Quantico iniciou com uma ótima primeira temporada, permeada com
personagens complexos e um bom ritmo no manejo da intriga e da tensão apesar da
longa quantidade de episódios. A segunda temporada oferecia mais do mesmo,
conseguindo se manter competente ainda que já mostrasse que ficar repetindo a
mesma estrutura narrativa podia fazer a série se perder. Pois a terceira e
última temporada até tenta se reinventar, o problema é que não faz nada de
interessante, preferindo se reduzir a um procedural
genérico. Aviso que o texto a seguir contem SPOILERS da temporada final.
Depois dos eventos da temporada
anterior, Alex (Priyanka Chopra) vive escondida no interior Itália,
reconstruindo a vida ao lado do fazendeiro Andrea (Andrea Bosca) e da filha
dele. Quando Alex é encontrada por uma terrorista internacional que busca os
códigos secretos que ela escondeu, a ex-agente precisa novamente se aliar a
Ryan (Jake McLoughlin) e Owen (Blair Underwood) para resolver a questão. Ao
final da missão eles decidem se reunir e montar uma equipe secreta do FBI para
lidar com os casos mais complicados.
Se as temporadas anteriores
sempre tinham grandes arcos ao longo de toda temporada que envolviam os
personagens tentando desbaratar uma grande conspiração, aqui é uma estrutura
mais autocontida de “casos da semana”, com histórias que se encerram dentro de
um episódio. Em si isso não seria problemático se ao menos os casos fossem
interessantes ou envolventes, mas isso não acontece, criando tramas genéricas
como proteger uma testemunha contra um cartel mexicano, proteger um governante
estrangeiro, encontrar o responsável por um ataque biológico e coisas assim.
Não ajuda que os novos membros da
equipe não tem muito a fazer, nem são exatamente desenvolvidos, sendo mais
dispositivos de roteiro do que sujeitos plenamente realizados. Celine (Amber
Skye Noyes) não tem qualquer outra função além de morrer para tentar criar
drama entre o resto da equipe. Mike McQuigg (Alan Powell) praticamente só
existe para ser mais um vetor no polígono amoroso envolvendo Alex, Ryan e
Shelby (Johanna Braddy). Deep (Vandit Bhatt) é o gênio tecnológico genérico e
daí por diante. Só quem se salva entre os novatos é Jocelyn (Marlee Matlin),
uma agente que ficou surda depois de uma explosão durante uma missão que deu
errado e tenta purgar os erros do passado.
Mesmo entre os personagens
veteranos, a série não encontra muito o que fazer com eles além de investir nos
conflitos afetivos de Alex ou Ryan. Claro, Priyanka Chopra ainda tem um carisma
enorme e uma presença magnética, impedindo que Alex se torne entediante, mas
nos anos anteriores a atriz teve um material melhor para trabalhar. Era de se
imaginar que a pequena duração de episódios fosse render algo mais conciso, como aconteceu com a temporada final de Person of Interest, com
uma visão clara da história que quer contar, mas isso não acontece. A série
parece perdida, sem saber o que quer ser.
Se as temporadas anteriores
usaram as tramas de conspiração para falar das forças autoritárias que existiam
dentro dos próprios EUA, aqui parece não ter nada de muito específico a dizer.
Muitos eventos também acontecem rápido demais, sem que haja tempo para
repercutir adequadamente ou de dar a eles o devido peso dramático. Mal
descobrimos que Alex está grávida e rapidamente ela já perde o bebê, por
exemplo.
A temporada só encontra uma trama
por volta de seus últimos quatro episódios, quando a equipe se torna alvo da
vingança do gângster e ex-terrorista irlandês Conor Devlin (Timothy V. Murphy).
Murphy consegue dar a Devlin uma presença ameaçadora e ardilosa, que parece
estar sempre a frente dos protagonistas. A questão é que apesar de Murphy criar
um antagonista convincente, Devlin soa como um vilão muito pequeno
para ser a ameaça derradeira um grupo de personagens que já desmontou grandes
conspirações internacionais encabeçadas por pessoas dentro de governos e com
muito mais poder ou autoridade.
Ainda assim, é durante o arco de
Devlin que a temporada consegue construir seus melhores momentos, em especial o
décimo episódio em que a equipe e seus familiares se refugiam na mansão de Shelby
para se protegerem da vingança da Devlin. O episódio não só oferece uma
sensação crescente de tensão como ajuda a mostrar mais das relações familiares
dos personagens, dando um pouco mais de nuance a eles. O arco de Devlin também
entrega algumas boas reviravoltas, como a identidade do informante do criminoso
ou a decisão de Devlin em relação ao próprio irmão. O vilão, porém, é despachado
de uma maneira razoavelmente anticlimática considerando o tanto de trabalho que
deu a Alex e os demais.
O desfecho de Alex também não
funciona completamente. Eu entendo o que os criadores tentaram fazer e como se
conecta, de certa forma, com a jornada dela ao longo da temporada, de sua
conexão com Andrea à gravidez interrompida, mas é difícil acreditar que ela
simplesmente ficaria com a guarda de Isabella e tudo ficaria bem. Afinal a
própria trama nos informa que Andrea tinha família e é difícil crer que os
irmãos do italiano iam simplesmente aceitar que a mulher que foi indiretamente
responsável pela morte dele simplesmente leve a filha do agricultor para outro
país e a crie longe do restante da família. Do modo como o final é apresentado
a nós, soa menos como um “final feliz” e mais como Alex dando início a um
incidente internacional.
É uma pena que Quantico, uma série que começou tão boa
encontre um desfecho tão morno. Com uma temporada que não consegue encontrar
uma nova identidade para a série e arcos desinteressantes, seu ano final está a
léguas de distância da qualidade de seu ano de estreia.
Nota: 5/10
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