Baseado em uma história real,
este Luta Por Justiça é daqueles
filmes que vale principalmente pela mensagem, já que sua estrutura narrativa e
dramatúrgica não tem nada de muito diferente que outros dramas de tribunal já
tenham apresentado antes. Assim como o recente O Preço da Verdade é um filme fundamentado na tradição do
pensamento liberal dos Estados Unidos que uma pessoa pode enfrentar o sistema
judicial e político, sendo capaz de mudar as coisas por conta de sua ação
individual. Não deixa de ser curioso, inclusive, que o caso se passe na mesma
cidade em que Harper Lee escreveu O Sol é
Para Todos, talvez a primeira grande narrativa do século XX a adotar esses
temas e estruturas.
A trama começa no final da década
de oitenta quando Walter McMillan (Jamie Foxx) é preso e condenado a morte por
assassinato apesar de se declarar inocente. O advogado Bryan Stevenson (Michael
B. Jordan) é um jovem recém formado em Harvard que decide ir para o sul dos
Estados Unidos ajudar detentos no corredor da morte que foram injustiçados pelo
sistema. Assim, Bryan acaba pegando o caso de Walter e luta para provar que ele
é inocente.
Muito do impacto da narrativa vem
do fato dela narrar um racismo institucionalizado que pode ser facilmente
percebido ainda nos dias de hoje, mais de trinta anos depois do caso, denotando
a permanência do racismo e das injustiças das instituições contra a população
negra e menos favorecida nos EUA ou mesmo em nosso país. No modo como a polícia
automaticamente trata como bandido e culpado qualquer pessoa com aparência não
branca e as autoridades se dispõem a ignorar direitos civis ou a devida
estrutura processual para condenar pessoas baseadas apenas em ideias
preconceituosas.
Boa parte do impacto também vem
do desempenho dos dois atores principais. Michael B. Jordan é eficiente em
apresentar o senso de justa indignação de Bryan e o modo como ele se esforça
para conter a própria raiva diante das interações com autoridades cínicas. Ele
também demonstra como o advogado é impactado pelas humilhações as quais é
submetido quando a polícia ou os guardas da prisão tomam atitudes brutais
contra ele apenas para mostrar que podem. Isso fica evidente na cena em que ele
é forçado a se despir para ser revistado durante uma ida a prisão e o modo como
Bryan treme ao vestir novamente as roupas explicita a vulnerabilidade do
personagem. Já Jamie Foxx faz de Walter um sujeito que, de certa forma, se
conformou com as injustiças do sistema, mesmo ciente da própria inocência.
A trama, no entanto, perde um
pouco o ritmo ao se dividir entre as histórias de vários presos no corredor da
morte. Enchendo a duração a quase duas horas e vinte sendo que todas essas
tramas apenas nos mostram praticamente os mesmos problemas que são denunciados
na narrativa de Walter. Eu entendo que a escolha por mostrar os problemas de
vários condenados diferentes foi feita para mostrar como essas políticas
racistas estão longe de ser um caso isolado, mas ao concentrar tantas histórias
de uma só vez acaba dando a sensação de uma trama que anda em círculos e tem
dificuldade para progredir. Se a ideia era contar múltiplas histórias de
injustiça, teria sido melhor fazer uma minissérie, como a Olhos que Condenam dirigida pela Ava DuVernay.
Há também um excesso de
explicação e exposição quanto à própria estrutura racista de funcionamento da
lei e da justiça no sul dos Estados Unidos, com longos discursos repetindo as
mesmas explicações sobre os problemas das estruturas de poder do país. Claro,
isso não tira o impacto das denúncias feitas aqui, nem o efeito emocional que a
jornada de Bryan e Walter causa no espectador, porém fica a impressão de que
poderia ser mais enxuto.
Luta Por Justiça é um drama jurídico que não reinventa o gênero,
mas vale por nos lembrar da presença pervasiva do racismo e pelo trabalho de
Michael B. Jordan e Jamie Foxx.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário