Lançado em 1997 para o primeiro
Playstation, Final Fantasy VII foi a
razão que eu tive para trocar meu Nintendo 64 pelo console da Sony. É um dos
meus jogos favoritos de todos os tempos e foi extremamente importante da
formação da minha identidade gamer e
para sedimentar minha preferência por RPGs. Então obviamente fiquei muito
empolgado quando foi anunciado um remake do jogo para a atual geração de
consoles, algo que não apenas melhoraria os gráficos, mas atualizasse a
jogabilidade e outros elementos.
A notícia de que o jogo seria
dividido em episódios me decepcionou um pouco pelo temor de que cada episódio
fosse mais curto que um jogo “completo” ainda que vá custar o mesmo valor,
embora entendo que a escala épica da narrativa seja grande demais para caber em
um game só (o original vinha em três discos, afinal). Assim, parti para jogar o
recente demo de Final Fantasy VII Remake
esperando me encantar novamente por um jogo que foi extremamente importante
para mim.
A demo se passa no primeiro
capítulo do jogo, cobrindo o ataque ao reator Mako 1 e é bem fiel ao original
em termos de trama e de fidelidade visual. Ver o reator, Cloud e os demais
membros da Avalanche recriados com todo poderio dos consoles atuais é altamente
prazeroso para qualquer fã do original e o mesmo pode ser dito sobre música,
que usa versões plenamente orquestradas dos temas já conhecidos.
A jogabilidade é a principal
diferença, sendo mais um RPG de ação do que por batalha por turnos. O jogador
controla um personagem do grupo, mas é livre para trocar qual dos membros do
grupo está em suas mãos durante os combates. Na verdade, em alguns combates
alternar o personagem controlado é essencial para vencer rapidamente,
explorando como as habilidades de cada um são mais específicas para cada tipo
de inimigo. Barret, por exemplo, pode atacar à distância com a arma acoplada em
seu braço, o que o torna essencial para destruir as torres de defesa que
encontramos pelas paredes do reator.
O combate é veloz e
grandiloquente, lembrando um pouco Kingdom Hearts ou Final Fantasy XV, mas
oferece mecânicas que lhe dão personalidade própria. A principal é a barra de
ação, que remete às barras de ação do jogo original, que precisávamos esperar
encher antes que cada personagem pudesse agir. Aqui, com os combates sendo em
tempo real, a barra de ação é preenchida com o tempo e conforme o jogador toma
ou recebe dano. A barra serve para usar magias, golpes especiais ou itens,
sendo necessário esperar a barra encher novamente depois da ação ser feita.
Cada personagem também possui uma habilidade de combate única, com Cloud
podendo alternar entre dois modos de combate (um mais tradicional e outro que o
deixa mais lento, mais forte e com contra-ataques poderosos), enquanto que
Barret pode fazer um disparo contínuo de sua arma para encher rapidamente sua
barra de tempo.
Outra mecânica é a barra de
atordoamento que acompanha cada inimigo e que vai sendo preenchida a medida que
os adversários tomam dando ou são atingidos por suas vulnerabilidades. Quando a
barra enche, o inimigo fica atordoado e recebe mais dano. Saber manejar todas
essas mecânicas de combate é essencial para derrotar o chefe da demo, o Guard
Scorpion. Se no jogo original ele era facilmente derrotado com meia dúzia de
usos da magia Thunder, aqui ele é um oponente bem mais perigoso e que muda de
padrões conforme a batalha se desenvolve. É realmente necessário transitar
entre Cloud e Barret, saber quando atacar, quando esquivar ou quando defender,
já que os ataques do chefe, mesmo os normais, podem causar muito dano e
derrubar a vida dos personagens rapidamente.
Tudo que vi em termos de combate,
fidelidade e apresentação audiovisual me deixaram bastante empolgado para o
jogo completo, mas ainda assim alguns elementos me preocupam. O primeiro é
ainda a falta de clareza quanto a natureza episódica do jogo. A Square-Enix
deixou claro que cada episódio terá uma duração compatível com um jogo inteiro,
no entanto também já avisou que esse primeiro episódio só irá até o fim do arco
de Midgar (presumivelmente até o ataque à torre da Shinra), algo que compreende
cerca de vinte por cento do jogo original. Assim, me pergunto como eles irão
conseguir preencher trinta ou quarenta horas de conteúdo a partir de algo que
originalmente tinha uma fração disso.
Sim, a desenvolvedora já falou
que irá adicionar outras histórias e personagens, porém como não sabemos
exatamente como tudo será organizado, temo por uma estrutura repetitiva, cheia
de backtracking pelos mesmos espaços
e mesmos objetivos, principalmente nas já anunciadas missões secundárias. Outro
elemento que me preocupa são as intervenções na narrativa, já que a demo me deu
motivos para ficar esperançoso e alguns para me preocupar.
Positivamente a narrativa da mais
espaço para desenvolver as personalidades de Jesse, Biggs e Wedge, ajudando que
nos conectemos com eles e, provavelmente dando mais impacto ao eventual destino
do trio. Personagens do núcleo da Shinra como Heidegger e o presidente também
tem um pouco mais de espaço e podemos ver o que eles estavam fazendo enquanto
os protagonistas arquitetavam seus atentados.
Por outro lado, uma mudança em
relação à destruição do primeiro reator me desagradou por tentar consertar algo
que não era um problema. SPOILERS a seguir. No game original, Cloud e a
Avalanche de fato conseguiam destruir o reator com a bomba que plantavam, mas
aqui a bomba plantada por Barret não é suficiente para detonar o reator, que é
destruído pela própria Shinra. Da maneira como é mostrada na demo, a ação não
faz sentido. Se o presidente tinha dezenas de robôs e torretas dentro do núcleo
do reator, porque não matar os membros da Avalanche de uma vez? Talvez quando
jogar o game completo a decisão do presidente faça sentido, mas, apenas pelo
contexto da demo, o jogo cria um furo de roteiro onde antes não havia nenhum.
Outro problema é que a escolha em
fazer a destruição do reator não ser fruto das ações dos protagonistas tira um
pouco da complexidade moral da situação. Se antes eles eram de fato
eco-terroristas usando meio questionáveis em uma causa indubitavelmente justa
do ponto de vista moral, com a mudança eles se tornam mais claramente bonzinhos
e a Shinra mais claramente maligna. É uma saída fácil e relativamente covarde
para reduzir tudo a um maniqueísmo raso ao invés de lidar com a complexidade
das escolhas morais dos protagonistas. De novo, espero que essas mudanças sejam
melhor justificadas e amarradas no contexto geral do produto final, mas aqui
elas me deixam um pouco preocupado não só com alterações na história original ou em adições que sejam apenas filler sem muita repercussão.
Ainda assim, a demo me deu
motivos suficientes para me deixar empolgado e ansioso para quando Final Fantasy VII Remake for lançado em
abril e torço para que o produto final consiga mostrar que minhas preocupações
estão equivocadas.
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