável de apenas dar conselhos a outros, agora ele percebe que todo o conhecimento teórico não irá necessariamente ajudar na prática e que relacionamentos não se reduzem a uma mera aplicação de teorias. É interessante que a temporada consiga explorar o quanto os conselhos de Otis para os colegas eram limitados, mas é estranho que ele vá de alguém capaz de ouvir e aconselhar de maneira minimamente razoável para alguém completamente inepto.

O arco de Otis também esbarra em alguns clichês de narrativas adolescentes, como a festa que sai do controle, aparece muito mais gente do que deveria e termina em confusão. Como a série é, em geral, eficiente em evitar esse tipo de lugar comum, é difícil não perceber quando acontece. Ainda assim o episódio da festa vale pela surpresa de ver Asa Butterfield ser tão bom em comédia física e ver Otis dançando bêbado com um frango assado na mão é impagável.

A trama de Aimee (Aimee Lou Wood) mostra como os abusos sexuais cotidianos, muitas vezes considerados “menores” ou menos importantes que formas violência sexual mais explícita, impactam nas mulheres e causam traumas que afetam a relação da personagem com todos ao redor. O texto vai construindo aos poucos o impacto desse trauma, fazendo a personagem mencionar que está preferindo caminhar, evitando contato com o namorado até finalmente mostrar que ela enxerga o agressor em qualquer lugar.

As narrativas envolvendo Jackson (Kedar Williams-Stirling) e Maeve mostram as dificuldades de ambos em lidarem com seus respectivos pais. Jackson sente uma pressão crescente em suas mães pela carreira na natação, algo que ele não deseja e não sabe comunicar. Já Maeve tenta se reaproximar da mãe que é viciada em drogas e precisa tomar decisões bem duras. O arco de Adam (Connor Swindells), por sua vez, acaba funcionando em oposição ao percurso do pai dele, o diretor Groff (Alistair Petrie), ao longo da temporada. Enquanto Adam começa a aceitar quem é e vai se abrindo emocionalmente aos outros, o diretor Groff mostra que é tão reprimido afetiva e sexualmente que afasta todos ao seu redor, erodindo a própria carreira e relacionamentos.

Continuando a equilibrar com habilidade o drama e a comédia, a segunda temporada de Sex Education segue sendo um competente estudo sobre tribulações afetivas e sexuais.

Nota: 8/10


Trailer

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