sexta-feira, 10 de abril de 2020

Lixo Extraordinário – Tubarão 4: A Vingança


Crítica - Tubarão 4: A Vingança


Review Crítica - Tubarão 4: A VingançaApesar de ter visto Tubarão (1975) inúmeras vezes, nunca tive interesse em ver nenhuma das muitas continuações que o filme recebeu, nenhuma delas contando com a direção de Steven Spielberg, que comandou o original. Nos últimos anos, no entanto, comecei a ver Tubarão 4: A Vingança aparecendo em muitas listas de piores filmes de todos os tempos, inclusive no infame ranking dos 100 filmes com notas mais baixas no IMDb, então isso ativou minha curiosidade mórbida e achei que poderia ser uma boa pauta para essa coluna. Fui assistir sem ver qualquer outra das continuações, então se há algum detalhe ou referência ao segundo ou terceiro filme, não sei dizer.

Na trama, Ellen Brody (Lorraine Gary), a viúva do xerife Brody (Roy Scheider), protagonista do primeiro filme, começa a ter sonhos envolvendo um tubarão e teoriza que um tubarão está vindo para atacar ela e os filhos como vingança por Brody ter matado o tubarão do primeiro filme. O sentimento dela ganha força quando o filho mais novo é morto por um tubarão ao realizar reparos marítimos na costa de sua cidade. Ellen então avisa o filho mais velho, que trabalha nas Bahamas como biólogo marinho, para ter cuidado e viaja até a morada do filho para ficar de olho nele. Logicamente, um tubarão, o mesmo que teria matado o filho mais novo, aparece nas Bahamas.

Poderia render até uma boa trama sobre trauma, sobre a impossibilidade de desapegar de um medo ou paranoia causado por uma situação traumática se houvesse uma reviravolta que mostrasse que o primeiro filho dela não morreu de um ataque de tubarão ou qualquer coisa assim que fizesse Ellen entender que se entregava a um temor sem sentido. Do jeito que está, no entanto, como uma trama de vingança de tubarão, o filme é bem estúpido. Afinal, tubarões são animais irracionais, que agem por instinto e vingança é um construto relativamente humano. Mais que isso, como essa vingança aconteceria? O tubarão desse filme é um parente (filho, irmão, sobrinho) do animal do primeiro filme? Como ele sabe quem matou o parente dele e onde estão todos os membros da família Brody? Porque essa vingança demora tantos anos?

São muitas perguntas e nenhuma delas faz muito sentido. Além disso o filme é desprovido de tensão, suspense ou qualquer ritmo de progressão narrativa, encadeando cenas aleatórias das pesquisas marinhas de Michael Brody (Lance Guest), com Ellen vagando por festas e cassinos das Bahamas enquanto paquera o piloto Hoagie (Michael Caine, que inexplicavelmente está nessa bomba). Os pouquíssimos momentos em que algum resquício de tensão é encontrada acontece nos momentos em que o tema musical de John Williams para o filme original é utilizado. Ainda assim o efeito acontece mais pela memória afetiva do primeiro filme que a canção convoca, já que aqui, ao invés dos planos longos e da dilatação do tempo e da tensão feita por Spielberg, o filme investe em sustos súbitos bobos.

Não ajuda que o tubarão pareça um grande brinquedo de borracha barata. Apesar de ter sido feito mais de uma década depois do filme do Spielberg, o tubarão desse quarto filme parece muito mais tosco do que o do primeiro. As cenas de ataque do tubarão, como quando a criatura quase devora Hoagie na cena em que o piloto pouca seu avião na água, são tão absurdas e exageradas que mais produzem risos do que medo ou suspense, principalmente quando o tubarão inexplicavelmente começa a rugir como um leão durante o clímax. Na verdade, Tubarão 4: A Vingança mais parece uma paródia de Tubarão (1975) do que um filme que faz parte do mesmo universo dele.


Trailer

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