segunda-feira, 9 de março de 2020

Crítica – Castlevania: 3ª Temporada


Trailer Crítica – Castlevania: 3ª Temporada


Review – Castlevania: 3ª Temporada
Depois do final da segunda temporada, imaginei que Castlevania pudesse não retornar para um terceiro ano. Afinal, Drácula foi eliminado e a história desses personagens, em tese, tinha chegado ao fim. Fiquei temeroso que essa terceira não tivesse muito a dizer, mas felizmente ela mantem o padrão de qualidade das outras duas.

Depois da morte de Drácula, Trevor (Richard Armitage) e Sypha (Alejandra Reynoso) vivem juntos caçando os monstros que sobreviveram à batalha contra Drácula. Alucard (James Callis) vive sozinho no castelo de seu pai, guardando o local para que ninguém possa usá-lo. Alucard é eventualmente encontrado por uma dupla de jovens caçadores de vampiros e os toma como aprendizes. A vampira Carmilla (Jaime Murray), que escapou do castelo de Drácula, consegue retornar ao seu reino e junto com suas principais tenentes vampiras trama uma maneira de dominar a região antes controlada por Drácula.

A temporada segue o mesmo ritmo deliberado das outras e se você não se agrada com a natureza slow burn da trama, esse terceiro ano não irá te converter em um amante da série. Ainda assim, esse ritmo se justifica pelo cuidado que o texto tem em desenvolver seus personagens, inclusive os antagonistas, e nos faz entender a maneira como eles veem o mundo e porque se tornaram desse jeito. Assim, mesmo personagens que poderiam soar unidimensionais, como o implacável mestre da forja Isaac (Adetokumboh M'Cormack), nos fazem perceber a humanidade e vulnerabilidade que existe para além de sua crueldade.

A trama explora muito bem a dinâmica entre o cinismo fatalista de Trevor e o otimismo aventuresco de Sypha, inclusive injetando uma boa dose de humor na relação dos dois, mostrando como esse relacionamento pode funcionar apesar das personalidades opostas dos caçadores de monstros. Sypha, aliás, é o grande destaque da temporada, injetando energia sempre que está em cena e os combates lidam de maneira criativa com os diferentes poderes elementais da personagem. A trama do casal vai aos poucos mostrando como cada um vai absorvendo um pouco do jeito do outro, principalmente no final quando Sypha descobre que humanos normais podem ser tão cruéis quanto qualquer demônio, o que a faz compreender melhor o pessimismo de Trevor.

Alucard, por sua vez, luta para manter a sanidade em seu isolamento e sua carência ajuda a entender as razões de ter tomado os dois irmãos como pupilos. A jornada dele, de certa maneira, é a de tentar evitar se tornar como o pai, desgostoso do mundo e da raça humana ao ponto de querer destruir tudo. O problema do arco de Alucard, além de ser desconectado de todo o resto das tramas da temporada, é a guinada final muito súbita dos dois irmãos, que não soa tão cuidadosamente construída como os arcos dos demais personagens. Eu entendo que a ideia era fazer Alucard perceber a irrefreável sede de poder e crueldade do ser humano para testar a retidão moral do meio-vampiro. Por mais que seja satisfatório ver Alucard compreender que não pode confiar completamente nos humanos ao mesmo tempo em que tenta não abrir mão da própria humanidade, a trama acaba não soando tão bem resolvida quanto as demais.

Desta maneira, apesar de não ser tão concisa quanto as duas temporadas anteriores, a terceira temporada de Castlevania funciona pelo desenvolvimento cuidadoso de seus personagens e como a trama consegue dar complexidade a eles.

Nota: 8/10


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