Uma história pode ter falhas, mas
se entregar um bom desfecho somos capazes de relevar todos os problemas da
trama. Do mesmo modo, se um produto que começa promissor, entrega um desfecho
que não consegue dar conta de suas próprias ambições, é difícil espantar o
sentimento de insatisfação. Esse Entre
Realidades acaba lamentavelmente se encaixando na segunda categoria.
A narrativa é centrada na
solitária Sarah (Alison Brie). Ela passa os dias indo do trabalho para casa
assistir seriados e não tem muita vida social. Um dia ela começa a ter sonhos
estranhos e passa a questionar a própria realidade.
A jornada da personagem e o uso
do realismo fantástico pode ser entendida como uma grande metáfora para o
processo de alguém profundamente sozinha se perdendo na própria instabilidade
mental. Nesse sentido o trabalho de Alison Brie é fundamental para nos vender o
senso de confusão mental da protagonista. Brie consegue fazer de Sarah alguém
vulnerável emocionalmente, carente, solitária e que, talvez por tudo isso,
esteja se desconectando do mundo real e se entregando a uma série de delírios e
paranoias. Do mesmo modo, Brie também consegue inserir em sua personagem uma
energia insana em seus momentos de maior instabilidade, mostrando o quanto ela
pode ser perigosa a si mesma ou a outros.
A montagem e a música também
contribuem para o senso de confusão e de uma realidade que pode esconder mais
do que está a vista. A montagem apresenta transições fluidas que costuram e
comprimem diferentes tempos e espaços de uma maneira que faz tudo parecer uma
coisa só e realmente dá a impressão de que Sarah pode estar vivenciando
diferentes níveis de realidade. Já a música opera para construir uma sensação
de estranhamento, se valendo de dissonâncias e instrumentos como xilofones.
As coisas vão ficando cada vez
mais malucas conforme a trama progride, o que em si não é um defeito. O
problema é que conforme as coisas ficam progressivamente mais doidas não há uma
igual progressão do desenvolvimento da personagem e o entendimento que temos de
seus problemas. O filme indica algumas pistas, como um trauma de infância, o
suicídio da mãe, a loucura da avó, sem, no entanto, efetivamente mergulhar em
como tudo isso impacta diretamente Sarah.
Subtramas e personagens são
inseridos sem causar qualquer repercussão na trama, como o encanador
interpretado por John Ortiz, e fica a impressão de que boa parte desses
elementos só está sendo colocado em cena para criar algo hermético e
impenetrável que fundamentalmente não tem muito a dizer. É hermético só para
dar uma impressão de complexidade.
Isso fica evidente no desfecho,
que pode ser lido de duas maneiras e nenhuma delas é particularmente
interessante. Se lido como uma metáfora, podemos entender que Sarah afundou
completamente em seus transtornos psíquicos (chegando talvez ao suicídio), só que como o filme nunca tentou
efetivamente entender esse transtorno, tudo carece de impacto, com o transtorno
sendo reduzido a espetáculo visual. Se, por outro lado, entendermos o final de
maneira literal, então é só um filme de abdução alienígena genérico.
Entre Realidades tem muitas ideias interessantes para falar sobre
instabilidade mental, mas é soterrado pelo peso das próprias ambições e nunca
consegue desenvolver de maneira satisfatória as questões que propõe.
Nota: 5/10
Trailer
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