Quando escrevi sobre a segunda
temporada de Ozark mencionei como a
trama era eficiente em impor dilemas morais aos personagens principais e
colocá-los em rumos sombrios. Pois este terceiro padece justamente por não
conseguir criar conflitos convincentes graças aos coadjuvantes ruins que insere
na narrativa, ainda que o elenco principal seja bom o suficiente para manter o
nosso interesse. O texto a seguir pode conter SPOILERS da temporada.
A trama continua no ponto onde o
ano anterior parou. Os Byrde consolidam a posição deles no lago Ozark
inaugurando um cassino que serve de fachada para lavar dinheiro de carteis
mexicanos. Marty (Jason Bateman) começa a pensar em estratégias para fugir de
tudo isso, enquanto Wendy (Laura Linney) pensa em aproveitar para se
consolidarem em uma posição de poder na comunidade local e expandir a presença
deles em negócios lícitos. O casal está em desacordo quanto à melhor estratégia
e isso começa a causar conflitos ao mesmo tempo em que outras ameaças surgem ao
redor deles.
A série sempre teve sua parcela
de personagens mal construídos que serviam apenas para ser um obstáculo, a
exemplo do agente Petty (Jason Butler Harner), que ficava tão dentro do clichê
do policial obsessivo que virava uma caricatura. No entanto essa terceira
temporada abusa desse recurso, com a maioria dos novos personagens se
comportando de maneira estúpida e caricata ou produzindo reações estúpidas nos
personagens. Um exemplo é Erin (Madison Thompson), filha de Helen (Janet McTeer),
a advogada do cartel. Erin é uma jovem que quer perder a virgindade a qualquer
custo e se envolve com pequenos criminosos de Ozark. A personagem parece saída
de uma daquelas comédias adolescentes e destoa do resto da trama.
Temos ainda Frank Jr (Joseph
Sikora), filho do chefe da máfia de Kansas City que constantemente cria
conflitos com Ruth (Julia Garner) apesar do pai dele já ter deixado claro que
não é para mexer com ela. Ele é o típico clichê do filho mimado de mafioso que
se acha mais poderoso do que realmente é e não há muito mais nele além de uma
criação de conflitos óbvios e estúpidos que pouco contribuem para o
desenvolvimento dos personagens.
O pior é Ben (Tom Pelphrey, que
já tinha sido o péssimo Ward em Punho de Ferro), o irmão de Wendy. Ele é o típico “irmão ovelha negra com problemas
mentais” e fica óbvio desde o início que a instabilidade dele criará problemas
para os Byrde. A trama nunca explicita o que ele tem exatamente, preferindo o
termo genérico “problema mental” como um escudo para colocar o personagem para
fazer qualquer tipo de absurdo que a trama precise, fazendo ele variar entre
esquizofrenia, bipolaridade, atraso mental e qualquer outro distúrbio que sirva
à narrativa.
Por pura necessidade de roteiro
Ben se apaixona quase que instantaneamente por Ruth, sem que esse sentimento
seja devidamente construído ou justificado. Tudo bem que eventualmente Ruth
fale que se atrai por Ben por ele ser tão problemático quanto ela, mas isso não
serve para justificar o que ele viu nela ou as decisões incoerentes que Ruth
toma por ele. Até esse ponto da trama, Ruth era mostrada como alguém bastante
pragmática, inteligente e engenhosa, uma peça fundamental dos planos dos
Byrdes.
Aqui, por conta do envolvimento
com Ben, Ruth age como uma completa imbecil incapaz de avaliar adequadamente os
riscos de uma situação. Por mais que Ruth visse o sofrimento de Ben na clínica
psiquiátrica, tudo que foi construído sobre a personagem até aqui nos diz que
ela seria pragmática e inteligente o bastante para entender que deixar ele
solto era um risco grande demais, afinal ela matou os próprios tios para
proteger os negócios que tinha com Byrdes. Então vê-la colocar tudo a perder ao
assumir um risco idiota soa forçado. Diante de tudo que ela já passou também é
pouco crível que o que acontece com Ben seja a última gota que a faz colidir
com os Byrdes, principalmente quando a culpa maior foi dela por ter soltado o
sujeito da clínica.
O arco de Ben só não é
insuportável justamente pelo talento de Julia Garner e Laura Linney em nos
convencerem do conflito interno das duas personagens. Mesmo quando Ben soa como
uma caricatura patética e irritante, Garner e Linney nos envolvem no conflito
ao mostrar a dor e a dúvida das duas em tentar ajudar o sujeito e mantê-lo vivo
mesmo quando ele próprio não é capaz de lidar com a situação.
Aliás, é o trio principal formado
por Linney, Garner e Jason Bateman que continua a fazer tudo funcionar a
despeito dos problemas de roteiro ao mostrar como a relação entre esses três
personagens vai se degradando com os constantes conflitos e das perspectivas
diferentes do trio, nos fazendo acreditar nos personagens mesmo quando o texto
não cria situações convincentes.
O arco envolvendo a relação entre
os Byrdes e o chefe do cartel mexicano acaba sendo a principal e mais
convincente fonte de tensão da temporada, já que Navarro (Felix Solis) além de
ter uma presença intimidadora e demonstrar ser capaz de eliminar todos sem
muito esforço, também exibe um grau de imprevisibilidade e instabilidade por
conta da guerra com um cartel rival. Navarro é um sujeito passando por uma
situação de vida ou morte, o torna o traficante ainda menos tolerante e
paciente com as baboseiras e tropeços dos Byrde. É a tensão do conflito com
Navarro que cria os momentos de maior suspense da temporada, incluindo o
impactante final que deixa um gancho que já me deixou ansioso pela próxima
temporada.
Entre os coadjuvantes inseridos
na temporada, a única que se salva é a agente Maya (Jessica Frances Dukes), uma
perita em contabilidade do FBI enviada para auditar o cassino de Marty. Maya
tem um claro código moral, mas também exibe uma clara preocupação por Marty e
sua família, tentando encontrar uma saída para eles, mesmo que os Byrdes não
queiram, o que testa o senso de moralidade da personagem. Ela e Marty formam
uma amizade relutante e conflituosa que injeta alguma nuance em uma temporada
marcada por coadjuvantes ruins que pareceram ser inseridos só para alongar a
trama, que poderia ter tranquilamente uns dois episódios a menos.
Essa terceira temporada de Ozark é a mais fraca da série até aqui
por conta dos coadjuvantes ruins e algumas situações pouco críveis, mas
continua se sustentando pela qualidade do elenco e construção de suspense.
Nota: 7/10
Trailer
Essa crítica tem mais furos que o roteiro da série. Reassista e depois releia o que você escreveu.
ResponderExcluirSe você reconhece que a série tem muitos furos, então a crítica esta correta.
ResponderExcluirA melhor critica que li ate agora. Acho a trama principal interessante, mas nao tiveram capacidade pra encontrar situacoes coerentes pra td desandar, um irmao com problemas mentais pra sair disparando contra todos,td que os Byrde fazem,gastando pelo menos 5 episodios nele, um filho de mafioso bobo que teima em estragar os negocios do pai,como se fosse nao fosse un traficante, e coisas importantes como um assassinato de um agente do FBI (q tb era fraco) ficam em.segundo plano. Na verdade eh o pior FBI q vi no cinema ate hj, nunca tem provas, "matam"tds seus informantes com joguinhos sujos. A trama eh boa, mas precisa de historias secundarias fracas pra ganhar episodios, falando em uma serie de 10 ep/temp acho um grande erro. Mas Marty e Wendy, Ruth, e gostava do casal Snel, q foi descartado e merecia mais tempo
ResponderExcluirSem erros maravilhosa como sempre nota 1000
ResponderExcluirQue critica de merda. A morte do ben foi ridícula. A gente so quer vingança agora e a serie nao foi pra esse lado. Lixo demais.
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