quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Rapsódias Revisitadas - A Viagem de Chihiro


Crítica - A Viagem de Chihiro


Review - A Viagem de Chihiro
Dirigido por Hayao Miyazaki, A Viagem de Chihiro é daqueles filmes que nos conquista principalmente por causa de seu visual. Em termos de trama a animação é uma história de amadurecimento envolvendo uma garota que subitamente vai parar em um mundo habitado por criaturas bizarras, não muito diferente do tipo de história que já vimos em algo como Alice no País das Maravilhas. No entanto, é a maneira como Miyazaki conta a sua história que faz toda a diferença.

Chihiro é uma menina de dez anos que está se mudando para uma cidade nova. Durante o trajeto, seus pais se perdem na estrada e a família vai parar no que parece ser um parque de diversões abandonado. Os pais de Chihiro encontram uma mesa posta com um enorme banquete e começam a comer sem ponderar a razão de tudo aquilo estar ali e logo são transformados em porcos. Chihiro então descobre que estão num lugar habitado por espíritos, que funciona como um resort para os seres do mundo espiritual. Para evitar o mesmo destino dos pais e tentar achar um jeito de voltar para casa, Chihiro é aconselhada pelo jovem Haku a trabalhar para a bruxa Yubaba em sua casa de banhos.

Sozinha pela primeira vez na vida, o percurso da personagem é o de aprender a sobreviver em um ambiente hostil, no qual praticamente tudo quer prejudicá-la. É comum nesse tipo de história simplificar as coisas um pouco e fazer os desafios da protagonista não soarem tão terríveis. Miyazaki, no entanto, não faz nada disso aqui e cria um senso palpável de temor pelo que pode acontecer a Chihiro, seja pelas ameaças de Yubaba e a possibilidade de ser transformada em porco como seus pais, seja pelos insólitos clientes da casa de banho, como um espectro sem rosto que devora tudo que encontra. É um aprendizado sobre as durezas, dificuldades e injustiças da vida, sobre como essas coisas inevitavelmente irão acontecer conosco e precisamos aprender a lidar com isso.

A narrativa, inclusive, não se furta a mostrar sangue, como no momento em que um dragão é atacado pela irmã de Yubaba. Algumas criaturas exibem um visual verdadeiramente sinistro, o que ajuda a ilustrar o quanto aquele lugar pode ser perigoso para a pequena protagonista. Desse modo, não é um filme que eu recomendaria para crianças muito pequenas, ainda que nada disso tenha a ver com a qualidade do filme.

Aliás, é impressionante o modo como Miyazaki consegue nos apresentar tanto a imagens sinistras e criaturas aterrorizantes, como também a criaturas fofinhas e situações que dão leveza ao arco da personagem. É constante o senso de encantamento que os visuais conseguem transmitir. A cada plano, a cada cena há sempre algum elemento a chamar a nossa atenção e nos deixar maravilhados com a capacidade de fabulação de Miyazaki.

Equilibrando doçura e temor, A Viagem de Chihiro é uma jornada surrealista de amadurecimento que envolve principalmente por seu apuro visual.


Trailer

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