segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Lixo Extraordinário – O VelociPastor

Crítica - O VelociPastor


Review - The VelociPastor
O diretor Brendan Steere primeiro pensou na ideia deste O VelociPastor ainda quando fazia faculdade de cinema e durante o curso chegou a fazer um trailer para o filme que ainda não existia. Foi só em 2017 quando ele conseguiu um financiamento de 35 mil dólares que finalmente conseguiu transformar sua ideia em um longa-metragem e o resultado é tão tosco e exagerado que se torna muito divertido.

Na trama, Doug (Greg Cohan) é um pastor protestante que viaja para a China depois que seus pais são assassinados. Durante a viagem Doug se corta com um fóssil e ganha a habilidade de se transformar em um velociraptor. De volta aos Estados Unidos, ele se transforma pela primeira vez quando vê a prostituta Carol (Alyssa Kempinski) sendo assaltada em um parque e decide usar seus poderes para ajudar as pessoas. Sua jornada de combate ao crime, no entanto, irá colocá-lo em rota de colisão com uma gangue de ninjas traficantes de drogas.

O filme é claramente feito para ser tosco, sem sentido e exagerado, criando cenas e diálogos que não soam coerentes com qualquer conduta humana básica. Um exemplo é quando Doug conversa com um superior sobre a morte dos pais (logo depois de vê-los morrer, por sinal) e ouve como resposta a frase “é isso que pais fazem, eles morrem”. Outro momento de puro nonsense é quando Doug está na China e encontra uma mulher caída com uma flecha atravessada no peito e pergunta se ela está machucada, como se a flecha e a poça de sangue no qual a jovem está caída não fossem indicativos suficientes.

Há também toda sorte de acontecimentos sem qualquer grau de verossimilhança, como o momento em que um cafetão entra no confessionário da igreja na qual Doug trabalha e, enquanto fuma um baseado, confessa todos os crimes que cometeu, incluindo ter sido contratado para matar os pais de Doug. Quando um criminoso foi a um sacerdote confessar seus crimes? Ainda mais que a confissão requer arrependimento e o cafetão não demonstra nenhum, rindo enquanto narra todos os seus crimes.

Aliás, todas as interpretações são histéricas, mas enquanto em outros filmes isso parece acontecer por pura incompetência ou limitação do elenco, aqui parece haver uma escolha consciente pelo histrionismo, ainda que eu não descarte também a limitação do elenco. Isso fica evidente no trabalho de Greg Cohan, que constantemente dá a impressão de que o ator está se segurando para se manter sério enquanto conduz sua performance surtada.

A produção é extremamente capenga e as cenas de violência não fazem qualquer esforço para disfarçar sua artificialidade. Em um determinado momento, Doug arranca a cabeça de um inimigo e fica evidente que o personagem está segurando um manequim de loja. O dinossauro no qual Doug se transforma está mais para um tiranossauro corcunda do que para um velociraptor e toda a fantasia parece feita de cartolina ou papel machê e dá a impressão de que pode desmoronar a qualquer momento. Quando a trama nos mostra o flashback de um personagem na guerra do Vietnã, não há qualquer dúvida que tudo foi filmado em um matagal qualquer, sem possibilidade de convencer que se trata da selva vietnamita.

O clímax ainda tem uma das reviravoltas mais piradas que já vi em um filme quando a gangue de ninjas revela suas motivações para traficar drogas. Os vilões explicam que também são sacerdotes cristãos e que vendem drogas para que a população viciada procure grupos de apoio e assim possam converter todos em cristãos. Porque não tentar converter as pessoas diretamente sem precisar das drogas? Bem porque isso seria algo minimamente sensato e esse filme não trabalha com sensatez.

Perto do final há ainda uma referência a Miami Connection (1987), quando, depois de Doug matar violentamente todos os seus inimigos, a mensagem Apenas através da eliminação da violência podemos alcançar a paz mundial”. A diferença é que Miami Connection realmente acreditava estar passando uma mensagem de paz e serenidade (ignorando que seus protagonistas acabaram de cometer uma matança sangrenta), enquanto que O VelociPastor usa a frase de maneira irônica, consciente do absurdo e do descompasso entre a frase e a sanguinolência do filme.

O VelociPastor é tão tosco, absurdo, sem sentido e canastrão que é difícil não se divertir por sua história desconexa, personagens histriônicos e produção fuleira.


Trailer

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