sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Diabo a Quatro


Crítica - O Diabo a Quatro


Review Crítica - O Diabo a Quatro
Os irmãos Marx (e não, eles não eram parentes do Karl) eram uma das mais famosas trupes de comédia do cinema hollywoodiano nas décadas de 30 e 40, conhecidos pelo humor anárquico e diálogos afiados. Este O Diabo a Quatro, lançado em 1933 é um dos meus preferidos do grupo.

Na trama, a fictícia nação da Freedonia está passando por uma grave crise financeira e o político Rufus T. Firefly (Groucho Marx) é apontado para liderar o país e tirá-la da crise. Para recuperar os cofres, o principal plano de Rufus é casar com a rica viúva Gloria Teasdale (Margaret Dumont). Os planos de Rufus, no entanto, encontram resistência em Trentino (Louis Calhern), embaixador do país vizinho, Sylvania, que quer arruinar a Freedonia para anexar ao seu país. De modo a frustrar os planos de Rufus, Trentino contrata dois atrapalhados espiões, Chicolini (Chico Marx) e Pinky (Harpo Marx), mas os dois podem criar mais problemas para o embaixador do que resolvê-los.

Parece uma trama complicada, mas na verdade é só uma justificativa para encadear situações cômicas envolvendo o Groucho tentando ser um líder de governo enquanto Chico e Harpo tentam se infiltrar no país. Como de costume, o Rufus interpretado por Groucho é dotado de uma língua ferina, sempre com uma resposta afiada na ponta da língua, uma cadência de fala bastante veloz e diálogos carregados de ironia que muitas vezes ridicularizam toda a pompa envolvendo órgãos governamentais, irritando boa parte dos burocratas subordinados a ele.

Chico e Harpo, por outro lado, se entregam a uma comédia mais física, principalmente Harpo, cujo personagem é sempre mudo e precisa recorrer ao corpo e expressões faciais para fazer graça. As cenas dos dois funcionam pelo comprometimento de ambos com essa performance física, com tombos, tapas e cambalhotas, mas também pelo investimento no puro nonsense, como o hábito de Harpo em cortar pela metade as roupas de qualquer um que passe por ele. Há algum sentido nesse cacoete do personagem? Não, no entanto, a graça resiste justamente no absurdo e no talento em que ele e os demais tem de aporrinhar todos a sua volta.

Na verdade, é difícil não observar o tipo de comédia feita pelos irmãos Marx e não pensar na animação Animaniacs produzia por Steven Spielberg na década de noventa. Assim como os Marx, a animação também era protagonizada pelos irmãos Warner, uma trupe cujo principal talento era conseguir tirar do sério praticamente qualquer um tanto via comédia física quanto por diálogos afiados. Há, inclusive um episódio em que eles precisam cuidar de Anvilânia, uma pequena nação em vias de guerra, cuja trama é relativamente similar a O Diabo a Quatro dos Marx. Falo isso só para demonstrar como o humor da trupe não foi algo que ficou localizado em apenas um ponto específico do tempo e seu estilo permanece até hoje em outros produtos.

Na verdade, as críticas que eles fazem às intrigas políticas e futilidade da guerra se sustentam tranquilamente ainda hoje, alertando para o perigo de deixar que idiotas despreparados cheguem ao poder. O desfecho do filme, no entanto, é um tanto abrupto e um pouco fácil demais. Sim, faz sentido dentro da verve absurda e caótica dos Marx, no entanto, para um espectador contemporâneo, não deixa de soar como um final que não foi devidamente construído e chega subitamente.

Apesar disso, O Diabo a Quatro é uma comédia que continua funcionando muito bem nos dias de hoje graças à verve anárquica e a prosa cáustica dos irmãos Marx.

Trailer

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