Na superfície este A Hora da Sua Morte parece ser uma cópia
genérica de Premonição (2000) e O Chamado (2002). Depois de ver o filme
preciso admitir que estava completamente errado. A Hora da Sua Morte é uma colcha de retalhos quase incoerente de
todos os clichês do terror hollywoodiano nas últimas décadas. É tão preso aos
lugares-comuns do gênero que beira o autoparódico, mas que nunca chega a ser
engraçado ao ponto de funcionar como comédia.
A trama acompanha a estudante de
enfermagem Quinn (Elizabeth Lail), que ouve falar sobre um aplicativo que diz
quanto tempo falta para o usuário morrer. De início Quinn acha que é
brincadeira, mas descobre que todos que baixaram o aplicativo de fato morreram
na hora avisada, a despeito de seus esforços de evitar sua morte. Assim, desde
a premissa, se desenha um conflito no qual uma personagem recebe uma contagem
regressiva de um dispositivo eletrônico, tal qual O Chamado (2002) e cujos esforços de fugir do destino são inúteis
como os dos personagens de Premonição (2000).
O problema é que A Hora da Sua Morte não tem o crescente
de tensão e mistério de O Chamado ou
mesmo as mortes sangrentas e criativas de Premonição.
Na verdade, essa produção é tão vagabunda que a maioria das mortes acontece
fora de quadro, justamente para evitar o esforço (e custo) de ter que criar próteses
ou maquiagem para mostrar feridas ou desmembramentos.
A pobreza da produção fica
evidente na cena em que Quinn, depois de tomar um susto, da ré em cima de um
carro que está passando atrás dela. Ouvimos o barulho de uma colisão, mas
quando a câmera nos mostra o outro carro, evita enquadrar justamente a parte
que teria sido batida, provavelmente porque não foi (o pouco que dá para ver da
seção atingida reflete essa impressão), seja por falta de técnica em termos de
como filmar, seja por falta de recursos para efetivamente detonar a lateral de
um carro. A pobreza visual também é percebida no design da criatura demoníaca responsável pelo aplicativo.
Para além do aspecto visual pobre,
há o problema da falta de coesão e inconsistência tonal do roteiro, que começa
evocando a tecnofobia de O Chamado, mas
até chegar ao seu final, passeia pelo horror de possessão, do slasher e qualquer outro subgênero que
se puder pensar. A impressão é que, no meio da escrita, o roteirista e diretor
Justin Dec percebeu que seu material não estava funcionando e resolveu jogar em
todas as direções, inclusive para a esculhambação total, para ver se algo dava
certo, nem que fosse como comédia.
As tentativas de comicidade são
claras na figura do padre exorcista ou do técnico de celulares, mas são tão
exagerados que se tornam mais irritantes do que engraçados. Além disso, eles
destoam da seriedade com a qual os arcos de Quinn e Matt (Jordan Calloway) são
conduzidos. Tudo isso faz a fita parecer incerta da própria identidade, incapaz
de investir no drama ou no terror dos dois protagonistas ou de tentar fazer
graça com todos os clichês que sua narrativa coleciona como um Todo Mundo em Pânico. Falha também em
ser uma combinação das duas coisas, como A Morte Te Dá Parabéns.
As tentativas de assustar se
reduzem a barulhos altos e coisas saltando subitamente da tela, raramente
funcionando, em especial porque, como já foi dito, as mortes em si sequer são
criativas de ver. Também é difícil embarcar em um clima de tensão porque a
trama não nos dá muito com o que nos importar com os personagens, reduzindo-os
a alguns diálogos expositivos sobre passado traumático e jogando uma subtrama
de assédio sexual de qualquer jeito no meio da história.
Diante de tanta inaptidão chega a
ser surpreendente que A Hora da Sua Morte
ainda tenha a pachorra de sugerir uma continuação em seus minutos finais.
Nota: 1/10
Trailer
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