Notas de Rebeldia, produção original da Netflix, é um daqueles
filmes feitos sob medida para fazer seu espectador se sentir bem. Um feel good movie como dizem os críticos
gringos. Não faz nada muito fora do traçado que estamos acostumados a encontrar
nesse tipo de filme, mas o elenco consegue nos conectar com os personagens.
Na trama, Elijah (Mamoudou Athie)
é um jovem que trabalha no restaurante popular do pai, Louis (Courtney B.
Vance), mas que sonha em se tornar um mestre sommelier, um especialista em
vinhos. Seu sonho o coloca em rota de colisão com o pai, que imaginava que
Elijah herdaria seus negócios, que estão na família há gerações. Os custos do
curso também deixam Elijah em dúvida se conseguirá ou não alcançar seu sonho.
É um conflito bem típico de
legado familiar versus traçar seu próprio caminho, assim como também traz o
elemento do popular versus erudito, ambas premissas bastante comuns dentro da
lógica do drama familiar hollywoodiano. Tudo é relativamente previsível, dos
encaminhamentos da jornada do protagonista, passando pelos conflitos e soluções
destes, é bem similar a produtos com as mesmas características. Tematicamente
também se encaixa em elementos que já vimos inúmeras vezes, falando sobre a
necessidade de acreditar em si mesmo ou seguir seus próprios sonhos, sem nada
muito diferente.
Seria um filme inane, esquecível
e sem personalidade se não fossem dois elementos: o universo dos sommeliers e o
elenco que forma o núcleo familiar principal. Sim, outros filmes, como Sideways: Entre Umas e Outras (2004), já
tinham nos mostrado um pouco desse mundo de avaliação de vinhos, mas não lembro
de outro produto que nos mostrou em detalhes a formação de um profissional
desse ramo. Da maneira como é mostrado aqui, é um treinamento exaustivo e
competitivo, quase como um Nascidos Para
Matar (1987) dos vinhos e é bem interessante ver como eles aprendem a
avaliar vinhos analisar suas características e serem capazes de dizer o tipo de
uva, clima e lugar onde foi produzido. Não sei até que ponto corresponde à
realidade da formação desses profissionais, mas independente disso, o texto
consegue fazer isso funcionar como drama.
A família é outro elemento que
ajuda a nos envolver na trama, mesmo quando o texto recorre a vários conflitos
batidos para esse tipo de história. Courtney B. Vance, Mamoudou Athie e Niecy
Nash são eficientes em nos convencer da dinâmica familiar de Louis, Elijah e
Sylvia, transmitindo um afeto e preocupação genuínas um com o outro. Apesar de
ter pouco tempo de tela, Niecy Nash consegue nos levar a nos importarmos com
Sylvia, mesmo quando a narrativa passa muito rápido pela subtrama envolvendo o
câncer da matriarca. Não fosse o trabalho de Nash, esse arco não teria impacto
algum pela velocidade e superficialidade com o qual o roteiro a trata.
Do mesmo modo, o trabalho de
Courtney B. Vance evidencia para nós que a dureza com a qual Louis trata
Elijah, não vem de um lugar de crueldade ou desinteresse, mas de um lugar de
afeto, de uma preocupação que Louis tem com o futuro do filho. Conforme a trama
se desenvolve, Vance e Athie conseguem extrair bons momentos de emoção do
fortalecimento do laço entre eles mesmo quando as soluções são previsíveis e
clichê.
Não é um filme extremamente
memorável, nem vai se arriscar a sair dos lugares comuns desse tipo de trama,
mas Notas de Rebeldia consegue nos
envolver por conta do carisma e afeto que constrói para seus personagens.
Nota: 6/10
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