Contando uma pitoresca história
real, é difícil não olhar para este Má
Educação e não pensar em filmes dos irmãos Coen como Fargo (1996) por conta de como decisões estúpidas sem entender o
que acontece se transformam em uma bola de neve de burrice que devastam tudo ao
redor. Também lembram as tramas de filmes como Bernie: Quase um Anjo (2011) ou O Rei da Polca (2017), ambos sobre sujeitos aparentemente boa-praça que se
envolvem em esquemas criminosos de apropriação indevida de dinheiro.
A trama acompanha Frank (Hugh
Jackman), superintendente de um distrito de escolas públicas em Nova Jersey.
Sob a tutela de Frank, as escolas de seu distrito começam a se tornar as
melhores do país. Aos poucos, escândalos envolvendo desvio de dinheiro em seu
departamento começam a aparecer e conforme a trama desses crimes começa a ser
puxada, tudo aponta para o aparentemente simpático e inofensivo Frank.
A maneira como tudo se desenvolve
é tão absurda que mostra como a realidade pode ser mais bizarra que qualquer
ficção, nas quais atitudes estúpidas de pessoas envolvidas no esquema de desvio
chamam atenção das autoridades e todos começam a olhar as contas do distrito
escolar. Tudo isso envolvendo funcionárias que usam o cartão corporativo de
maneira irresponsável e uma repórter do jornal de uma das escolas, Rachel
(Geraldine Viswanathan) investigando as finanças do distrito mais do que
deveria Frank percebe as paredes desmoronando ao seu redor e tenta se proteger
a todo custo das acusações.
Hugh Jackman é ótimo como Frank,
usando seu magnetismo pessoal para nos vender a ideia de que seu
superintendente é um sujeito gentil, boa-praça, preocupado com o sucesso de sua
escola e fundamentalmente inofensivo. Jackman também demonstra muito bem a
faceta mais ardilosa de Frank, como no modo em que ele sugere estar ciente que
uma de suas funcionárias também usou os cartões corporativos em benefício
próprio ao elogiar uma joia cara que ela está usando, deixando claro que pode
implicá-la nos crimes se for denunciado. Frank é também um sujeito bastante
inseguro e um homossexual enrustido, que mantem em segredo seus amantes
enquanto conta para todos que é um viúvo enlutado que não superou a morte da
esposa.
É um personagem bem diferente dos
galãs e heróis de ação que o grande público está acostumado a ver Jackman
fazendo. Sim, ele já tinha interpretado um protagonista gay na peça de teatro The Boy From Oz, mas essa é provavelmente
a primeira vez que a audiência mais mainstream
o vê interpretar alguém tão distante do que estão acostumados a ver o ator
fazer. Jackman mostra aqui sua versatilidade ao fazer de Frank um personagem
complexo, alguém claramente competente no que faz, capaz de atrair a simpatia
de todos ao seu redor e, ao mesmo tempo, um sujeito profundamente inseguro,
ardiloso, mentiroso e manipulador.
Por outro lado, o texto nunca
consegue dar uma motivação consistente para os crimes de Frank. Se em outros
filmes que contam esse tipo de história conseguimos entender o que move esses
sujeitos a recorrer ao crime, aqui nunca fica claro. No discurso sobre dirigir
com um bloco de cimento no parachoque, Frank dá a entender que é dessa forma
por se sentir estagnado, no entanto a carreira dele está em franca ascensão com
o sucesso das escolas e ele é admirado e respeitado por todos. É possível que o
fato dele esconder a sexualidade e financiar essa “vida secreta” tenha
funcionado como um motivo, mas a trama nunca constrói a ideia ou a impressão de
que ele obrigatoriamente precisava ficar no armário para conseguir manter a
carreira, então esse aspecto também não consegue convencer plenamente enquanto
motivação criminal.
Ainda assim, Má Educação envolve pela insólita trama real que narra e pelo ótimo
trabalho de Hugh Jackman.
Nota: 7/10
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