Ao propor tentar entender os
múltiplos desdobramentos possíveis de um mesmo evento, imaginei que este Um Amor, Mil Casamentos teria algo
similar a filmes como Corra Lola, Corra (1998)
ou De Caso Com o Caso (1998), que
também mostram como um evento pode ter resultados muito diferentes se mudarmos
um pequeno elemento neles. De certa forma, Um
Amor, Mil Casamentos faz isso, mas aproveita tão pouco o potencial criativo
de sua premissa que o uso dessas “realidades alternativas” soa despropositado.
Na trama, Jack (Sam Claflin)
precisa lidar com vários problemas ao mesmo tempo durante o casamento da irmã, Hayley
(Eleanor Tomlinson). Ele precisa ser manter longe da sua ex-namorada megera,
Amanda (Freida Pinto), ao mesmo tempo em que precisa impedir que Marc (Jack
Farthing), um ex-namorado de Hayley que entrou de penetra, estrague a festa.
Durante o casamento Jack também vai buscar se reaproximar de Dina (Olivia
Munn), uma amiga de Hayley por quem se apaixonou anos atrás, mas que por conta
de várias circunstâncias nunca pode efetivamente se relacionar com ela.
Apesar do título prometer várias
versões de como os eventos desse casamento poderiam se desdobrar, o filme não
entrega isso. A primeira “versão” dos eventos toma quase 70% da minutagem e o
resto é quase inteiramente dedicado à segunda versão dos eventos que a própria
narração contida no filme afirma ser o “final bom”. As demais “múltiplas
possibilidades” são mostradas em uma sequência de montagem que não deve durar
nem cinco minutos.
Desta maneira, o texto nunca
realmente aproveita as possibilidades criativas, cômicas ou narrativas da
própria premissa e mal consegue cumprir a promessa de múltiplas variações do
mesmo evento, falhando em fazer essas ideias soarem interessantes. A situação
principal em si falha em convencer como um elemento das forças do destino sobre
nossa vida, afinal, se alguém quer sentar mais próximo de outra pessoa porquê
não pedir para mudar de lugar? Bastava dar uma desculpa qualquer, principalmente
quando, no caso de Jack, se é o irmão da noiva e uma das pessoas organizando a
festa.
Os personagens são uma coleção de
clichês de comédias românticas, a ex megera, o ex stalker, o melhor amigo atrapalhado e por aí vai. A
unidimensionalidade dos personagens é ressaltada pelo humor repetitivo que o
filme constrói ao redor dele, com cada um repetindo as mesmas piadas ao longo
de toda a duração. Chaz (Allan Mustafa), o namorado de Amanda, passa o filme
inteiro fazendo as mesmas piadas de pênis e tentando comparar sua performance
sexual a de Jack. São piadas que não são engraçadas ou criativas da primeira
vez que ouvimos e a repetição não faz nenhum favor a elas. Sim, Claflin e Munn
são atores carismáticos que tem uma química boa o suficiente juntos que nos faz
torcer para o eventual enlace do casal, mas o texto não os dá muito com o que
trabalhar além de algumas piadas rasteiras e situações óbvias.
A ideia de que há um “verdadeiro”
ou “melhor” final como diz a narração, de certa forma vai contra a ideia de
explorar múltiplas possibilidades de eventos. Filmes como os já citados Corra Lola, Corra ou De Caso com o Acaso nunca nos dizem de
maneira tão explícita qual é o “final certo”, deixando a cargo do público qual
“versão” eles preferem, o que é mais coerente com a ideia de múltiplas
realidades paralelas.
Afinal, se há um “jeito certo” de
contar a história, porque gastar quase cinquenta minutos do nosso tempo
contando a “errada”? Se mais da metade da duração é gasta com um monte de
evento que não importam talvez tivesse sido melhor reduzir a duração desses
eventos. Se a trama trabalha com basicamente duas versões do mesmo evento,
talvez tivesse sido melhor que a montagem alternasse entre essas diferentes
versões ao invés de colocar uma depois da outra.
A própria ideia de que o desfecho
que vemos ao final do filme ser o “final bom” também é relativamente
questionável. Por mais que as coisas deem certo para Jack e Dina, que outros
personagens também consigam o que querem, nem todos os resultados são exatamente
positivos. Principalmente em relação a Hayley, cuja ideia de “final bom” reside
em entrar em um casamento baseado em mentiras ao ocultar certas verdades de seu
marido, ao invés de conversar com ele sobre suas próprias ações.
Um Amor, Mil Casamentos não consegue fazer jus a uma premissa que
poderia até render algo interessante, preferindo recorrer a clichês e um humor
repetitivo ao invés de explorar criativamente as possibilidades que propõe.
Nota: 3/10
Trailer
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