quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Crítica – Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa


Análise Crítica – Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa


Review – Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa
Admito que não estava esperando muita coisa deste Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa. Pelos trailers eu temi que pudesse ser uma bagunça sem sentido como foi Esquadrão Suicida (2016) ou uma aventura morna como o último As Panteras (2019). Ainda bem que eu estava errado e o resultado é uma aventura acelerada e divertida, ainda que não tenha nada de inédito.

Na trama, Arlequina (Margot Robbie) acabou de se separar do Coringa (que só é citado nominalmente e nunca aparece) e isso coloca um alvo em suas costas, já que sem a proteção do Palhaço do Crime antigos desafetos vão atrás dela. O principal desses desafetos é o mafioso Roman Sionis (Ewan McGregor), também conhecido como Máscara Negra, que está atrás de um diamante que guarda o segredo da fortuna de uma antiga família mafiosa. Para tentar barganhar com Sionis, Arlequina decide encontrar o diamante primeiro, mas além dela outras pessoas perigosas estão atrás do diamante, como a policial Renee Montoya (Rosie Perez), a cantora Dinah Lance (Jurnee Smollett-Bell), conhecida como Canário Negro, e a misteriosa assassina de mafiosos autodenominada Caçadora (Mary Elizabeth Winstead).

Como não houve uma construção anterior dos problemas entre a Arlequina e o Coringa a questão da separação acaba carecendo um pouco de impacto. Isso poderia ser resolvido com algumas inserções do personagem neste filme, mas como a versão vivida por Jared Leto em Esquadrão Suicida (2016) é muito ruim, a do Joaquin Phoenix não se passa no mesmo universo e a Warner parece não saber o que fazer com o personagem, a construção desse relacionamento é inexistente, sendo mais explicada do que sentida.

Claro, Margot Robbie é ótima em nos convencer da energia insana da Arlequina, apresentando tanto sua faceta mais brincalhona como seu lado mais sádico. Além disso, o texto (diferente de outras versões da personagem) também lembra que ela tem um doutorado em psiquiatria e coloca a personagem para usar seu conhecimento de modo a analisar seus adversários e ser capaz de desestabilizá-los.

A estrutura do filme acompanha o processo mental caótico da Arlequina, com idas e vindas no tempo, letras coloridas aparecendo na tela e uma narração da personagem se dirigindo diretamente ao espectador. Isso ajuda o espectador a ficar imerso na cabeça da personagem e entender como o raciocínio dela funciona, mas esse foco na Arlequina significa que as demais personagens acabam não tendo muito tempo para serem desenvolvidas.

Montoya, por exemplo, fica presa ao clichê da policial durona desiludida com o sistema e a Caçadora nunca consegue ir além de uma típica trama de vingança. A narrativa também demora em fazer essas personagens e, com isso, falha em construir algo interessante do conflito de personalidade entre elas. Mais que isso, a falta de desenvolvimento desse vínculo faz o final, com elas conversando e trocando piadinhas, não soar merecido, já que não vimos o desenvolvimento dessa amizade.

Isso não impede que o elenco coadjuvante seja competente em defender suas personagens, seja na dureza de Montoya ou da Caçadora, seja no modo como a Canário está em uma encruzilhada moral entre fazer o que precisa para sobreviver ou fazer o que acredita ser certo. Já Ewan McGregor faz do Máscara Negra uma síntese do homem branco privilegiado que acha que o mundo o deve alguma coisa só por ele ser branco e privilegiado, se comportando de maneira histérica, imatura e violenta toda vez que as coisas não saem como ele quer. Poderia ser um personagem irritante, mas McGregor consegue se equilibrar entre o patético e o perigoso.

As cenas de ação se valorizam pela violência gráfica que ilustra a brutalidade de personagens como a Arlequina ou a Caçadora e também pelo modo como a montagem consegue dar fluidez aos embates. A ação também é eficiente em usar com criatividade os espaços no qual ocorrem, como a luta no galpão de evidências da polícia e o momento em que Arlequina fica sob efeito de cocaína para lutar com uma gangue de motoqueiros, ou a luta final em um parque de diversões com as personagens usando as atrações ao seu favor durante o combate. Por outro lado, assim como aconteceu com Esquadrão Suicida, a trilha musical formada de antigas canções pop soa aleatória em muitos momentos, como se fosse colocada ali só porque isso tem sido tendência em filmes do gênero.

Aves de Rapina vale pelo senso de humor e energia insana com a qual Margot Robbie constrói sua Arlequina, ainda que falhe em dar o devido destaque ao resto de suas heroínas.

Nota: 7/10


Trailer

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