Quando vi os primeiros trailers
para este Troco em Dobro, tive uma
impressão familiar com os nomes dos personagens. Minha memória logo me levou à
série dos anos oitenta Spenser For Hire e
então me dei conta de que tanto a série quanto Troco em Dobro eram adaptações dos romances criados por Robert
Parker e estrelados pelo durão investigador Spenser.
Aqui, Spenser (Mark Wahlberg) é
um ex-policial que sai da cadeia cinco anos depois de agredir um oficial
superior ao vê-lo bater na esposa. No dia em que sai da prisão, o capitão
Boylan (Michael Gaston), o superior que Spenser agrediu, é morto em
circunstâncias misteriosas. Spenser é considerado o principal suspeito, mas ao
lado do colega Falcão (Winston Duke, o M’Baku de Pantera Negra), irá tentar desvendar o crime.
Chama a atenção a inconsistência
tonal do filme. Por um lado ele parece querer se levar a sério como uma
narrativa hard boiled de um sujeito
desencantado com o sistema e resolve agir por conta própria para fazer justiça.
Por outro há uma clara intenção de tentar fazer graça com todas essas
convenções, funcionando mais como uma comédia de ação. Essas duas abordagens
mais brigam entre si do que se mesclam em um todo coeso e em muitos momentos
temos a impressão de que o filme não sabe exatamente o que quer ser.
A trama acaba pendendo mais para
a comédia por conta das interações entre Spenser e Falcão. É a típica dupla com
personalidades opostas que se detesta, mas que precisa aprender a conviver para
sobreviver à missão. Já vimos isso antes em Máquina
Mortífera, Bad Boys e tantos
outros, mas Wahlberg e Duke tem química o suficiente para fazer a dupla de
protagonistas funcionar e os diálogos entre eles ao menos geram piadas
divertidas. O trio ainda é acompanhado por Cissy (Iliza Shlesinger) a ex/atual
namorada de Spenser, que injeta ainda mais comédia e absurdo na trama, sendo
beneficiada pela entrega de Iliza Shlesinger ao absurdo e a energia impositiva
que a comediante traz para sua personagem.
Já o mistério em si é uma trama
genérica de corrupção que nunca envolve como deveria e ainda apresenta
reviravoltas relativamente previsíveis. Os vilões são um bando de mafiosos e
policiais corruptos sem personalidade e, em alguns casos, sequer conseguem soar
ameaçadores como deveriam. Um exemplo é o supremacista branco interpretado pelo
cantor Post Malone, que nunca convence como alguém capaz de liderar ou se impor
em uma gangue de neonazistas marombados.
A ação sofre um pouco com a
inconsistência tonal do filme, parecendo não saber se deve criar situações em
que devamos dar risada dos protagonistas ou se deveríamos vê-los como sujeitos
durões e bons de briga. Assim, saímos de cenas em que Spenser apanha
constantemente ou é atacado por cães no meio de uma perseguição a um dos vilões
para outras em que eles enfiam a porrada em seus antagonistas sem muita
dificuldade, incertos de como a narrativa quer posicionar seus heróis.
Incerto ao tentar equilibrar ação
e comédia, Troco em Dobro tem alguns
bons momentos quando investe no carisma de sua dupla principal, mas nem isso é
suficiente para torná-lo minimamente memorável.
Nota: 5/10
Trailer
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