quinta-feira, 28 de maio de 2020

Crítica – O Estranho que Nós Amamos



Análise Crítica – O Estranho que Nós Amamos

Review – O Estranho que Nós AmamosDirigido por Sofia Coppola, este O Estranho que Nós Amamos é uma nova adaptação de um filme de mesmo nome lançado em 1971, que era baseado em um romance escrito por Thomas P. Cullinan. Não vi o original nem li o livro, então não sei dizer até que ponto essa versão da Sofia se aproxima ou se afasta. De todo modo, o que Sofia Coppola constrói aqui é uma competente metáfora para as relações entre masculino e feminino.

A trama se passa no período da guerra civil dos Estados Unidos e é centrada em um pequeno colégio interno para mulheres liderado por Miss Martha (Nicole Kidman). Um dia um soldado do norte, John McBurney (Colin Farrell), é encontrado ferido na floresta próxima ao casarão em que todas vivem. O soldado é levado para dentro da casa, onde Martha e as demais mulheres que ali habitam se comprometem a cuidar dos ferimentos dele. Aos poucos, algumas mulheres da casa vão se envolvendo com o soldado, o que começa a gerar problemas e ciúmes entre as garotas.

Poderia ser uma trama sobre rivalidade feminina e como todas as mulheres fazem de tudo para agarrar um homem, mas nas mãos de Sofia Coppola, o material acaba sendo virado ao avesso. O que a diretora faz é usar essa trama para falar de como a sociedade tem uma estrutura patriarcal, na qual as mulheres, mesmo em maior número, se preocupam mais em agradar um homem do que a si mesmas.

Mais que isso, mostra como um homem não tem qualquer problema em fomentar a rivalidade entre as mulheres para mantê-las ocupadas brigando entre si e continuar no controle da situação sem que elas percebam. Afinal, conforme vai se recuperando, fica evidente que John não quer voltar para guerra e sim viver confortavelmente com aquele grupo de mulheres o servindo.

Como muitos outros filmes de Sofia Coppola, a trama progride sem pressa, construindo de maneira naturalista o tédio do modo de vida daquelas pessoas e os significados que emergiam das pequenas coisas. Essa construção também se mostra nas escolhas de fotografia e iluminação, já que o filme opta pelo uso de luz natural que ressalta ainda mais a escuridão dos espaços internos, dando aos cenários um ar de “gótico caipira”. Muito da tensão na primeira metade do filme vem de sutis trocas de olhares entre John e algumas mulheres do internato, como a professora Edwina (Kirsten Dunst), Miss Martha ou Alicia (Elle Fanning). Também percebemos diálogos como sutis trocas de farpas entre as mulheres conforme comentam de maneira passivo-agressiva a escolha de roupa ou a comida feita pela outra.

Claro que eventualmente as tensões explodem e as coisas começam a dar errado e aí o filme usa essas reviravoltas para mostrar a outra face do patriarcalismo de John. Se antes ele parecia um homem romântico e gentil (embora claramente um soldado covarde) enquanto as mulheres da casa faziam tudo que ele queria, assim que as coisas não ficam como ele quer o soldado passa a agir com violência. Isso evidencia como o verniz de civilidade anterior era apenas uma estratégia para ele conseguir o que queria delas, abandonando isso a partir do momento que não funciona. Também mostra como John as via meramente como servas a serem convocadas ao seu bel prazer e que nada assusta um homem mais do que ficar dependente de mulheres.

Com uma direção sutil de Sofia Coppola, O Estranho que Nós Amamos é um drama de tensões crescentes e uma pitada de humor sombrio.

Nota: 8/10


Trailer

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