Depois da tentativa fracassada em
transformar seus monstros clássicos em protagonistas de filmes de aventura
estilo Marvel para criar um universo compartilhado no inepto A Múmia (2017), a Universal recuou e
decidiu mudar a abordagem. Com uma parceria com a produtora Blumhouse,
especialista em filmes de terror, o estúdio decidiu por fazer filmes de menor
orçamento, sem a obrigação de serem blockbusters
gigantescos, e devolvendo-os ao reino do terror. O primeiro filme dessa
leva, O Homem Invisível, mostra que
foi uma escolha acertada.
A narrativa foca em Cecilia
(Elizabeth Moss), uma mulher que foge do relacionamento abusivo que tinha com
Adrian (Oliver Jackson-Cohen, do péssimo O Que De Verdade Importa), um magnata da tecnologia óptica. Duas semanas
depois de deixar Adrian, Cecilia recebe a notícia de que ele cometeu suicídio e
que ela herdaria parte da fortuna de Adrian. A partir desse ponto, Cecilia
começa a perceber coisas estranhas acontecendo em sua casa e desconfia que
Adrian esteja vivo e encontrou um jeito de continuar a atormentá-la.
Como o filme se chama O Homem Invisível fica evidente desde o
início que Cecilia está certa e, assim, não há muita incerteza ou suspense em
relação ao que de fato está acontecendo com a protagonista. Ainda assim a trama
consegue extrair tensão da situação ao explorar o modo como a sociedade trata
mulheres que relatam algum tipo de violência e perseguição, considerando-as
como loucas e exageradas. Assim, tememos por Cecilia justamente por sabermos
que ela está certa enquanto todos os outros ao redor duvidam dela. Tememos
também por reconhecermos a fragilidade mental dela, ainda sofrendo com estresse
pós-traumático e como isso pode tornar mais difícil que ela confronte seu
agressor.
A maneira como é filmado
contribui para o senso de paranoia de que os personagens estão sendo observados
por uma força invisível. A câmera constantemente se posiciona em frestas,
cantos e quinas de parede, como se assumisse o ponto de vista de alguém se
esgueirando para observar os personagens. Do mesmo modo, a câmera muitas vezes
se movimenta por cômodos vazios, como se seguisse os passos de alguém que não
estamos enxergando. Assim, a cada objeto e cai ou cada porta entreaberta,
ficamos tensos imaginando se há uma ameaça presente.
Nesse sentido, o filme consegue
nos colocar no estado mental de Cecilia, sempre com medo de uma ameaça que pode
estar ou não ali, sempre temendo que seu agressor continue a exercer controle
sobre ela, nos fazendo sentir como se também estivéssemos experimentando o
trauma pelo qual Cecilia passou. Elizabeth Moss, inclusive, é ótima em mostrar
o impacto dos anos de abuso em Cecilia, que mesmo livre de seu agressor (e
antes de saber de sua suposta morte) continua a vê-lo em todo lugar e em cada
homem que se aproxima, como fica evidente na cena em que ela sai para pegar a
correspondência.
Conforme a narrativa progride e a
presença de Adrian se torna mais evidente, a trama nos mostra o quão terrível
alguém com poderes de invisibilidade pode ser. Esse elemento fica bem explícito
durante o clímax, em especial na cena em que o homem invisível executa uma
dezena de guardas de maneira extremamente violenta e com muita facilidade.
O Homem Invisível funciona como uma competente metáfora para o
trauma, sendo eficiente em gerar uma atmosfera tensão a partir de sua principal
ameaça.
Nota: 8/10
Trailer
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