quinta-feira, 12 de março de 2020

Crítica – Troco em Dobro


Análise Crítica – Troco em Dobro

Review – Troco em Dobro
Quando vi os primeiros trailers para este Troco em Dobro, tive uma impressão familiar com os nomes dos personagens. Minha memória logo me levou à série dos anos oitenta Spenser For Hire e então me dei conta de que tanto a série quanto Troco em Dobro eram adaptações dos romances criados por Robert Parker e estrelados pelo durão investigador Spenser.

Aqui, Spenser (Mark Wahlberg) é um ex-policial que sai da cadeia cinco anos depois de agredir um oficial superior ao vê-lo bater na esposa. No dia em que sai da prisão, o capitão Boylan (Michael Gaston), o superior que Spenser agrediu, é morto em circunstâncias misteriosas. Spenser é considerado o principal suspeito, mas ao lado do colega Falcão (Winston Duke, o M’Baku de Pantera Negra), irá tentar desvendar o crime.

Chama a atenção a inconsistência tonal do filme. Por um lado ele parece querer se levar a sério como uma narrativa hard boiled de um sujeito desencantado com o sistema e resolve agir por conta própria para fazer justiça. Por outro há uma clara intenção de tentar fazer graça com todas essas convenções, funcionando mais como uma comédia de ação. Essas duas abordagens mais brigam entre si do que se mesclam em um todo coeso e em muitos momentos temos a impressão de que o filme não sabe exatamente o que quer ser.


A trama acaba pendendo mais para a comédia por conta das interações entre Spenser e Falcão. É a típica dupla com personalidades opostas que se detesta, mas que precisa aprender a conviver para sobreviver à missão. Já vimos isso antes em Máquina Mortífera, Bad Boys e tantos outros, mas Wahlberg e Duke tem química o suficiente para fazer a dupla de protagonistas funcionar e os diálogos entre eles ao menos geram piadas divertidas. O trio ainda é acompanhado por Cissy (Iliza Shlesinger) a ex/atual namorada de Spenser, que injeta ainda mais comédia e absurdo na trama, sendo beneficiada pela entrega de Iliza Shlesinger ao absurdo e a energia impositiva que a comediante traz para sua personagem.

Já o mistério em si é uma trama genérica de corrupção que nunca envolve como deveria e ainda apresenta reviravoltas relativamente previsíveis. Os vilões são um bando de mafiosos e policiais corruptos sem personalidade e, em alguns casos, sequer conseguem soar ameaçadores como deveriam. Um exemplo é o supremacista branco interpretado pelo cantor Post Malone, que nunca convence como alguém capaz de liderar ou se impor em uma gangue de neonazistas marombados.

A ação sofre um pouco com a inconsistência tonal do filme, parecendo não saber se deve criar situações em que devamos dar risada dos protagonistas ou se deveríamos vê-los como sujeitos durões e bons de briga. Assim, saímos de cenas em que Spenser apanha constantemente ou é atacado por cães no meio de uma perseguição a um dos vilões para outras em que eles enfiam a porrada em seus antagonistas sem muita dificuldade, incertos de como a narrativa quer posicionar seus heróis.

Incerto ao tentar equilibrar ação e comédia, Troco em Dobro tem alguns bons momentos quando investe no carisma de sua dupla principal, mas nem isso é suficiente para torná-lo minimamente memorável.

Nota: 5/10


Trailer

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