quinta-feira, 19 de março de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Sétimo Selo


Crítica – O Sétimo Selo


Review – O Sétimo Selo
Famoso pela imagem do cavaleiro que joga xadrez com a Morte, O Sétimo Selo, do sueco Ingmar Bergman, é uma ponderação sobre a existência humana, nossos medos, anseios, nossa relação com o divino e nossa busca por um propósito no mundo. É uma trama que consegue ser densa, mas, ao mesmo tempo, oferece momentos de leveza suficientes para que tudo não se torne insuportável.

A trama se passa durante o período em que a Peste Negra se espalhava pela Europa medieval e a Igreja controlava as populações pelo medo de ir para o inferno. O cavaleiro Antonius Block (Max Von Sydow) está retornando para casa depois das cruzadas e durante a viagem recebe a visita da Morte (Bengt Ekerot). Block propõe um desafio à Morte, eles irão disputar uma partida de xadrez e, caso vença, a morte o deixará em paz. Assim, Block segue em sua viagem para casa, sendo recorrentemente visitado pela Morte para que continuem sua partida.

O texto vai aos poucos nos fazendo compreender a motivação do cavaleiro para adiar sua morte. Não é por ele não sentir culpa pelo que fez nas cruzadas ou por achar que não é a hora dele. Antonius quer morrer, mas teme pelo que virá depois. Sem certezas sobre a existência do céu, do inferno ou mesmo de deus, o cavaleiro tem medo do que pode encontrar no pós-vida e sua tentativa de evitar a Morte é uma maneira de ganhar tempo para tentar obter esse conhecimento ou tentar extrair informações da própria morte durante as partidas de xadrez.

O arco de Antonius é uma metáfora para a humanidade como um todo. Sabemos que a morte é inevitável, mas a tememos e tentamos mantê-la longe porque constantemente achamos que nossas vidas não estão completas, que ainda falta algo para sabermos ou fazermos. Tememos a morte pela jornada desconhecida que ela representa, pela dúvida que morte pode impor em nossas crenças quanto ao que nos aguarda e, nesse sentido, nunca estamos plenamente prontos para recebê-la.

Em paralelo à jornada de Antonius, acompanhamos um grupo de artistas que nos ajudam a compreender a dureza da vida naquele período. Através do olhar de pessoas comuns testemunhamos a mão pesada da igreja católica impondo castigos a todos que consideram ímpios e tentando controlar a população criando um medo constante da danação infernal. Ao mesmo tempo, essa vida comum mostra como a arte, o riso e a comédia conseguem oferecer um alento para as sombras e o temor que rondam aquela população.

Talvez seja justamente por conseguir equilibrar a faceta mais sombria do confronto com a morte com momentos de esperança que o filme consiga ser tão poderoso. Uma das cenas mais marcantes acaba sendo justamente a que Antonius encontra o casal de artistas Jof (Nils Poppe) e Mia (Bibi Andersson) e é capaz de experimentar uma existência mais simples, mais leve e carregada de afeto na qual consegue enxergar um vislumbre de felicidade naquele mundo. Como se o afeto afastasse nosso temor da Morte e a necessidade de sabermos o que há além de nossa vida terrena.

O Sétimo Selo é, portanto, uma ponderação complexa sobre a existência humana marcada por imagens poderosas e uma tentativa de balancear melancolia e esperança.

Trailer


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